sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
O ator.
Após alguns minutos, ouviu um barulho. Batiam em sua porta, era a hora de se arrumar. Disse que já ia enquanto vestia aquele figurino e começava a se entender. Abriu a porta e se dirigiu à sala da maquiadora. Nos corredores via pessoas, atores, atrizes, cenógrafos, figurinistas e artistas. Sentia-se intimidado por eles, embora todos o admirassem ainda mais.
Chegando à maquiagem, entrou timidamente, acenando a todos com a cabeça. Todos surpreendiam-se com sua maneira de ser. Sentou-se em frente ao espelho, a maquiadora lhe fazia perguntas sobre qual tom ele preferia, mas ele sempre ia se mostrando indeciso, deixando a decisão por conta dela. E assim ela ia prosseguindo, pintando-lhe a cara e deixando-o ainda menos ele mesmo. Quanto mais ela se aproximava do final, mais ele se mostrava insatisfeito e ranzinza. Reclamava dos tons que ela escolhia, resmungava que ela não sabia o que estava fazendo e que ela estava machucando seu rosto. Quando terminou a maquiagem, todos que haviam adorado sua simplicidade e timidez estavam assustados com o que ele se tornou. Não por culpa da maquiagem, - a qual estava hollywoodiana, daquelas que faz os jovens entristecerem-se por não serem como o ator, e as jovens entristecerem por jamais terem alguém como o ator - mas por culpa de quem ele havia se tornado, ou quem ele realmente era.
Depois ele tinha de fazer o cabelo, sorte da moça que lhe ia arrumar o cabelo que ele tinha um cabelo levemente curto. Ainda assim as reclamações foram muitas.
Pronto, ele estava pronto. Agora era só subir no palco e impressionar a todos. Merda para ele. Apenas mais uma olhada no espelho, estava perfeito, era outra pessoa, mas agora sim ele reconhecia a si mesmo.
Subiu no palco e foi brilhante, embora não fosse ele mesmo.
O ator.
Ela estava nervosa, seu coração acelerado. Tinha medo, medo de se entregar, de se perder, de se apaixonar.
- Espere, eu preciso te dizer algo.
Ela o olhava fundo nos olhos, via aquele brilho, aquela sinceridade. Apenas meneou a cabeça, apreensiva pelo que ele diria.
- Na verdade, não é muito, eu não consigo colocar em palavras... esse tempo que passamos juntos, por menor que seja, me mudou muito, e eu já não posso imaginar um futuro, uma vida, sem você.
Pôs a mão sobre a boca, escondeu seu sorriso, não podia ceder tão fácil assim. Emburrou a face, mas se via a alegria em seus olhos.
- Eu já errei tanto, tanto em minha vida! Mas não mais, eu não cometerei esse erro, não te deixarei partir sem lhe dizer. Eu te amo, não se vá, por favor.
Uma lágrima escorreu, um sorriso aflorou. "Eu também te amo" disse ela, enquanto via o homem por quem era apaixonada beijar outra.
Os créditos subiram, e ela desligou a TV, agora que o filme acabara.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Uma Santa.
o peito nu, ergueu-se.
Aos céus.
Com os olhos da cor do céu e dos oceanos
olhou-me angelicamente.
Com os borrados e rubros lábios,
beijou-me a fronte.
Sorriu.
Sem ar e sem fala
"Santa Maria"
Falei.
És divina,
como a noite passada.
Oro para que não acabe,
para que não me deixe.
Uma Santa. Minha santa.
Benzeu-me com Vodka,
beijou-me de tabaco.
E me redimiu de todos os pecados
que cometemos.
Com o puro Amor.
Amém.
Uma Santa.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Coração.
Coração.
Nos seres humanos o percurso do sangue bombeado pelo coração através de todo o organismo é feito em aproximadamente 50 segundos em repouso.
Neste tempo o órgão bombeia sangue suficiente a uma pressão razoável, para percorrer todo o corpo nos sentidos de ida e volta, transportando assim, o oxigênio e nutrientes necessários às células que sustentam as atividades orgânicas. O coração se localiza em uma bolsa chamada caixa torácica, entre os pulmões. É um órgão muscular, pode se contrair e se relaxar.
Pois vejam bem, o coração até é bem importante e talvez não seja tão simples quanto se pensa, mas não, não cabe nenhum amor nele. Na verdade, não há nada sobre sentimentos por aqui. Ele só - só - faz o sangue passar por todo nosso corpo. Mas os sentimentos são culpa - culpa - do cérebro. O coração só vai na onda dele e bate mais forte - quer dizer, ele torce - em alguns momentos, por amor e essas coisas. Enfim, o coração nos faz viver, de verdade, sem ele estaríamos mortos. Claro que sem muitas outras coisas também, mas o que quero dizer é que o coração é muito importante para entregarmos a qualquer um. Por mais que ele tenha ou não esse tal do amor, das vidas inteiras.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Revolução.
Revolução.
Para chegar a esse ponto,
era inevitável.
Tinham um ideal,
que podia não ser o ideal,
mas lutaram,
e isso ninguém pode negar.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Julgamentos.
Senhoras e senhores do júri, ela é inocente, juro que é tão inocente quanto eu, ou qualquer outra pessoa que já amou verdadeiramente.
Ao menos foi isso que aprendi nessas quase duas décadas que vivi, sou inocente. Sou sim, sempre fui tratado como tal. Desde pequeno, quando era deixado de lado nas brincadeiras, quando era posto para ser a árvore no teatro achando que era ator, e todos diziam, "pobrezinho" "como ele é inocente".
Por outro lado, a culpa é toda dela. Ela mereceu isso, era ela que dizia que me amava, foi ela que aliou-se à minha ingenuidade para assassinar minha alegria. Foi ela que disse que me amava, e que dizia coisas libertinas em meu ouvido - frases essas que, convenhamos, sequer devem ser proferidas nesse tribunal - e que quando eu, parvo, espantava-me e não onde uma garota nascida e criada em família católica aprendera aquelas palavras, dizia "Ah, como você é inocente".
Mas, bem, essa acusação não está a recair sobre mim. De qualquer jeito, meu crime é tão menos importante juridicamente quanto é mais importante realmente que o que esta jovem cometeu. Enfim, descomplicá-lo-ei: sim, eu a amei antes de tudo, sou réu confesso, eu a amei até o fim.
Talvez não devesse, mas eu sim a amei. Eu, garoto bondoso, gentil, inteligente e promissor, merecia o amor dela, ela, garota desleixada, amante da música e futura artista, não merecia o meu amor. Ao menos foi o que todos disseram: que eu era um garoto bom demais para ela, e que com ela eu não teria uma boa vida. Mas o que ninguém via era que eu sim não era bom o suficiente para ela: ela era uma garota que tinha sonhos, e eu apenas um garoto que seguia o que os outros diziam. Mas ela me salvou, senhoras e senhores do júri, ela a quem acusam veementemente, ela por quem quase morri, ela que quase me matou. Agora sou eu que corro atrás de meus sonhos, e tudo graças a esta garota. Ela mudou meu destino, então pensem muito bem quando forem decidir o destino dela.
Incrivelmente, o júri sequer precisou se reunir para discutir. O próprio juiz tomou a palavra e decidiu algo com o que todos concordaram imediatamente, a pena da jovem era simples: uma vida de amor não correspondido.
Julgamentos.
Ele criticou meu all-star surrado, e usa um nike de cem molas.
Ela me julgou pelas músicas que eu gosto, mesmo ouvindo músicas superficiais.
Eles falam do jeito diferente que me visto, sendo que se vestem de forma idêntica.
Julgam como ajo, penso, sinto. Porém tudo neles é pior.
É incrível como julgam tanto minha vida, quando precisam é ser julgados.
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Sujeira.
Sujeira.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
O despertador que não desperta.
O despertador que não desperta.
No dia seguinte acordou 15 minutos mais tarde, "como assim?! por quê?! despertador idiota, não ouvi seu alarme tocar!!".
No restante da semana acordou entre 10 e 30 minutos atrasada "despertador maldito, despertador que não desperta, por que eu ainda não te joguei fora?!"
No domingo ela foi dormir mais cedo, "vai que ele não desperta de novo..."
E na segunda acordou descansada e no horário, "aiai, não despertou, que bom que eu me precavi."
Nessa semana dormia sempre a essa hora, para conseguir acordar, "despertador boboca... por sua culpa estou acordando no horário que deveria, mas sem escândalos e sem cansaço."
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Éle.
Éle.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Café.
Preciso escrever. Acabou meu café e não consigo continuar a pensar. Não tenho mais criatividade, ou vida, não sei, mas nada mais sai dessas outrora férteis mãos.
Preciso de criatividade. Se bem que há quem creia que não se precisa de criatividade, apenas de um escritor. Eu era um dos que acreditavam nisso. Não sei se ainda o sou. Nunca soube o que era.
Preciso saber de mim. Conheço-me em meus textos, e só. Sou o que escrevo, eu bem sei. É tão simples saber de si assim.
Não preciso de mais nada. Mas meu café acabou mais uma vez.
Café.
- Bom dia, Felipe, está com sono? - Respondeu o porteiro. O garoto apenas menou a cabeça, confirmando. - Tome essa moeda e compre um café para se animar.
E antes que o garoto pudesse explicar o desgosto pela bebida, colocou uma moeda em sua mão e apontou a máquina.
Vagarosamente seguiu em direção da cafeteira, pensando que podia dar mais uma chance ao grão, afinal a última vez que tomara ainda era uma criança, e seu paladar podia mudar.
Pressionou café. Açúcar. Açúcar de novo - mesmo sabendo que é computado apenas um. Inseriu a moeda. Aguardou 1 minuto. Retirou seu café.
O vapor bailava sobre o café, e o rapaz soprava a bebida para não se queimar. Se queimou.
Soprou novamente e, com cuidado, deu o primeiro gole. Era horrível.
Olhou para Seu Mendonça, o porteiro, e sorriu. Com um gesto positivo despediu-se e entrou no elevador.
Encontrou seu chefe, que vinha do estacionamento.
- Olá, tomando um café para ter energia, vejo. - Disse com um sorriso profissional.
- Ah, sim, é bom ter disposição para o trabalho. - Falou embaralhado e tomando um gole rápido do café, para disfarçar.
E continuaram uma conversa rasa sobre os hábitos matinais pré-trabalho. E embora o menino estivesse desinteressado com a conversa e amargo com a bebida, o homem parecia estar envolvido com o diálogo; e com uma pontada de decepção disse que tinha de descer num andar antes do que desceriam, para resolver alguns importantes assuntos, mas que deveriam tomar uma boa xícara de café algum dia.
- Sim, sim, quando quiser, Senhor Carlos. - Despediu-se sem jeito, segurando a bebida com as duas mãos e tentando decifrar porque não lhe descia bem.
Ao sair do elevador jogou o copo meio-cheio no lixo.
No coffe-break tomando um Capuccino enquanto falava sobre os jogos da última rodada do Campeonato Nacional de Futebol, o jovem recém-promovido se interessa numa rapariga que lia o jornal do outro lado da sala.
- Carlos, quem é aquela? - Perguntou, acenando com a cabeça para a garota.
- Nem queira saber, Felipe, é Maria-coração-de-gelo. Todos se interessam, ninguém volta com glória. É uma devoradora de homens. - Explicou, com pesar na voz.
- Oras, derreterei seu coração com uma xícara fumegante de Macchiato, espere e verá. - Riu e foi falar com a guria.
Estatura média. Magra. Loira. Cabelos presos. Rosto fino. Sorriso curto. Olhos castanhos - de mel, como diz o clichê -. Seios pequenos. Ancas largas. Pernas compridas. Adora Macchiato.
Com duas xícaras de Mocha com a camisa dele e os cabelos soltos, sentou-se na cama.
- Ansioso para o primeiro dia, senhor Presidente? - Ela disse lhe beijando e entregando o café.
- Não queria admitir, mas sim. Foi tudo muito rápido, minha vida mudou num instante. Sinto que foi ontem que ainda era um estagiário que sempre procurava um lugar calmo para tirar uma soneca, e hoje, olha só. Presidente! De uma multinacional... Casado com uma linda mulher. Com ótimos amigos para tomar um café à tarde. Que mais eu podia querer? É realmente perfeito, sem riscos, sem surpresas, sem medos.
- Realmente, Amor, parece que foi ontem. Mas todos sabemos que você precisou batalhar para chegar onde chegou. Trabalhou. Lutou. Seguiu as regras. Você merece. - Abraçou-lhe.
- Obrigado, Querida. - Tomou um bom gole do café. - Mas estou atrasado, preciso me apressar. - Lhe beijou na testa e partiu.
- Bom dia, Felipe. Tudo que você precisa está na sala, mas sei que você dará conta do recado, caso contrário não teria passado o bastão para você.
- Obrigado, Carlos, foi um prazer ter trabalhado com você, agora vá ter seu merecido descanso. - Finalizou com abraço profissional.
Dia após dia experimentava uma variação nova de café, sempre que encontrava um exótico compartilhava com Maria e, para provocá-la, oferecia a Luisito.
- Você sabe que não fará bem a ele, é muito novo ainda para gostar de café. - Ela dizia com um tom que de sério só tinha a intenção.
- Bobagem, amo café desde pequeno. - Respondia acreditando em suas próprias palavras.
Se seus conhecidos podiam dizer alguma coisa dele seria que realmente é apaixonado por café. Espresso. Brulôt. Turco. Vienense. De todos os tipos, para todas as ocasiões. Sempre a procurar um novo aroma, um novo sabor.
Com um copo de café puro. No elevador.
Um jovem adentra o ascensor também tomando café. Soprando para não se queimar. Toma um gole e faz uma careta.
- Para se animar?
- Bom... sim, para ter forças para o trabalho. Senhor... Desculpa, não sei seu nome. - Respondeu com mais uma careta.
- Pode me chamar de Felipe. Posso lhe dar um conselho? - Perguntou tomando um gole de seu café.
- Oh, claro. A propósito, também sou Felipe.
- Pois bem, quando tinha por volta de sua idade, eu comecei a tomar café para aguentar o trabalho. E posso lhe dizer que estou onde estou hoje por conta do café, por mais estranho que isso soe. Experimentei diversos tipos e receitas da bebida, e sou um grande conhecedor, me daria bem como barista, imagino. Como ia dizendo, tomei dezenas, centenas de tipos de café, e tenho a mesma impressão do café que tive da primeira vez que bebi.
O garoto estava interessado na história do homem e mal percebera que perdeu seu andar.
- E qual é essa impressão? - Perguntou sem conseguir conter a curiosidade.
- Café é horrível. - Concluiu tomando o último gole do seu café.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
Antiestético.
Antiestético.
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Casamata.
Lá fora a guerra explode. Pessoas morrem, heróis nascem, traidores surgem. Mas eu estou aqui, nessa casamata que, depois desses meses já tornou-se muito mais casa.
Cá dentro tornou-se tão melancólico. Sou só eu e esse monte de suprimentos. A comida dará facilmente até o fim da guerra, mas bem que eu gostaria que ela se fosse um pouco mais rápido se eu somente tivesse uma companhia.
Dia oitenta e cinco.
Certo, não há mais salvação. Resta-me apenas ficar aqui e esperar que tudo passe, mas eu preciso de alguém. Sequer tenho acesso às notícias nesse estado em que me encontro. Será que ainda há noticiário lá fora?
Dia noventa.
Completaram-se três meses da minha vida na casamata. Resolvi pensar em tudo isso. Eu estava errado? Eu deveria ter ficado?
Ela deve estar lá fora agora. Seu nome é Fernanda. Mede 1,57m e é uma moça magra, não passando dos 44 quilos, creio eu. Apesar de franzina, Fernanda era uma garota forte. Não fisicamente, mas moralmente. Fazíamos parte de um grupo de estudantes semirrevolucionários. Ela era a líder, naturalmente. Com seus cabelos cortados à altura do pescoço era uma garota imponente, todos respeitavam aquela moça e acatavam todas suas ordens.
De certo modo, fomos nós que começamos a guerra. Éramos uma ameaça iminente à economia do país com nossos ideais libertários e igualitários. Foi por isso que o governo inventou esses atritos e fez com que o povo destruísse a si mesmo nessa falsa batalha entre nós, os "rebeldes", e grande parte da população, os "conservadores".
Dia noventa e um.
Relendo o trecho que escrevi ontem, reparei que comecei a falar sobre como tudo isso na casamata começou e acabei falando do início da guerra.
Já passava da primeira semana de conflitos. Estávamos resistindo bravamente, mas era difícil. Fernanda e eu havíamos nos separado dos demais. Em meio a toda a destruição encontramos essa casamata. Eu disse a ela que deveríamos nos refugiar na casamata, que lá estaríamos seguros. Fernanda disse-me que o povo vem em primeiro lugar. Nesse momento eu acabei cometendo o erro. Em um acesso de raiva eu resolvi descer e deixá-la ali, não podia suportar o fato de minha própria namorada me colocar em segundo plano.
Cerca de quinze minutos depois eu resolvi subir. Havia sido idiota, eu sei, ia subir e lhe pedir desculpas. O bem maior vem sempre em primeiro lugar. Ao chegar lá em cima não a avistei. Gritei por seu nome, mas Fernanda não estava mais lá. E foi assim que tudo começou.
Dia noventa e quatro.
Ao avivar essas memórias de Fernanda, tomei uma decisão. Voltarei lá para fora, batalharei junto de meus amigos. De que me importa se eu morrer? O mais importante é antes de tudo viver.
Casamata.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Cabelos.
Cabelos
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
O Violinista.
Certa tarde eu estava a escrever e esperava ansiosamente pelo violinista, ouvir suas melodias tão alegres, seus tons tão melancólicos e com isso escrever versos e mais versos, sempre inspirado naquela canção que vinha pelos ares. Mas o tempo passava e nada do meu amigo violinista entrar em ação. Eu esperava por seus pizzicatos, ansiava por talvez um, apenas um, col legno, mas não vinham. Nada de violino, nada de violinista. E o que eu faria sem minha música? De onde tiraria eu a inspiração para meus sonetos? E, assim como tudo se iniciou, chegamos a um fim. Nada de música, nada de violinista.
Desde então, sempre que ouço um violino lembro-me das etéreas tardes que passei a escrever a esse som. Quanto ao problema de não conseguir escrever sem esse fundo, superei-o facilmente, toda vez que tomo a caneta em minhas mãos a sinto como um arco, enquanto as folhas são as cordas e, por fim, musicalmente escrevo.
Hoje eu estou bem, consigo viver sem meu violinista, apesar das saudades, mas mesmo assim, pergunto-me onde ele estará, se alguém o ouve e se esse alguém o sente como eu sentia. Tenho saudades do violinista.
O Violinista.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Ode à derrota.
Ode à derrota.
terça-feira, 2 de agosto de 2011
Gravidade.
Gravidade.
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Ovelha Negra.
Em um certo dia comum saiu de casa o jovem, ia pastorar como em todos os dias, saiu com seu cajado à mão, levou as ovelhas ao pasto, elas pastaram como sempre iguais, durante o retorno reparou em uma ovelha em particular.
Em outra manhã saiu novamente, foi pastorar como sempre, mas com uma sensação diferente, atentava para a ovelha diferente, para como ela era diferente, e como ela gostava de ser diferente, ela não se importava para o que pensavam dela e seguia sua vida assim.
Então o pastor mudou, nunca mais seria o mesmo, não procuraria mais tentar agradar ou impressionar os outros, ele seria diferente, e não se importaria com isso.
Ovelha Negra.
terça-feira, 26 de julho de 2011
Laranja.
Laranja.
sexta-feira, 22 de julho de 2011
A Fuga.
Ou mais do que isso, dizem que se deve fugir do amor, eu devo então deixar de pensar você. Nada de músicas que você me mostrou, nada desenhos que você fez, nada de querer te encontrar. Seguir em frente, escapar do que fomos, nunca mais olhar para trás, sem arrependimentos. Ser como você sempre foi, inconsequente, mas da melhor maneira possível.
Como você é... pronto, já me encontro pensando em você de novo, como eu sempre fui... apaixonado por você. E é natural que eu pense, é possível que eu te amassa inatamente, antes mesmo de te conhecer. E mais, não haveria como não pensar na garota que me fez me sentir vivo, na primeira garota que me tratou como alguém, na única garota que disse que me amava, - mesmo que não fosse verdade, e não era, nada é verdade quando se é jovem - na garota da minha vida, apenas isso. Não haveria como não pensar em você, não haveria como fugir de você sem fugir de mim mesmo.
Não, não há como fugir do amor.
A Fuga.
Os passos espalhavam água por toda a rua encharcada. O cheiro era de verão, com gosto de chuva rápida. O sol caía do céu lentamente, em câmera lenta, repleto de dramas. Os passos eram nervosos, confusos, indecisos. Ela sofria e, por isso, corria; fugia; abandonava.
Tudo parece calmo, sem surpresas, sem novidades. Era morno, habitualmente morno. Todos tinham aquele sorriso sem graça, de quem já não sonha mais. "Estamos arrasados? Não temos motivos para sermos felizes? Desistimos?" Pensara antes de correr.
Correu, correu, ninguém percebeu. "Não sou como eles. Sou melhor que isso. Melhor que eles. Eu serei feliz, sozinha!"
Era sua fuga. Só sua. Mas o que era esse gosto de vazio? Essa sensação de derrota? A pior colocação no primeiro lugar do pódio.
Ela corria e deu de cara com um beco sem saída. Deu meia volta. Quanto mais andava, maior ficava o buraco em seu peito. Um passo a mais, uma pá a menos. Não aguentou mais, cedeu. Ofegava, seu coração apertado e gelado.
Percebeu afinal, tentava fugir da dôr e da tristeza. Mas a causadora perseguira-lhe até lá.
Sua fuga foi completamente em vão. É impossível fugir de si mesmo para ser feliz. Somente enfrentar-se.
No beco sem saída, ela seguiu em frente.
terça-feira, 19 de julho de 2011
Anedota.
Toc-Toc! Quem é?
Ninguém! Ninguém quem?
Ninguém nunca vem me visitar.
Anedota.
sexta-feira, 15 de julho de 2011
O bobo da corte.
Com o tempo sua fama foi aumentando, pessoas vinham de todo o mundo ver o tal bufão, apenas para dar boas risadas às suas custas. O bobo da corte fazia rir quem apenas chorava, resolvia problemas e acabava com guerras.
Foi depois dessa imensa fama que ele obtivera que veio um convite do rei do maior império do mundo para que o bobo fosse trabalhar em seu império. Todos da pátria do bobo ficaram orgulhosos, incentivaram-no para que ele fosse aproveitar tal glória mas ele recusou, queria apenas ficar em sua casa, queria sorrir novamente, pois desde que se tornara bobo da corte nunca mais conseguira resolver seus próprios problemas muito menos ser feliz mais uma vez.
O bobo da corte.
Se perguntassem uma característica dele, diriam que ele era engraçado, e é isso que era. Era um gênio, todos gostavam dele, todos riam com ele, chegavam até a admirá-lo.
O tempo passou e sua fama cresceu, era tão engraçado, tão bem humorado, tão divertido. Claro que em alguns momentos ele ficava triste; preocupado; desanimado, ele era humano, afinal, mas encarava descontraidamente.
Até que um dia o rei o chamou ao castelo.
- Meu jovem, ouvi dizer que és o mais engraçado de todos, é verdade?
- Olha, Seu Rei, eu até podia fazer uma piada sobre isso pra provar que sou, mas a piada aqui é eu manter a seriedade e não chocar ninguém fazendo uma anedota diante de vossa majestade. A reviravolta é não ter reviravolta, sabe?
- Hahaha, você é bom, garoto. Doravante será o bobo da corte do reino, e ganhará a vida fazendo os outros rirem, que achas!?
O bobo da corte não respondeu, apenas abriu um grande e belo sorriso. O primeiro sorriso falso que já dera, que marcava o fim dos verdadeiros.
terça-feira, 12 de julho de 2011
Menino-poeta.
Só quero brincar, me divertir.
Não quero trabalho e compromisso.
E por outro lado, quando penso em você.
Quando penso e sinto, é só o que quero.
Seu amor, eternamente.
Essa chama ardente, que aquece meu peito.
De um lado a diversão inconsequente,
do outro o coração carente.
Eu sou um pouco dos dois,
por você e por mim.
Não há uma escolha correta
sou mais um menino-poeta.
Menino-poeta.
sexta-feira, 8 de julho de 2011
A Partida de Futebol.
Era um bando de homens crescidos agindo como crianças, basicamente isso. Um bando de homens correndo atrás daquela esfera e tentando empurrá-la dentro de uma das metas, e um outro bando gritando para que o primeiro bando desempenhasse bem sua função.
Mas não era exactamente isso, embora o primeiro bando ganhasse milhões para fazer aquela função quase troglodita, havia um sentimento envolvido em todo esse processo. O segundo bando amava isso, alguns de maneira irracional e exacerbada, mas amavam. E, mais do que isso, o processo também promovia o bem. Ao conhecer mais o assunto pude ver que não era apenas uma coisa qualquer, era muito mais do que isso. Fiquei sabendo que havia gente que morria por aquilo, não apenas no sentido figurado, um integrante do primeiro bando que fora assassinado devido a um erro que cometera em sua função. Soube também que havia gente que vivia apenas por aquilo, uma equipe pertencente ao primeiro grupo que, mesmo em meio a uma guerra, usou deste suporte para mostrar no que ainda acreditava.
Podia até parecer coisa pouca, uma mera partida de futebol, mas ia além.
A Partida de Futebol.
Era 13 de Julho de 2014, todos estavam reunidos em casa para o grande evento do século. O bairro inteiro vestido de amarelo em frente a TV da sala. Meu pai lado a lado com o nosso vizinho que ele tanto odiava, o engraçado é que eu sempre os achei muito parecidos, e imagino que seriam grande amigos, caso um não torcesse para um time verde-e-branco e o outro para um branco-e-preto.
Era 13 de Julho de 2014, mais precisamente às 17:48 e o time de Amarelo estufou a rede to time azul. O país foi a loucura, festa, fogos, muita gritaria e ofensas - chacotas - jogadas ao ar. Fogos, festa, alegria - muita alegria - por uma bola que foi chutada por cima de uma linha.
Eu não entendia muito bem por que tudo isso, mas eles estavam felizes. Eu ainda não entendo hoje, mas lembro da seguinte cena: O homem de preto pegou a bola, levantou o braço direito, apitou. Os amarelos festejaram, os azuis lamentaram. Meu pai abraçou o vizinho e, pasmém!, chorou. Meu pai chorou.
Eu ainda não entendo o futebol hoje, mas aquela partida de futebol me mostrou que não é para ser compreendido com a cabeça, e sim sentido com o coração.
terça-feira, 28 de junho de 2011
Ruas Paulistanas.
conheci uma garota diferente;
Era uma tarde de Outono:
Dia 13 de Maio.
Augusta,
cabelo amarelo, all-star azul.
Camisa xadrez, piercing na boca.
Entretinha-me tanto,
com seu jeito diferente de falar,
seu leve modo de andar.
Augusta,
Por que me abandonou?
Era o centro de minha vida, e nada restou.
Luis Antônio,
um skatista divertido e descolado.
Não hesitou para se entregar,
para partir meu coração.
Augusta, Augusta.
Uma garota Paulista.
Que me deixou no Paraíso.
Augusta, Augusta.
Ainda te vejo em cada esquina,
em cada rua dessa cidade,
nas Ruas Paulistanas.
Augusta, Augusta
Me levou ao Paraíso,
Mas no final foi Consolação.
Ruas paulistanas.
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Dois amigos.
- Ah... Não sei, deixa eu ver o que tá em cartaz. - Respondeu o garoto enquanto analisava os filmes na bilheteria.
- Eu queria ver o filme hoje, sabe? - Disse em tom de deboche e deu um soco no ombro do rapaz.
- Haha, como você é engraçada. Por que não ajuda a escolher então, já que tem tanta pressa? - Ele falou apontando para os filmes.
- Claro, claro, eu tenho que decidir tudo pra você né. Bom... Não me abandone jamais?
- Quê? Nunca ouvi falar, próximo.
- Piratas do Caribe! Piratas do Caribe, por favooor. - Pediu fazendo bico.
- Credo, nem implorando.
- Chato. Meia-noite em Paris? Ah, não, parece ruim.
- Parece bom. - Disse sorrindo.
- Ruim. Se beber não case 2, eu ri bastante do primeiro.
- Eu nem vi o primeiro.
- Assim você dificulta, sabe?
- Sei sim, é como eu me divirto.
- Já achei. Esse é a sua cara. Carros 2.
- Carros 2! Animação. Diversão!
- Ok, ok. - E virando-se para o bilheteiro que esperava pela decisão dos amigos pediu dois ingressos para o filme.
- Odeio trailers. - Ela disse soprando sua franja como se entediada.
- Odeio sair contigo. - Ele disse tomando sua Coca.
- Então não saia, ninguém te obrigou a aceitar. - Respondeu pegando a Coca da mão dele.
- Calma, besta. Era brincadeira. - Estava nervoso, ansioso. - cê sabe que eu curto sair contigo, você é uma das minhas melhores amigas.
- É, e você é o um dos meus melhores, eu também tava brincando... - Ela notava seu nervosismo, sempre notava. - Relaxa.
- Ok... É só que... cê sabe. - Era apaixonado por sua amiga. Perdidamente. Eternamente. E isso era horrível, mas não podia evitar. - Deixa pra lá.
- Argh, pare com isso. - Ela se inclinou para frente. Ele se assustou.
Ela se aproximava devagar, seus olhos de encontro aos dele, que estavam arregalados. A respiração forte, o coração rápido. O mundo começou a girar cada vez mais lentamente. Ele não tinha reacção. Mas ela sabia o que estava fazendo, como sempre.
Tocaram-se. Seus lábios colados, quentes. Ela era macia, doce, e quente, sempre quente. Ele era receoso, apaixonado, e quente, com ela. Ele fechou os olhos assim que o mundo parou. Ela começou a se afastar e então estalou seus lábios com o dele, olhou-o nos olhos, sorriu, sentou-se no seu lugar.
- Eu sei que você queria isso... desde...
- Sempre? - Ele sugeriu enrubescido.
- É, tipo desde sempre. - Ela concordou meneando a cabeça. - Enfim, desde sempre. E, sei lá, você é meu amigo, amigos querem ver os outros felizes... Mas eu estou com outrem agora, cê sabe. E você é meu amigo, só meu amigo. Espero que entenda. - Terminou colocando as últimas palavras cuidadosamente na frente do rapaz. Procurando não derrubar a pilha de sentimentos que ele tinha de equilibrar quando estava com ela.
- Sim, eu entendo. - E ele realmente entendia, estava leve como uma pluma que alçara voo com um sopro de vento quente de uma tarde de verão. - Eu entendo, você é minha amiga, somos amigos, só amigos. Aham. Você é tipo, minha melhor amiga, cê é incrível, boba. - Sorriu e virou-se para o telão. - O filme já vai começar.
E assistiram ao filme, riram, brincaram, divertiram-se. Eram dois amigos. Dois verdadeiros amigos. Apaixonados pela amizade um do outro. Renovando e descobrindo o que é a amizade.
Dois amigos.
Esse garoto tinha diversos amigos, ou melhor, diversas pessoas que lhe chamavam de amigo, pois para ele não passavam de colegas.
Haviam colegas de escola, aqueles que sequer ligavam para ele em nove de cada dez casos, e o décimo caso configurava uma véspera de prova de uma matéria que o garoto dominava com mestria. Ele jurava que pararia de falar com eles, que a qualquer hora perderia a paciência e diria o quanto os repudiava.
Haviam os colegas de trabalho, aqueles que sequer ligavam para ele na maioria dos casos, e só interagiam com ele quando era realmente necessário. Estes ele respeitava, ao menos não fingiam gostar dele.
Haviam alguns amigos - ou coisa parecida -, aqueles que gostavam dele, que andavam com ele não apenas por interesses. Destes ele gostava, os respeitava, mas sabia que não tinha algo verdadeiro quando percebia que nada sabia sobre eles e eles nada sobre ele.
Haviam os amigos sazonais, aqueles que surgem de repente, formavam um forte vínculo com ele e iam embora. Destes ele também gostava, mas conseguia viver sem eles após a partida.
Havia por fim uma amiga isolada, aquela que era tudo para ele, aquela por quem ele morreria, ela sabia tudo sobre ele e ele tudo sobre ela. Ele a amava, ela também o amava mas, diferentemente dele, ela tinha outros amigos verdadeiros e costumava deixá-lo de lado. Nesse caso ele acabava sem ninguém, ou com amigos falsos, o que é ainda pior, e esperava conhecer alguém novo, não eram necessários milhões, mas pelo menos dois amigos verdadeiros.
terça-feira, 21 de junho de 2011
Educação.
E eu sou o monstro que ela criou.
Na escola nunca aprendi a ter compaixão,
não com essa tão chamada educação.
Nós não precisamos de educação.
Nós não precisamos de controle da mente.
Resolvo facilmente qualquer problema matemático.
Mas resolver meus problemas sociais seria mais prático.
A educação é superestimada.
E eu sou o monstro que ela criou.
Nunca aprendi nada sobre amor, amizade, pena ou compaixão.
Somente sua definição.
Na escola eu aprendi sobre o pretérito imperfeito,
mas não está nas apostilas como esquecê-lo.
Nós não precisamos de educação.
Precisamos de coração.
Educação.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Trilhos.
Ficou a pensar na plataforma sobre o que seria aquela nova vida. Trilharia um novo caminho, estava bem certa disso. Não estava certa de que caminho era esse, apenas estava certa de que ele diferia de qualquer outro no qual caminhara por toda sua vida.
Entrou no trem.
Tomou um lugar ao lado da janela. Tomaria vento, veria tudo. Adorava lugares à janela, considerava-os ideais para alguém observador como ela.
Abriu seu livro. Algo semi-intelectual, uma literatura daquela que os jovens leem justamente para não compreender.
Fechou seu livro. Já havia o lido por três quartos de hora, o suficiente para enevoar a mente. Haveria de achar alguma outra coisa para fazer sobre aqueles tediosos trilhos. Queria algo que não encontrava em si.
Uma moça trouxe-lhe em um daqueles carrinhos algo para beber. Ela recusou. Ironicamente, agora não queria nada.
Passou-se mais um quarto de hora. Resolveu contrariar-se mais uma vez ao dirigir-se ao vagão onde eram dadas as refeições. Sim, voltara a querer algo. Ela era assim, apenas uma jovem, uma constante contradição.
Sentou-se a uma mesa qualquer. Pediu um prato que não importa junto de uma bebida ainda menos importante. Levou à boca o primeiro pedaço daquela refeição, parecia frio mas não estava, era apenas sua sensação.
Levantou os olhos, cansara-se da comida medíocre. A primeira coisa que avistou foi a última que deveria lá estar. Ela sentiu tudo aquilo de novo. E de novo.
Descarrilou.
Trilhos.
Até que um dia, o caminho me deu duas opções e eu não pude simplesmente me deixar guiar, eu tinha de escolher. Na bifurcação entre a emoção e a felicidade o trem descarrilhou, eu não consegui escolher e não seguir nem pra lá nem pra cá. Apavorado, tomado pelo pânico. Eu sempre segui os trilhos, o que eu faria agora? Eu iria morrer, com certeza, mas eu continuava a correr, cada vez mais rápido. Admito que tentei parar, puxei os freios de segurança, mas de nada adiantou. Talvez eu não tivesse a intenção de parar, talvez fosse algo inconsciente me dizendo pra seguir em frente.
Eu perdi os trilhos, eu me perdi. Estava sem rumo, seguindo em frente já não sei mais pra onde. Sem destino. Eu descarrilhei, tinha medo, estava ansioso, nervoso. Era tudo novo, tudo diferente. Eu não conseguia - ou não queria? - parar, e cada vez mais rápido eu seguia para lugar nenhum. Dos trilhos eu saí, eu já não precisava mais deles quando percebi para onde ia.
Eu descarrilhei? É impossível dizer isso. Eu não perdi o meu rumo, entre a felicidade e a emoção eu segui até você. Eu não descarrilhei, eu segui os trilhos do meu coração.