sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Ano novo.

E o ano acabou. Mas vem aí um ano novo, ou nem tão novo assim. Digo isso porque se pararmos para pensar, embora os consideremos "novos", eles tem diversas repetições.
Nos termos esportivos, o Campeonato Paulista será vencido por um dos quatro grandes, o Carioca provavelmente terá uma final entre os grandes e, obviamente, vencida por um também. O Gaúcho será vencido por um time da dupla Gre-Nal e o Mineiro também será vencido por um grande (isso apenas se você considerar o Atlético grande). E o Campeonato Brasileiro será "um dos campeonatos mais disputados do mundo", mas não por causa de um altíssimo nível técnico, e sim porque os candidatos ao título perderão muitos pontos bobos em jogos considerados fáceis. A seleção masculina de Vôlei vencerá tudo. Já a feminina, elas irão bem, mas perderão um título no Tie-Break ou algo parecido. Todos acreditarão na volta daquele Basquetebol da época de Oscar, Hortência e outros, mas perderemos novamente. Já as seleções de Handebol ganharão tudo na América e perderão tudo fora dela.
Quanto ao entretenimento, teremos mais do mesmo. As pessoas assistirão o Big Brother, embora ele seja completamente repetitivo. Big Brother esse que baterá os recordes de ligações nas votações. As pessoas falarão que o humor brasileiro está uma droga, que apenas um ou dois programas salvam-se, apesar de continuarem assistindo todos os programas. Na música surgirá outra moda adolescente que será criticada por muitas pessoas e adorada por mais pessoas ainda. As novelas da tão repudiada e, ainda assim, líder de audiência Globo serão repetitivas. A das 6 será uma novela de época totalmente piegas, a das 7 tentará ser engraçada, mas ficará apenas na tentativa, já a das 8 buscará, de um modo falho, abordar assuntos sociais. Na novela das 8 também haverá um assassinato, e todos perguntar-se-ão "Quem matou fulano?".
Agora: as notícias. São Paulo baterá recordes e mais recordes de congestionamento. Haverão problemas com o crime no Rio de Janeiro. Ocorrerão tragédias do tipo "Caso 'nome da pessoa' ", aquelas em que todos ficam abalados e não conseguem acreditar nem imaginar como um pai/marido consegue fazer tal atrocidade com o próprio filho/esposa e vice-versa. Mas também tem os desastres naturais como: desabamentos, enchentes, ciclones, tsunamis, terremotos, epidemias, pandemias etc. A economia mundial terá lá seus probleminhas, assim como a política, com alguns atritos entre alguns países.
A China apenas crescerá, já as Coreias continuarão a se odiar. A política interna brasileira não terá mudanças drásticas, com mais casos de corrupção, tráfico de influência e nepotismo.
Por fim, um Feliz Ano "Novo", mesmo eu nem lembrando de que ano que estou a falar.

Ano novo.

O ano estava acabando, e enquanto ele partia, um novo chegava. "Ano novo, vida nova" ele dizia assim como todos. O ano novo sempre trazia essa sensação, essa renovação. "Esse será o meu ano" ele pensava, todo ano. Mal podia esperar, o ano estava para chegar, o ano novo vinha mudar tudo de novo.
10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1!
E assim que o relógio acusou 00:00, assim que a última página do calendário caiu, assim que o ano velho ficou p'ra trás e do horizonte distante o ano novo surgiu, sua vida começou a mudar: os problemas que tinha com seus pais foram se resolvendo, suas notas na faculdade passaram a melhorar, conseguiu arranjar uma namorada, começou a trabalhar n'um lugar melhor. Sua vida melhorou no instante que o primeiro segundo do novo ano passou, ele não fez nada, não precisou fazer nada. Só por ser um novo ano, sua vida já melhorou, só porque o ano passado ficou p'ra trás, os problemas foram junto.
Ano novo, vida nova.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Existência.

Não penso, logo existo.
Penso, logo faço tudo, menos existir.
Penso, logo sou tudo, menos natural.
Afinal, o que mais natural
Que simplesmente existir?
Sem pensar em mim,
Ou na existência.
As flôres e as árvores existem,
Mas não pensam.
Elas são uma com a Natureza,
Que também não pensa.
Elas existem e eis tudo.

Pois só vivo e existo.
Não penso ou filosófo.
Só vivo a vida,
Existo a existência.
E deixo os pensamentos,
As reflexões,
Para quem insiste em pensar
E se preocupar
E esquece de existir.

Existência.

Eu sei que existo.
Eu sei o que sou...
Sei que sou tudo que fiz.
Não sei se lembrarão de mim
Mas lembrarão do que escrevi
Lembrarão do que sonhei.

Talvez eu não exista
Talvez exista só em sua imaginação
Mas sei o que sou...
Sou feito de decepção, choro e agonia
Sou feito de êxito, sorriso e alegria
Sou feito de tudo que posso ter vivido.

É, de fato eu não existo.
Meus poemas não foram reais
Meus amores foram platónicos
Meus sonhos inalcançáveis.
Minha única certeza foi minha inexistência
Porém, eu poderia ter sido...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Véspera de Natal

E, bem, já é Natal de novo. Eu sempre fui bastante infantiloide, mesmo quando descobri que muita gente não acredita no Papai Noel continuei a semear essa ideia em mim. Sempre adorei o Natal, sempre fui bastante adorador das crenças e dos sentimentos dessa época do ano.
Seguindo a ideia de crer em Papai Noel, busquei sempre ser um bom menino para que o velhinho não me desse carvão no lugar do que pedi.
Mas tudo isso mudou um dia, toda essa minha veneração pelo Papai Noel sofreu um abalo certo dia. Era véspera de Natal, eu já tinha por volta de uns quinze anos, já devia até ter deixado essa crença para trás, mas ainda a cultivava. Pois bem, estavam todos felizes, luzes brilhavam por todos lados, pessoas vestiam-se tal como o bom velhinho, sempre com o característico gorro vermelho no topo da cabeça. Veio então a ceia, todos comendo o de sempre, aquelas piadas típicas sendo lançadas, mas eu não me importava, o que mais esperava era a meia-noite, eu só queria ouvir o relógio bater para abrir meu presente. Estava crente de que seria o que pedi, não havia como não ser, eu não tinha sido um bom menino, eu havia sido um excelente menino, tirei notas azuis o ano todo, fui sempre educado e respeitei a todos como iguais, é claro que não fiz tudo isso pensando apenas em ser um bom garoto, eu o fiz focado em apenas uma coisa, no que tanto pedi para Noel em minha carta. Atravessei portanto a noite toda, pouco me importando se era Chester, Peru ou qualquer outra coisa, pouco me importando com a sobremesa ou com a entrada, tudo que eu ansiava era por aquilo que eu pedi.
Depois de toda aquela sofrida espera, soaram as doze badaladas, era, enfim, meia-noite. Todos correram para abrir os embrulhos e as caixas. Fui como um predador que ataca a sua presa àquele que continha o papel escrito "Para: Lucas". Peguei o embrulho, à primeira vista podia muito bem ser o que eu pedira. Era uma pequenina caixa azul com um laço vermelho em cima. Abri-a finalmente, mas para minha tristeza, não era o que eu tanto queria. Não, não era teu coração. Mesmo tendo implorado para o Papai Noel por teu amor, hoje não és minha.

Véspera de Natal.

Eu sei que já é véspera de Natal, e que eu estou te escrevendo um pouco tarde... mas eu só notei que queria isso agora. Espero que eu possa ser atendido. O que eu quero esse Natal não é nada caro ou grandioso, só queria que as pessoas acreditassem mais em mim. Queria que as pessoas confiassem em mim. Precisassem de mim. Ao decorrer dos anos, sinto que ninguém mais sente a minha falta, dizem que tudo que eu digo é mentira, e até fingem que eu não existo mais. Eu não entendo isso, antes as pessoas gostavam de mim, eu não mudei, mas elas sim. É fácil colocar a culpa nos outros, mas não é esse o caso, eu continuo o mesmo... estou aqui p'ra quem precisar, porém não sei se alguém realmente precisa. Eles falam que não, falam para seus amigos que não sou necessário, que sou falso, como eu disse, que não existo. É tão estranho alguém que esperava tanto para me ver até alguns anos atrás, hoje nem liga para a minha vinda. É tão triste saber que não trago mais alegria às casas que vou, aos lugares que frequento. Claro que eu não estou sozinho, ainda tenho minha amada e alguns amigos que me ajudam sempre, também há quem acredite em mim, confia em mim... só que eu sinto que a cada ano que passa as pessoas não me querem mais aqui, talvez sejam os tempos, seja a idade, mas é isso.
Nesse Natal, eu só queria que acreditassem mais em mim, que minha alegria contagiasse os outros. Queria poder fazer todo mundo sorrir como já fiz uma vez.

Obrigado, Mundo.

Ass: Papai Noel.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Poema da flor.

N'um triste e cinza jardim,
vejo uma flôr manhosa.
"Nunca vi uma flôr assim!
É mais bela que uma rosa."
Digo surpreso.
"E tão perfumada quanto uma violeta.
Será que posso levá-la para casa?"
"Por que não tentas?"
"Oh! Você fala! Não me diga."
"Falo sim, mas são só palavras...
sou frágil como uma margarida."

E todos os dias encontravamo-nos lá,
e perdiamos horas a conversar.
Com seu brilho ela me fez seu girassol.
Só queria saber dela, esqueci dos amigos e do futebol.

Um dia eu finalmente fiz a pergunta que tanto me atiçou:
"Responda-me algo, que flôr tu és, pequenina?"
"Oh! Que flôr sou?
Oras, flôr nenhuma... sou apenas uma menina."

Poema da flor.

Querida, acaba com essa dor
Volta para encher minha vida de alegria
.
Mas não voltarás, não és mais minha
Foste brotar em outro jardim.
Vai então, minha flor
Florescer em outro coração.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Meio-dia.

Badalaram as doze batidas no meu coração. Porém, dessa vez eu não precisava correr. Dessa vez eu fiquei, fiquei e contemplei tua beleza. Contemplei você, você que era meu meio-dia, que era tão calorosa comigo, que trazia tanta luz, tal como o meio-dia.
É, querida, você era o meio-dia, e o dia era minha vida. Aquele dia que era até então pacato e um pouco frio ganhou luz, ganhou calor que aqueceria meu coração a partir daquela hora. Você foi meu meio-dia, a hora divisora entre meu dia e minha tarde, entre aquele Lucas infante, inocente e ingénuo e esse outro Lucas, quase-adulto, maduro e mais sábio.
E é por isso que eu tinha medo do escuro, por isso que não queria mais o frio, desejava apenas o calor do sol das doze horas, queria a tua luz, querida.
Mas mesmo assim anoiteceu.

Meio-dia.

Bateu meio-dia e eu ainda não comecei escrever. Faz meia-hora que olho para a folha em branco. Estamos no meio da semana e nem comecei a arrumar meu quarto. Chegou o meio do mês e não continuei a dieta. Já é o meio do semestree não iniciei os estudos. É o meio do ano e ainda não arrumei um emprego. No meio da década! Não saí do lugar. Estou no meio da minha vida... e não comecei a viver.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Meia-noite

00:00 acusa o relógio.
E eu poderia fazer um desejo,
dizer o que quero...
Para ser bem sincero,
só peço tranquilidade.
Paz, na verdade.
Pois meia-noite é hora de descanso,
eu estou cansado, mas o mundo não fica manso.
Então eu aproveito o ensejo e danço.
Com isso, meu pedido eu alcanço.
Afinal, à luz do luar,
quando começo a dançar,
não sobra espaço para o ódio.

Meia-noite

Badalaram as doze batidas
Eu não era Cinderela
Mas era chegada a hora da partida
Era chegada a meia-noite, hora de mazela.

Passei apenas meia noite contigo
Que tirou meu sono por mais outras mil
Teu amor tornou-se meu castigo
E aquela noite, tão inverossímil.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Pinóquio da vida real.

Então ela perguntou, cheia de insegurança.
-Dize-me, mesmo depois de todo esse tempo, depois de todo mal que te fiz, ainda me amas?
-Não. Não te amo mais, e fico triste ao pensar que posso nunca mais te amar, que posso nunca mais amar a ninguém. - respondeu o garoto, estoico para a maioria, mas ela sabia muito bem que por dentro ele chorava.
-Jura? Não ama-me mesmo? - perguntou mais uma vez a garota, mais insegura do que no primeiro questionamento.
-Juro. Eu perdi todo esse amor. Toda aquela alegria que tomava conta de mim quando eu te via foi embora, e a culpada é você.
-Não, não podes estar dizendo a verdade, tens de estar mentindo! - a garota já estava praticamente a gritar, tamanho o desespero de estar perdendo-o - Éramos tão apaixonados, dizias coisas tão lindas para mim, escrevias poemas tão belos tendo a mim como musa. Não! Não podes estar dizendo a verdade, estás mentindo, não vás, por favor, amor...
Essas últimas palavras foram pronunciadas com a garota já em prantos enquanto se ia debruçando-se e caindo aos pés do amado, tentando segurá-lo ali, tentando evitar a já iminente partida de seu amor.
Mesmo com todo o esforço da menina o garoto foi embora, mas aquelas últimas palavras ecoavam em sua cabeça "estás mentindo".
Seu nariz não havia crescido, mas ela sentiu que ele mentia. De fato, aquela garota o conhecia melhor que qualquer outra, mas ele tinha de ir embora...

Pinóquio da vida real.

Eu conheço um garoto que é chamado de Pinóquio. E, sim, é porque ele mente. Ele vive mentindo, ele mente sempre, com tudo. Mas ele mente tão bem, mas tão bem, que muitos não sabem a verdade que ele guarda.
Pinóquio não é feito de madeira, mas é oco, vazio por dentro. E isso as pessoas não sabem. "Eu estou bem", "não foi nada", "estou feliz", essas são as maiores mentiras que ele conta, mas ninguém nota. Quando Pinóquio mente, seu nariz não cresce, pois não estamos n'um conto de fadas. O que cresce em Pinóquio sempre que ele falta com a verdade é a dor e o sofrimento em seu coração. Seu sorriso? Uma mentira. Seus dias felizes? Falsos. Sua confiança? Inverossímil.
Como eu disse, não estamos n'um conta de fadas, é a vida real. E Pinóquio sabe muito bem que não há uma fada que o ajudará a se tornar um garoto de verdade - ou alguém feliz de verdade, no caso dele-, sabe que não há um grilo falante para o ajudar, e sabe que quando Gepeto foi engolido pela baleia, - ou levou um tiro - ele não sobreviveu para ser salvo por Pinóquio.
Enfim, essa é a história - e não estória - de nosso Pinóquio. Não é nenhuma fábula, não preciso de palavras rebuscadas e tramas bem construídas, pois a vida real é assim, nua e crua. Não estamos n'um conto de fadas, e sim n'um conto de farsas.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Memorial de memórias vivíssimas.

Um coração partido.
Um coração decidido.
Uma má primeira impressão
Contramão,
implicância e insistência.
Segunda chance.
Carência.
Uma pitada de indecência.
Você xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx eu.
Implicância.
"Julieta" --------------------------------------------------------------- "Romeu".
Amor à distância.
Briga, amor, briga, amor, briga, briga, amor, amor, amor, amor, brigamor, brigamor, amor.
Você me liga. _________ Amor. ___________________ Briga.
Confusão e poema sem rima.
Cartas não enviadas.
História interminada.
Nem eu sei o que nós temos,
talvez só compartilhemos
de vivíssimas memórias.
Fragmentos de vitórias.

Memorial de memórias vivíssimas.

Éramos tão jovens e também tão orgulhosos de nós mesmos
Nos achávamos tão superiores aos outros, e talvez fôssemos.
Eras tão bela e também tão sábia, minha querida
Não exatamente com números e figuras de linguagem, mas com a vida.
Não gostavas muito das ciências
Mas meu coração tu ouvias.

Não era fã das pieguices românticas que todo mundo dizia
Mas com meus versos teu coração se derretia.
Foste a maior musicista que já existiu em meu mundo
Quando eu ouvia teus acordes, o universo parava por um segundo.
Quem te via passar sabia que tinhas algo de diferente
Tinhas a mim, o que bastava para ficares contente.

Mas hoje já não me tem mais
O que basta para acabar minha paz.
Acabamos, minha flor, eu bem sei
Já tu, não sabes quantas lágrimas derramei.
Partiste, ó flor, e deixaste apenas tristeza e algumas vivíssimas memórias
Que em minhas obras contarei, disfarçadas de ficcionais histórias.

Ó, minha flor, por certo foste diferente
Me amaste, coisa inédita em minha vida
Adeus, ó flor.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Na chuva.

Se alguém estivesse naquela rua paulistana uma hora antes, jamais imaginaria o que viria a acontecer um tempo depois. Estava ensolarado, fazia um calor que para alguns seria até irritante. Todos estavam alegres, embora o calor enchesse-os de fadiga ainda havia espaço para diversão.
Passou-se finalmente a tal hora e chegou um rapaz extremamente melancólico. Tinha o semblante soturno, era claramente uma pessoa miserável e parecia ser circundado por tempestades, por uma chuva.
E ficava aí o garoto na chuva (ou sob a chuva, dependerá apenas do linguista), ninguém se importava com ele, ele não se importava com ninguém. Mas ele teimava em não sair dali, o garoto da chuva (ou o garoto que estava na chuva, dessa vez depende de qual preferires), uns diziam que ele devia esperar por alguém, por uma tal garota que deixou-o daquele jeito, por uma garota que deixou sua vida chuvosa, outros diziam que ele não tinha para onde ir. Não sei com qual das duas opções fico, visto que não sou um daqueles narradores oniscientes.
Semanas depois da chegada do chuvoso mancebo as pessoas do bairro resolveram que alguém deveria falar com ele, os comerciantes reclamavam que o constante aguaceiro repelia a freguesia, as mães temiam que suas crianças pegassem um resfriado se brincassem na rua e as crianças queriam apenas brincar na chuva. Depois de longas discussões elegeram um representante para ir falar com o pluvial moço, ou melhor, uma representante. Era uma garota de apenas 16 anos, de pele, cabelos e olhos de um lindo moreno mate, não parecia de muita liderança, todavia, ela sentia que havia algo nele, que ela poderia ajudá-lo.
-Oi. - disse a mocinha sem muita segurança - Oi? Moço? - e esperava o imóvel rapaz responder - Moço? Estás a me ouvir?
O rapaz reagiu, ficou com um semblante de dúvida e disse:
-"Estás"? Como assim um tratamento em segunda pessoa? Ninguém fala assim aqui. - enquanto ele falava era perceptível um sotaque lusitano.
-Ah, é que eu gosto destes modos mais rebuscados de falar e adoro Portugal. Falando nisso, notei em ti um sotaque lisbonense, és português?
-Sou sim.
-E outra coisa, por que choras?
-Sinto falta de algo.
-De uma rapariga?
-Não, de Lisboa, choro porque vim para essa cidade procurar uma outra vida e só encontrei tristeza. Mas logo logo eu paro de chorar, estarei de partida em um mês.
-Posso ir contigo? - disse a jovem cheia de esperança.
O resto eu não ouvi, só os vi indo embora, mas sem a chuva. Um amigo meu disse que os viu em Lisboa, às margens do Tejo. E o dia era belíssimo.

Na chuva.

Enquanto caminhava rumo ao trem, embaixo desse sol escaldante, é que ela veio. Forte e rápida a chuva caiu torrencial do céu. Um grupo se escondeu embaixo do guarda-chuva de um deles. Alguns outros protegeram-se com suas blusas ou com jornais. Boa parte correu da água. Um grupo que não tinha pressa se escondeu embaixo do viaduto, para esperar a chuva passar. Alguns praguejavam, outros calavam. Mas não vi ninguém, nem aqui nem ali, nem quem vinha nem quem ia, nem homens nem mulheres, adultos ou crianças; ninguém, além de mim, parou e sorriu para o céu. De braços abertos e olhos cerrados, sentindo a água me purificar, sentindo a paz me encharcar.
Na chuva, lá estava eu, sorrindo em paz, saboreando a calma.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Suicídio.

Pule do alto de um prédio,
não há melhor remédio.
Abra o gás e feche a janela,
passe seus últimos momentos pensando nela.
Prenda uma corda no pescoço e se enforque,
não que alguém se importe.
O quê? Quer um fim pior?
Sei d'uma morte lenta e dolorosa.
Você sofrerá muito mais.
Aceita? Quer saber?
O pior tipo de suicídio que pode fazer
é continuar vivendo.

Suicídio.

Tenho tendências suicidas
Devido ao meu intenso romantismo
Amor é suicídio, meus caros.

É suicídio quando nos automutilamos
Para ver se a dor física é maior que a emocional
Ou qualquer outro motivo clichê.

É suicídio quando nos afogamos
Em nossas próprias lágrimas
Vertidas por decepções juvenis.

É suicídio quando nos damos um ataque cardíaco
Ao vermos aquela pessoa que tanto amamos
Mas que em um ou dois meses esqueceremos.

É suicídio quando nos envenenamos
Com falsas esperanças
De amores já perdidos.

Amor é suicídio
Eis tudo
E eu sou um suicida.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A batalha pelo sorvete.

A guerra era intensa. Calda de chocolate voava por todos os lados. O número de feridos era imenso.
-Avante, tropas! - gritou o marechal Juquinha.
E partiram as tropas Juquinhenses. Rajadas de cobertura de morango eram atiradas, bananas-split de dinamite eram implantadas na base inimiga, tirando de ação sempre os mais rechonchudinhos, que paravam para comer.
Mas por outro lado havia a resistência, comandadas por Fabinho, um ex-coronel e agora rebelde (rebelou-se porque preferia sorvete de milho, e não de chocolate como Juquinha). Foram então ao ataque o pelotão de Fabinho, em menor número mas com mais fome. Arremessaram granadas de granulado no meio do batalhão inimigo, derrubando diversos garotos por causa de uma forte dor de dente.
Juquinha, que além de grande estrategista era bom no campo de batalha, pegou uma casquinha e atirou sorvete napolitano em grande parte dos soldados rebeldes. Mas foi enquanto atirava que caiu repentinamente. Havia sido apunhalado, quando olhou para trás viu Carlinhos, o menor da turma, atacando-o com um picolé, um picolé sabor milho ainda por cima.
-Meninos! O almoço está pronto! - gritou a mãe de Juquinha e Fabinho.
Então eles e seus amigos entraram, era um farto almoço, mas não se importavam com isso. O que mais esperavam era a sobremesa...

A batalha pelo sorvete.

Era um dia ensolarado e quente. O playground estava cheio de crianças em férias escolares brincando e gritando, enquanto suas mães os observavam.
O "Tio do sorvete" - como as crianças o chamavam- não conseguia 1 minuto de paz. A cada 5 segundos uma nova criança, geralmente acompanhada da mãe, aparecia pedindo um sorvete. E, embora o Tio não tivesse descanso, sempre as atendia com um sorriso no rosto. Até que um dos garotos mais conhecidos do bairro foi comprar um sorvete. Era chamado por todos por Juninho. Juninho era adorado pelos amigos, sempre compartilhava seus brinquedos e ajudava quem precisasse. Mas, mesmo sendo um bom garoto, não hesitava em apelar para a força contra os mal-feitores.
-Tiio, ô Tiiiiô! Me dá um sorvete de chocolate. Tá tão quente! - Pediu Juninho abrindo a boca pelo calor.
-Ah, Juninho, tá na mão! - Respondeu o Tio do sorvete balançando o bigode como sempre fazia.
-Tio, também quero um! - Disse alguém atrás de Juninho. Era Gustavo, o valentão do playground. Gustavo era grande para sua idade e, por isso, atormentava os garotos menores sempre que pudia. Ele e Juninho eram arquirrivais.
-Pode deixar, Guto. Dois de chocolate saindo! - Mas ao verificar seu carrinho de sorvete, o vendedor levantou-se com uma cara de quem comeu um picolé de jiló.
-Poxa, Gustavo, só tem um... e o Juninho chegou antes. - Disse com um ar desapontado.
-Não quero saber! Eu quero o sorvete! - Gustavo, urrou, ficando rosa como um leitão.
-Ei! Gustavo! Calma lá. - Falou o Tio ajeitando seu boné vermelho. -Se continuar assim, te bano do carrinho de sorvete. Se quiser, tem de morango, limão e uva. Toma o seu Juninho. - Disse o tio pegando o sorvete do garoto.
-Valeeeu, Tio. Toma a grana. - E entregou uma nota de 2 reais ao sorveteiro.
-Xii, Juninho, você foi na casa do teu primo ontem, né? Eu avisei pra turma que o sorvete agora tá 2,50...
-2,50?! - Exclamou Juninho. - Ai, segura o sorvete, Tio! Eu vou pegar o dinheiro e já volto. - E correu como uma flecha para casa. 10 segundos depois já voltava com um sorrisão no rosto e 50 centavos na mão.
-Aê, Tio. 2,50! - E entregou a moeda.
-Eeeei, agora o sorvete é meu! Você foi embora e voltou! Perdeu o lugar. - Disse Gustavo com ar de triunfo.
-O quê?! Deixa isso, Tio?! Eu já tinha comprado, só fui pegar o dinheiro! - Replicou Juninho raivoso.
-Vixi, e agora? - Respondeu o Tio coçando sua careca embaixo do boné.
-Já sei! - Disse Juninho com um brilho nos olhos. - Vamos fazer uma batalha pelo sorvete! Três provas, quem ganhar, leva o gelado!
-Cai dentro, Tampinha. - Disse Gustavo.
-Demorou, segura o meu sorvete aí, Tio. - E Juninho saiu correndo.
-O meu sorvete! - Gustavo falou enquanto ia atrás do menor.

Alguns minutos depois estavam os dois preparados para a primeira prova. Lado a lado na rua de baixo, onde aconteciam as corridas. Toda a galera estava torcendo por um ou por outro, até que Laroca jogou a pedra pro alto, quando ela caiu, os dois sairam correndo. No começo Gustavo tentou derrubar Juninho, mas o garoto era escorregadio e saiu por debaixo do maior. Deu a curva pela casa da Senhora Carvalho e perdeu Gustavo de vista. Na chegada, Gustavo chegou sem ar, enquanto Juninho comemorava sua vitória saltitando.
- Ah rá, uh ru. O sorvete é me-ú! - Dizia o garoto para todo mundo ouvir.
Gustavo não gostou nada disso. Mas sabia que a próxima prova era dele.
Eles foram para a caixa de areia, onde iriam fazer uma luta de sumô na areia, o primeiro a sair do círculo principal perdia. Juninho bem que tentou, de um lado e de outro, mas Gustavo não saia do lugar. Até que Gustavo deu um grito, pegou Juninho pela cintura e o mandou beeem longe.
- Uuuhm, já posso sentir o gosto do sorvete. - Disse o menino rindo.
Juninho apostava tudo na última prova.
Na prova final, os dois penduravam-se no macaquinho, o primeiro a soltar, perde. Juninho estava aguentando bem, pois era mais leve que Gustavo, mas Gustavo era mais forte e podia aguentar muito mais. Juninho, no finalzinho, fraquejou e soltou, um pouco depois Gustavo também desistiu, como Gustavo era maior, os pés dos dois tocaram o chão ao mesmo tempo. Laroca, que sempre gostava de organizar as coisas, acabou decidindo que foi empate!
-Empate? E de quem é o sorvete? - Disse Juninho.
-Bom... não sei! - Respondeu Gustavo confuso.
-Olha, não quero me intrometer, mas e se dividissem? -Disse Laroca querendo sim se intrometer.
-Ah, melhor que nada, né. - Juninho falou correndo para o carrinho de sorvete.
-Dividir? Pelo menos ainda tenho meio sorvete. - Respondeu Gustavo indo atrás do outro garoto.

Ao chegar no carrinho de sorvete, que surpresa os dois tiveram! Estava o Tio somente com um palito de picolé na mão e uma poça marrom no chão.
-Xiiii, vocês demoraram tanto pra se decidir, que acho que o sorvete derreteu!
E os três riram de toda essa batalha por um palito de sorvete.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Novembro

Novembro;
Dia de finados?
Não acho um dia tão animado...
proclamação da República?
A gente abdica.
Dia da bandeira?
Nem de brincadeira!
Em novembro,
pode até ser que esqueceu,
mas eu me lembro,
foi quando a gente se conheceu.

Confesso que não lembro ao certo
se foi dia 20 ou 21.
Só sei que desde esse dia,
não esqueci de ti em nenhum.

Por isso todo dia 31 de outubro eu choro
e dia 1º de dezembro? Adoro.
Pois são os 30 piores dias da minha vida.
30 dias que não tenho saída.
Por isso, o final de outubro eu amo.
e, no início de dezembro, reclamo.
É o único mês que me sinto feliz,
o mês que iniciou o que eu sempre quis.

Então, se fez questão de esquecer,
eu lembro:
tudo começou n'um dia de novembro.

Novembro.

Novembro marca o fim
Ao menos para mim.
Agosto é o nascimento
E outubro o começo do sofrimento.

Setembro não é de grande importância
Só o comemorava em minha infância.
Já agosto, tem outro gosto
Gosto bom, que lembra teu rosto.

Conheci a ti em um agosto de dias sombrios
No qual acabaste com todos meus desvarios.
Vivi contigo em um caloroso setembro
De dias alegres, dos quais eu bem me lembro.

Logo veio outubro, que mês triste
Não sabes o quanto me afligiste.
Novembro logo a levou
Ah, não sabes como meu coração lamentou.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Um par.

Estavam os dois, logo ali, perto do pilar que ficava próximo da cantina. Ela era popular, linda e razoavelmente interessante. Tinha uma estatura mediana-alta, olhos azuis, belíssimos cabelos loiros. Todas garotas a invejavam e todos os garotos a admiravam. E além de seus atributos, outra coisa que a fazia invejável era tê-lo. Ele era simpático, belo e exercia um certo poder por ali. Era alto, forte e garboso, um rapaz com um quê de cavalheiro clássico. Nossa, como formavam um belo par para as multidões poderem se deleitar falando deles...
Um pouco ao lado havia outro casal. Ela não era tão bonita, ao menos para o gosto geral, já ele teimava em discordar e a achava maravilhosa. Usava óculos, tinha um rosto arredondadinho e era super amável, devo admitir que ele até tinha razão em achá-la graciosa. Além disso, ela era inteligente, bem mais inteligente que a moça do primeiro casal, tinha ambições bem maiores e mais respeitáveis que aquela outra também. Já ele, era engraçado, desengonçado para a maioria, fofo para ela. Era um rapaz super inteligente e sério quando necessário. Tinha os cabelos um pouco grandes, eram encaracolados. Nossa, como formavam um belo par para eles mesmos...
E sentado do outro lado do pátio estava um garoto sozinho. Não eram muitos que o notavam, ele parecia invisível em meio a multidão. Tinha um semblante de calma, mas quem olhasse duas vezes veria o desespero que havia lá dentro. Ele podia até sorrir, mas era apenas para colocar uma máscara sobre a solidão. Ele era ímpar, sua vida sempre fora ímpar. Quando não estava sozinho, a garota que ele amava tinha outro. Nossa, como ele era um triste ímpar.

Um par.

Eu sei que é bobeira, e que eu não deveria mais pensar nisso. É passado, eu já estou avisado… mas eu estou cansado! Cansado de chorar por saber que nunca seremos um par. Cansado de sofrer por não te ter. Para você? Para você não faz diferença, aliás, você quer que eu esqueça. Para o mundo menos ainda. Um par a menos, um par a mais, que diferença faz? Mas para mim! Para mim como você faz falta. Eu sinto que além de ti perdi minha alma, uma parte de mim foi embora. É tão difícil deixar tudo p'ra lá. Você e a ideia de sermos um par. Ainda mais da forma que tudo foi acabar. Se é que é acabou… ou sequer começou.
Não estou aqui só p'ra lamentar. Às vezes a vida não quer que sejamos um par. Eu sei que o mundo é assim, e sei que o amor é um jogo sem fim. Eu disse "par!", você "ímpar". Eu joguei um e você nada. E, por mais que eu queira, sem tua vontade, meu um nunca será um par de verdade.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

No funeral.

A chuva cai do céu.
E dos olhos dos meus amigos.

O frio está no vento.
E no meu peito já sem vida.

A oração não consola.
O silêncio ensurdece.

Se eu pudesse dizer uma última coisa.
Vejo agora que não seria:
"Não chorem, eu quero que sorriam."
Pois, a realidade, a morte, é diferente.
"Chorem, mas não por me perderem,
chorem porque eu os perdi.
E estou sozinho aqui,
para sempre.
Sem vocês.
Sem deuses.
Sem paz."

No funeral

Então, eu abri meus olhos
Meu corpo estava frio
Todos choravam
Todos estavam de luto
Eu ouvia uma marcha fúnebre
Mas não, eu não havia morrido.

Eu toquei teu corpo
Estava fria, com pele marfínea
Segurei triste tua mão de neve
E chorei ao ver teu rosto tão fraco
Rico em ossatura, pobre em vida.
Mas não, tu não havias morrido.

Perguntei-me então de quem era aquele funeral
Por quem tanta gente choraria?
Resolvi olhar em volta
E foi aí que reparei em uma ausência
Eu estava ali, você também, mas faltava alguém
E sim, o amor havia morrido.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

"Como você mudou."

Você me dirá palavras "sábias" sobre como eu mudei e sou um tolo agora, pois é, você me dirá palavras do tipo:
"Como você mudou. Você não era assim, Lucas. Se lembra de quando você ia atrás de seus sonhos? Nossa, você era demais, eu te admirava tanto, você era alguém que tantos queriam ser, você era tão inteligente (ou melhor, ainda é), era tão simpático e bem-humorado e nos esportes não ficava muito atrás. Você já tinha esse espírito artístico, me lembro quando você me mostrou seu primeiro poema, o qual tinha logo eu como musa, imagino quem será sua musa hoje em dia… me lembro também de quando mentiu pra mim, fingindo que um poema de alguém famoso (não me lembro quem era o autor) era seu, e eu logo descobri sua farsa.
Você era tão sorridente, você me fazia sorrir, nossa, como você me cativava, bem, você cativava a todos. Você tinha um gosto musical excelente, me lembro das tardes que passamos um com o outro, ouvindo aquelas músicas que só nós pensávamos que gostávamos, éramos tão 'especiais', não é, Lucas? Éramos tão 'superiores', ah bons tempos aqueles…
Mas hoje você é diferente, ah, como você mudou. Você não segue mais seus sonhos, você não é mais tão admirado, só sua inteligência, que só serve para fazê-lo arrogante, achando que é o maior sábio do mundo, continua. Não há mais simpatia em você, virou um casmurro. Seus poemas são claramente vazios.
Você não sorri mais, você entristece aqueles em sua volta. Parte das músicas que ouve se tornaram ordinárias, mas também, você se tornou ordinário.
Como você mudou, Lucas, como você mudou."
E eu, bem, eu diria:
"É, eu mudei, mudei tentando te agradar. O único sonho que eu ainda tenho, é te ter. Se não sou mais simpático, é porque eu tentei me adaptar a você e deixei tudo o que eu realmente era pra trás. Ah é, você se perguntou sobre quem seria minha musa de hoje em dia, bom… ela é você, ou melhor, ela é o que você costumava ser, eu me inspiro naquela garota por quem me apaixonei anos atrás.
E pois é, não sorrio mais, mas há um motivo pra isso, você se foi embora, você não está mais ao meu lado. E, por fim, as músicas. Elas não são ordinárias, a não ser que você se considere ordinária, porque todas elas me lembram de você, todas elas se relacionam conosco.
Como você mudou, querida, como você mudou."
Isso é o que eu diria, mas não terei a chance de dizer-lhe isso. Então deixemos tudo calado.

"Como você mudou."

-Como você mudou.
-Como eu mudei? É claro que eu mudei. Se não mudasse, nunca estaríamos aqui. Nunca teríamos nada, nem essa conversa. É claro que eu mudei, mudei p'ra ser alguém bom p'ra ti, p'ra você gostar de mim, se interessar, p'ra podermos ser amigos e, quem sabe, algo mais. E quer saber a verdade? Deu certo, aproximamo-nos muito, viramos amigos e, não sei, algo mais. E menos! Mas daí, eu mudei, de novo. Eu ficava tão feliz contigo, tão bem, eu acho que passei a precisar de você. E quando estavamos juntos, eu não conseguia conter os meus sentimentos... nem os bons... nem os ruins. Ciúmes, o medo de te perder, a tristeza de te ver partir. Isso fazia mal a mim, a nós! E eu precisei mudar, precisei esconder o que eu sentia, precisei "pegar leve", eu não sei "pegar leve". E, agora, mudei de novo... afastamo-nos, você pediu um tempo, precisava do seu espaço. Eu disse "eu entendo, é melhor assim", não! Não é melhor assim. Nunca poderia ser melhor eu sem você! Então, sem você, eu mudei, minha alegria parece que gostava tanto de ti que, quando você me deixou, foi junto. Meu sorriso combinava tanto com o seu riso, que sua ausência parecia recriminá-lo de estar presente. Eu mudei, fiquei deprimido, triste, destruído. Você me estragou! Me estragou! E agora vem dizer "como você mudou", é claro que eu mudei! Se eu não mudasse, as coisas não mudariam sozinhas, eu me arrisquei e acabei perdendo.
-Suas lágrimas... são a prova de que você não mudou, desculpe-me, fui eu, não fui?
-Minhas lágrimas são a prova. Não a prova de que eu ou você mudou. Mas a prova de que não mudamos quem somos, e sim como somos.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Amor irracional.

O que eu sinto por você
"é algo bem natural"
você vai me dizer.

Mas eu penso d'outra maneira,
é um amor irracional,
não é brincadeira.

"Não se faça de tolo,
nenhum amor é racional,
não sei p'ra que tanto rolo."

Exatamente!
Não é um amor normal,
você não sai da minha mente.

"Vamos, seja sensato,
ao menos, rime bem,
está ficando chato."

Não é culpa minha,
eu não penso em mais ninguém
é impossível ficar na linha.

"Então, é bom corrigir esse seu amor,
que as suas poesias estão péssimas,
não rimarei mais contigo, adeus."

Não me faça essa desfeita,
por favor,
faço-te minha Julieta!
Não se vá.
Não assim!
É o fim...

Amor irracional

Eu diria que tuas efélides são de ímpar beleza
Mas pareceria forçado, ilegítimo
"Acho tuas sardas maravilhosas"
É mais sincero, verdadeiro.

Eu tinha outro poema escrito
Com rimas ricas e versos alexandrinos
Mas não, esse amor é irracional
Nele não cabe a sensatez.

Eu diria "Teu ósculo, quando dar-mo-á?"
Outra vez seguiria a razão
"Então, quando me dará teu beijo?"
Certo, isso sim veio do coração.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Garota do tempo.

Bem, caro leitor, se tiver tempo, contar-lhe-ei uma história.
Ela se passa em um dia, bem... o dia estava tranquilo. Já havia um bom tempo que eu não via um dia com um clima tão agradável. O sol estava no céu, algumas nuvens pairavam sob ele, escondendo-o e mostrando-o, como em uma brincadeira. Não fazia calor, tampouco frio, era um clima agradabilíssimo. Pouco ventava, se bem que aquilo não era muito bem algo que se chame de vento, estava mais para uma brisa, uma doce e suave brisa.
Mas não, a calma não viera para ficar, não, ela nunca fica. Ela se foi no mesmo instante que chegou uma amável senhorita cujo nome prefiro omitir, chamemo-na de Garota do Tempo, eu e ela tínhamos algo já fazia um tempo. A calma foi embora devido ao fato de que essa garota não é uma garota qualquer, ela parece controlar o tempo, mas não o tempo de horas e minutos, o tempo que é sinônimo de clima, o tempo das estações e da temperatura.
Pois deixemos as descrições de lado e utilizemos a narração. Ela chegou e disse-me friamente.
-Como vai, Lucas?
Pronto, essas doze letras intensificaram tudo, apenas de ouvi-la, apenas de estar com ela, tudo mudava. A brisa virou tufão, o clima agradável agora tornou-se calor, calor proveniente do mais tenro amor.
-Bem e você? - respondi fingindo impassibilidade.
O resto da conversa pouco importa, continuou mais do mesmo. Ficamos lá, eu, nervoso, trêmulo, quase causando um terremoto de tanto que meus joelhos se batiam, e ela, fria como uma geada, nada parecia importar para ela.
Depois de aproximadamente três quartos de hora ela introduziu um assunto que tinha importância.
-Bem, Lucas, na verdade eu tenho algo bastante sério para te dizer...
-Pois diga. - meu coração congelou de tanto medo da tal notícia
-É que chegamos ao fim.- fiquei embasbacado - O nosso tempo acabou, a nossa chama se apagou... - ela podia continuar dizendo todas as metáforas que significam que o amor acabou que eu mesmo assim permaneceria, e ainda permaneço, sem conseguir entender.
E agora cá estou, sozinho. O clima sem ela não é mais o mesmo, parece sempre chuvoso, frio e lúgubre. Vez ou outra me lembro dela, sinto que passa um furacão de emoções que destroi tudo que eu construí.
Espero não ter tomado muito tempo do seu dia.

Garota do tempo.

'Tá vendo aquela garota ali? Isso, aquela que por onde passa as flores adquirem um outro brilho, aquela que faz os passarinhos cantarem com mais graça, que parece estar sempre andando n'uma bela tarde de primavera. Ela é conhecida como Garota do tempo, não sei se preciso ainda explicar o porquê, mas p'ra não deixar duvidas, explico com detalhes.
Como eu disse, ela é a Garota do tempo, e como eu também já falara, o ar que a rodeia é primaveril. Mas como eu ainda não contei, ela também aquece o coração de todos os rapazes que a veem passar, tão quente quanto um forte verão. Entretanto o próprio coração dela, se é que podemos chamar de coração, é frio como o inverno russo. E, com isso, todas as flores que ela recusa, tornam-se amarelas e caem no ritmo do outono.
Mas, para falar a verdade, há boatos que o nome dela venha de outro lugar, dizem por aí que ela se chama Garota do tempo porque o tempo corre diferente com ela. É difícil de dizer, porque como eu disse, ela não tem tempo para nós meros mortais, entretanto algumas pessoas que já foram amigas dela, dizem que quando estamos com ela, o tempo voa. Dizem que é super divertida, que nos faz ter um tempo maravilhoso, mas acabamos nos viciando nisso, e quando estamos em sua ausência, o tempo se arrasta, os segundos se estendem, e queremos vê-la a todo tempo.
Só que não sei se é verdade a segunda teoria, faz tempo que não a vemos conversar com ninguém, todo o tempo ela está sozinha, olhando para o relógio, esperando alguém, talvez alguém que ela tenha depositado muito tempo, e que acabou congelando o coração de inverno dela, que naquele tempo podia ser quente e florido. Agora, perdoe-me, mas não tenho mais tempo p'ra falar dela, sabe como é, falar dessa garota tão peculiar é interessante, e quando vimos, o tempo já passou, o meu, o seu e o dela.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

As coisas.

Quando eu vejo você,
quando você está por perto,
eu sinto essa...
essa coisa.

Ao partir, não é só ti que te vais,
quando te ausentas, leva contigo uma coisa,
coisa muito preciosa p'ra mim,
que eu dei a ti.

Porque você, você mesma,
você é, realmente, uma coisa.
Uma coisa divina,
coisa ímpar.

Na verdade,
junte essa coisa que eu sinto,
essa coisa que eu perco,
e essa coisa que és.
E verá quantas coisas nós temos,
quantas coisas eu sinto por ti,
quantas coisas me remetem a você,
e quantas coisas de ti eu quero.

-Mas que coisa,
vejo amor em qualquer coisa.
Acho que tem coisas que não mudam.-

As coisas.

Preciso de alguma coisa
Só não sei o quê.
Quero uma coisa.
Um assunto para escrever.

Qualquer coisa podia acontecer a mim
E acabar com essa monotonia já sem fim.
Mostre-me alguma coisa original
Que quebre com a ideia do que é normal.

Eu faria todas as coisas para ver-lhe sorrir
Ou nenhuma coisa, é só você pedir
Eu seria outra coisa, se você quisesse.

Mas eu sei que há uma coisa que não mudará
Meu amor por ti, esse não acabará
Nem acabaria, nem que eu tentasse.



sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Rotina do trabalho.

Acorde. Levante. Arrume-se. Pense. Coma. Despeça-se. Saia. Pense. Vá. Sofra. Chegue. Obedeça. Pense. Trabalhe. Sorria. Pense. Siga. Seja. Procure. Ache. Termine. Pense. Volte. Vá. Chegue. Resmungue. Descanse. Pense. Assista. Jante. Pense. Durma.
Acorde cedo. Levante agora. Arrume-se rápido. Não pense. Coma o café da manhã. Despeça-se de sua esposa. Saia para a rua. Não pense. Vá ao trabalho. Sofra no ônibus. Chegue atrasado. Obedeça seu superior. Não pense. Trabalhe intensamente. Sorria para o chefe. Não pense. Siga as ordens. Seja solícito. Procure o relatório que ele pediu. Ache o tal relatório. Termine o trabalho. Não pense. Volte para casa. Vá num ônibus lotado. Retorne tarde. Resmungue para sua mulher fazer a janta. Descanse na poltrona. Não pense. Assista os gols da rodada. Jante o que sempre janta. Não pense. Durma sem pensar.
Acorde tarde. Levante mais tarde. Arrume-se para ela. Pense nela. Coma qualquer coisa. Despeça-se de mamãe. Saia com ela. Pense nela. Vá encontrá-la. Sofra por ela. Chegue no encontro. Obedeça a razão. Pense nela. Trabalhe em prol da felicidade. Sorria com ela. Pense nela. Siga a emoção. Seja feliz. Procure o amor. Ache o amor. Termine com ela. Pense nela. Volte para casa. Vá em lágrimas. Retorne cabisbaixo. Resmungue sobre como odeia o amor. Descanse seus sentimentos. Pense nela. Assista vídeos da banda preferida dela. Jante sushi, que ela adora. Pense nela. Durma pensando nela.
Acorde para a vida. Levante seu queixo. Arrume-se de qualquer jeito. Pense na sociedade. Coma algo restaurador. Despeça-se do passado. Saia dos clichês. Pense na sociedade. Vá atrás de aliados. Sofra pela atual situação. Chegue a qualquer lugar. Obedeça a ninguém. Pense na sociedade. Trabalhe na mudança. Sorria ao imaginar o futuro. Pense na sociedade. Siga ideias revolucionárias. Seja um idealista. Procure igualdade. Ache o contrário. Termine sua lista de reivindicações. Pense na sociedade. Volte para casa. Vá confiante. Retorne alegre. Resmungue sobre como odeia o sistema. Descanse um pouco. Pense na sociedade. Assista discursos de revolucionários. Jante nada demais. Pense na sociedade. Durma esperançoso.

Rotina do trabalho.

Acorda com os olhos vendados pelo sono. Levanta-se com o peso das correntes que querem o prender na cama. Banha-se apressado pelos guardas da consciência. "Come" correndo e se queima com o café amargo. Aperta o passo para chegar ao transporte público. Enfia-se d'alguma maneira no mar de pessoas. Espera horas no mesmo lugar, cada vez mais quente, cada vez mais gente. É transportado como um animal até o local do trabalho. Chega um minuto atrasado e tem o "salário" cortado. Ouve reclamações e broncas o dia todo. Engole a refeição fria, igual a de ontem e de amanhã. Continua trabalhando. Vai embora n'um transporte ainda mais cheio que o da ida. Caminha para casa arrastado pelo sono como se fosse grilhões presos em suas pernas. Dorme mas não descansa. Sonha e acorda. Acorda com os olhos vendados pelo sono. Levanta-se com o peso das correntes que querem o prender na cama. Banha-se apressado pelos guardas da consciência.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Confissões

A luz estava forte na sua cara.
"Vamos, já sabemos de tudo, confesse!"
"Se eu confessar, você para?
por favor, não se estresse..."

"Eu confesso... tentei roubar um coração.
Mas eu juro que não foi por maldade.
Eu fui coagido por uma dama chamada paixão,
por favor, tenhas piedade."

"Já era tempo de uma confissão!
Muito bem, veremos sua punição:
por ter tentado roubar o amor,
sempre que a ver, sentirá muita dor.
Quando ela passar, seu coração partirá,
ao ouvir uma música de amor, sozinho chorará."

E ao confessar esse tolo crime,
ao pior castigo fora sentenciado,
o castigo de sempre estar apaixonado.

Confissões

Certo, eu confesso.
Não sou nada do que pensam
Para ser sincero, odeio vocês
Pois é, cansei-me dessa falsidade.

Muito bem, confessarei.
Não aguento mais esse lugar
Ele sequer chega a ser suficiente
Se pudesse, estava a léguas daqui.

Se deixar, eu posso confessar
Sofro em seu lugar por seu erros
Você não é mais nada do que era
Com ideias que não refletem aquela que amei.

Então eu confesso.
Sou completamente infeliz
Nem sei mais o que quero
Mas sei que não quero mais mentir.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A decepção do pajem altruísta.

O sol estava no céu. Pássaros passavam sobre o reinado de Oh. Haviam colinas até onde se podia ver, eram campos verdejantes contrastados por produtivas plantações dos camponeses e delicados jardins nos quais eram plantadas flores destinadas à nobreza de Oh.
Frente à paisagem o castelo não fazia feio. Possuia uma imponente e, ao mesmo tempo, arquitetura de aparência frágil, típico de uma história de conto de fadas que veríamos muito facilmente num livro infantil. Por dentro não deixava a desejar. Possuía diversos quartos, salas de jantar, jogos e tudo o mais que você possa imaginar. Destacando-se o salão principal. Onde ocorriam todas as festas da corte, encontros da nobreza e todas as condecorações do reino.
Já a nossa história não começa no castelo, tampouco na nobreza. O nosso herói é um garoto simples, nascido em meio aos camponeses. O seu nome eu não me lembro muito bem, mas tenho certeza que rima com Sim. Com Sim também rimavam suas ações, era um garoto correto e bastante otimista. Sonhava em ser um dia da família real para ajudar o reino e seus amigos camponeses, mas todos lhe diziam que isso era impossível pois apenas parentes do Rei podiam fazer parte dela. Isso não era problema para ele. O plebeu era imensamente apaixonado por princesas e, para ele, casar-se com uma não era nenhum sacrifício.
Passaram-se vários anos, o outrora pequeno garoto já é hoje um rapagão de aproximadamente vinte anos. Durante esses anos ele se tornou respeitado no vilarejo em que nascera e fez muitos amigos. Dentre eles se destacava um homem com uma cara que lembrava a de um cachorro, era mais velho e mais sábio que o nosso amigo plebeu.
Eis então que nosso herói conseguiu viver em meio à nobreza. Se pensa que ele acabou descobrindo que era o filho perdido do rei ou acabou por casar-se com a adorável princesa, bem, você errou. Ele conseguiu uma vaga como pajem do diabrete do príncipezinho. Ele então ficou excessivamente feliz. Achou que com isso poderia conhecer a vida da realeza e até, quem sabe, virar conselheiro ou algo assim do Rei.
Então ele vivia no castelo, sempre com os membros da corte. Mas algo lhe parecia errado, a Rainha só queria saber de peças de ouro, colares e vaidade. A Princesa só queria ter casos com duques, barões e até baronesas, mas nunca pensava em um bom marido para ser um possível sucessor ao trono de Oh. O Príncipe só sabia bater em animais e irritar os príncipes de reinos vizinhos, nada altruísta como deveria ser o príncipe que Oh merecia. Já o Rei, esse era um caso a parte, só gastava com coisas inúteis e mandava atacar vilarejos pacíficos, apenas pela diversão.
Foi aí que nosso amigo pajem descobriu que nem tudo é perfeito, e foi aí que ele teve sua maior decepção. Ele percebeu que, infelizmente, levaria um bom tempos para Oh ter governantes a altura de seu batalhador e caloroso povo.

A decepção do pajem altruísta.

Era um belo jovem, de feição generosa e pacífica, enfeitado com um sorriso inocente e recatado, de estatura média e cabelos espiralados cor-de-palha. Estava em seu último ano de serventia para a família dos Liverotto e discutia com o Sr. e Sra. Liverotto sobre seu futuro.
- Paolo, tu deves graduar-te e seguir em frente. O trabalho que executara sempre fora com carinho e dedicação, e temos certeza que serás muito feliz, tu mereces.
-Mas, Sr. Liverotto, eu preciso cuidar de Alexandre, ele ainda precisa de minha ajuda, eu não posso abandoná-lo agora!
-Basta, Paolo. Onde já se viu? Prolongar seus serviços... Tu e Alexandre poderão continuar se falando, mas não precisas mais servir-nos. Agora vá.
Paolo, com seus olhos principiando a se afogar, correra para seu quarto e trancou-se.
-É tão bom o jovem Paolo, bom demais... - disse a Sra. Liverotto.
-Sim, é uma pena que não perceba como o mundo é cruel, e toda essa generosidade só trará frustrações em sua vida, se não for bem dosada.
-Concordo, mas agora vamos que o jantar já está sendo servido.
-Vamos.

Algumas semanas depois, Alexandre encontra Paolo, por acaso.
-Alexandre, amo Alexandre! Há quanto tempo! Como estás? Por que não damos uma volta, sim?
-Paolo, já dissemos, não sou mais teu amo, não és mais meu pajem, somos apenas amigos iguais.
-Perdoe-me, amo Ale-digo, Alexandre, acho que acostumei-me, mas diga-me, o que fazes aqui?
-Ah, Paolo só vim entregar uma carta para o D. Tomasso Strozzi. Não digas que te contei, mas as coisas ficaram um pouco bagunçadas sem ti lá em casa...
-Alexandre, amo Alexandre! Queres que eu volte? Digas que sim que eu volto. Não, não recuses, então, sua carta, deixe-me entregá-la. Obrigado amo Alexandre, vou e já volto. Por favor, amo Alexandre, sinta-te livre para ir à minha casa, estamos tendo um banquete especial, vá lá que logo vou atrás. Quero apresentar-te à Giulianna, verás como ela é linda. Tem os olhos de céu e cabelos de sol. Verás como é um anjo entre nós mortais. Como estou apaixonado, amo Alexandre, mas agora tenho de entregar essa carta, adianta-te lá, conhece Giulanna que já vou.

Chegando à casa de Paolo, Alexandre vê que não era a paixão que abrumara a visão do jovem pajem, tua amante era realmente linda. Seu rosto parecia ter sido esculpido em marfim. Teus olhos realmente eram tão cerúleos que só de vê-los, ficávamos em paz. Entretanto, Paolo não mencionara outros detalhes de Giulianna, provavelmente porque não importava-se, ao contrário de Alexandre, que achava essêncial. A beleza de Giulianna não limitava-se somente à sua face, e seu corpo parecia moldado, de tão belas e perfeitas que suas curvas eram. Alexandre tinha de tê-la, precisava tê-la. E não adiaria essa guerra, travá-la-ia agora. Ao ataque Alexandre foi.

Passado algum tempo, sem muita relutância, Giulianna já estava em seus braços, na realidade, Alexandre achara muito fácil, pouco divertido. Contudo, o proibido, o adúltero, faziam-no enlouquecer. Ele queria mais. E ela também, toda a santidade que ela vestia foi despida. A força, com prazer, por Alexandre. Os dois traíram a mesma pessoa, os dois pecaram. Os dois concordaram:
-Pobre Paolo, sua generosidade será tua ruína. É tua ruína.
Em sua própria casa, sob seu próprio teto, em sua própria cama. Os dois mostravam a ele como ser bom nunca é bom. A porta se abriu. Do outro lado, um pálido Paolo surgia. Sua boca escancarou-se, mas nada conseguia dizer. Uma cólera apossou-se dele. Toda a ira que evitara em sua vida. Todos os sentimentos ruins que negara e trancara. Tudo subiu-lhe à cabeça. Sempre o fizeram de tonto, de tolo. Sempre aproveitaram-se de seu altruísmo. Sempre disseram que tamanha generosidade era burrice. Mas ele sempre acreditou que se fosse bom, a vida seria boa com ele. Porém, a vida estava se desfazendo à sua frente, fora traído em dobro. Por duas das pessoas que ele mais estimava, com quem mais fora bom. Não mais! Nunca mais o fariam de bobo! Embebido em loucura, pegara um punhal e erguera como se fosse a lua no céu. Era a última bela noite que os dois veriam.
-Eu não aguento mais tanta desonra, não aguento mais ser o bonzinho da história!
Giulianna chorava de medo, Alexandre sorria de excitação.
-Então, venhas, mate-me! Quero ver do que és feito, Paolo!
Cortando o vento, Paolo atacou. O sangue jorrou, sua mão banhou-se de escarlate, o chão criou uma poça de lágrimas vermelhas. De joelhos, o jovem pajem chorava. Acabara de cometer um pecado mortal. Acabar de acabar com uma vida com suas próprias mãos. A culpa doía, doía muito mais que o punhal que estava cravado em teu próprio peito.
-Não aguento mais tanta desonra, não aguento mais ser o bonzinho da história, não aguento mais essa vida sofrida...
E caiu.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Adverbial

Querida, você é tão adverbial
Trazendo consigo circunstâncias
As quais mudam demais meu amor.

Causa sempre a minha eterna dor
Sofro porque deixou-me sozinho
E encheu de dores meu coração.

É a condição para meu viver
Sofro tanto se não lhe vejo
Minhas saudades me derrubam.

O fim de todas minhas ações
É para que eu faça-lhe feliz
Para ver aquele seu sorriso.

Admito que posso te perder
Amar-lhe-ei, embora nunca me ame
Te aceito então, eterna solidão.

Eis a relação entre nossas vidas
O sofrimento aumenta demais
À medida que o tempo se vai.

Ninguém comparar-se-á contigo
E eu nunca serei como ele foi
Nunca satisfarei seus desejos.

Não a valorizei o suficiente
Perdi sua mão para outra mão
Conforme era esperado de mim.

Por quanto tempo hei de sofrer?
Me diz quando vai voltar aqui
Que é menos tempo que o que sofri.

Vivo por influência de ti
E por ti derramei tantas lágrimas
Que enferrujei meu coração.

Adverbial

O que você me sentir é mais que normal,
por completo, você me modifica.
Deixa meu sorriso diferente
e meu coração passa a bater acelerado.
Apaixonei-me, desse modo, em perso e vrosa,
pois brilhas mais que um raio-de-sol,
és graciosa como um rouxinol
e tens a delicadeza d'uma pétala-de-rosa.
Transformas em certo o que era errado
e, de repente, me faz viver mais contente.
Dar-te-ei, simplesmente, uma dica:
Você é, de fato, mais que adverbial.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Casulo

Era uma tarde de primavera. Todos animais, insetos e demais coisas da natureza seguiam sua ordem natural. As abelhas saíam por aí cozinhando mel e conversando com as flores enquanto as polinizavam. Bem-te-vis cantavam alegremente uns para os outros sobre coisas que diziam ter visto mas as cobras-cegas teimavam em discordar. Tudo ia otimamente bem, a fauna e a flora andavam calmamente.
Mas foi aí que a senhora Capivara ouviu alguns gemidos vindos do topo de um Jequitibá. Chamou então seu amigo Pintassilgo e pediu que ele fosse lá em cima procurar descobrir de quem vinha aquele choro.
A esse ponto, roedores, aves e insetos já se aglomeravam em torno da frondosa árvore, tamanho o volume do choro que vinha lá de cima. Corujas e Morcegos vinham reclamar com a Capivara para que parassem com a bagunça, Grilos e Sapos amplificavam a barulheira enquanto D. Capivara se desesperava pelo animal que estava a chorar.
Nesse momento, voltou o Pintassilgo. Era uma jovem Lagarta que chorava. Reclamava que não podia sair daquele casulo e integrar-se com todos, ela disse a ele que queria mais que tudo brincar todas as tardes com os Patinhos que banhavam-se no rio e que adoraria ir a uma missa com a família Louva-a-Deus e, por isso, ficava triste.
Mas por mais que o pássaro tentasse prender a atenção dos ouvintes sempre aparecia um Morcego para praguejar sobre um Grilo que não parava de fazer barulho com seu bater de asas ou um Sapo que, repentinamente, coaxava bem alto apenas para incomodar uma Coruja que tentava dormir.
Em meio a toda essa confusão ouviu-se um grito estridente vindo da árvore, mais precisamente do galho onde estava a triste Lagarta. Todos então foram tomados por uma forte preocupação, e, por esse motivo, gritavam ainda mais, alguns torciam pelo bem da Lagarta, outros falavam que era muito sentimentalismo por parte dela, que ela apenas estava fazendo aquilo para aparecer. Neste momento começou mais uma discussão devido a essas opiniões conflitantes, mas antes que a coisa tomasse outras proporções chegou a Lagarta, ou melhor, Borboleta e tomou a atenção de todos. Zangões apaixonaram-se naquele instante e, também naquele instante, foram reprimidos por suas esposas Abelhas.
Ao ver todo esse alvoroço a Borboleta assustou-se e percebeu que a vida lá fora não era tão boa quanto ela pensava e, às vezes, é melhor ficar só em seu casulo.

Casulo

Sempre fora uma larva cinza e sem graça. Uma lagartinha que foi menosprezada toda tua vida, embora pensasse grande, embora tentasse ser alguém. Cinza sempre era a cor de tuas vestes. Cinza cor de paisagem - numa cidade grande, a paisagem sempre é cinza. Pensara por muito tempo que era uma superficialidade importar-se com o exterior, supora por muito tempo que o interior era só o que tinha valor. Dia após dia, ela tentava ser valorizada, ser alguém nessa selva. Dia após dia, ela falhava, não era ninguém na floresta.
Até que um dia, caminhando sem rumo, pensando em como ser ouvida, viu a crisálida mais linda de sua vida. Era completamente dourada, cheia de adornos, no mínimo, excêntricos. Com babados jogados aqui e ali. Exageradamente belo, cada detalhe tinha um diferencial, era cravada de rubis flamejantes. O brilho que a crisálida emanava chamava, convidava, implorava pela lagarta. "Venha até mim, dócil larva, venha ser feliz, venha ser alguém", entoava ela. Caminhou até a bela pupa com passos angelicais, todo e qualquer movimento era coberto d'uma graciosidade ímpar. Entrara, enfim no belo casulo. A metamorfose tivera início. Começara a mudar.
Duas semanas depois, crescendo e amadurecendo dentro da aurélia dourada. Pensando e planejando dentro da pupa d'ouro. Ela julgava-se pronta para sair, para aparecer para o mundo. E mais que julgar a si mesma, julgava o mundo pronto para ela, ou melhor, o mundo precisava dela. Com a doçura d'uma mãe que descobre um filho n'uma manhã ensolarada para o desjejum, ela tirou a fina seda que a protegia. Como uma noiva que caminha para o altar, ela deu um passo para fora do casulo côr-de-sol. Olhara em volta, como quem acaba de acordar tentando entendenr onde está e sacudiu-se graciosamente para o sangue correr vivo em suas veias. A inocente e desprotegida larva tinha mudado. Deixara de ser alguém sem cor, desinteressante. Agora não, agora tornara-se uma linda e imponente borboleta. Com enormes asas verdes com detalhes púrpuras. Adornadas com pequenas esferas prateadas em cada ponta. Seu corpo era lânguido e comprido, dividido em quatro por horizontais faixas negras que constratavam sua pele creme. Carregava um sorriso sublime e amável, completo por um olhar sedutor e penetrante. Tinha duas antenas compridas e comportadas com um pequeno enfeite anil na ponta.
Saiu da crisálida para o mundo. Da sarjeta para os holofotes. Estava preparada para a fama, para os paparazzi. Alguns podiam acha-la um monstro, outros não conseguiam ler seu rosto. Ela era tudo isso e muito mais, mudaria o mundo, abalaria o mundo. Era esse teu destino. Ela nascera assim.