sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Cavaleiro e a Princesa.

Era uma vez... se bem que essa não foi a única vez que isso aconteceu no mundo, mas ignoremos, esse deveria ser um desses contos lindos e fabulosos onde todos são felizes, mas não é, e conforme eu vá contando-lhes a estória, entenderão o porquê.
Eles viviam em um lugar qualquer, mas pode imaginar uma campina com campos verdejantes e algumas flores rasteiras se quiser. Um castelo, sim, um castelo. Ela vivia num castelo, aos olhos de alguém aquilo era um castelo, aos olhos dele, já que ele a via como Princesa. E ele era um Cavaleiro para si, era um grande Cavaleiro e haveria de ser Príncipe, depois do casamento, o casamento. Ele sonhava em casar com ela, ele poderia e merecia casar com ela, ele a valorizava, ele a amava, ele satisfazia todos caprichos dela, ele a amava.
Mas ela não pretendia nem sonhava em casar com ele. Ela não pretendia casar. Sim, a Princesa deixaria o trono vazio após sua morte, mas deixemos estar. Mesmo sem casar ela tinha casos, ela gostava de homens malvados, que não a amavam de volta e que não a valorizavam tanto quanto o cavalheiro Cavaleiro. Ela gostava era de, sem o perdão da palavra, porque essa é uma história crua e cruel, de homens canalhas. Canalhas mesmo, daqueles que falavam mal dela na cara, que admiravam no máximo seu corpo, e só, sem sentimento nem nada, apenas algo carnal.
E ninguém viveu feliz em ocasião nenhuma.

O Cavaleiro e a Princesa.

- Como ela é linda. Quem é? - Perguntou o jovem cavaleiro.
- Ah, ela? É a princesa Névoa. Mas não se engane por sua beleza, ela é uma pessoa muito fria que não se importa com ninguém. - Respondeu o pintor que trazia o quadro da princesa.
- Fria? Impossível! Ela tem um sorriso lindo, mas parece tão triste. Diga-me de que reino vem a princesa?
- De bem longe, meu caro, do reino de Restinga. Aceite um conselho, não perca seu tempo com ela. Ela mora tão longe, e não irá te fazer bem. Todos que se apaixonam por ela acabam feridos. E você bem sabe que não há armadura de aço que te proteja de um golpe do amor. Esse quadro, por exemplo, foi encomendado pelo príncipe. Ele está louco de amor, deseja tê-la a qualquer custo, mas ela o recusa. - Explicava enquanto mostrava a tela ao cavaleiro.
- Essa pele tão ebúrnea, esses cabelos tão rubros. Não acredito nisso. Não. Mandarei o mensageiro lhe entregar uma carta, preciso falar com ela, ela não pode ser como você diz! - Exclamou ao sair do castelo.


Escreveu uma carta sem assinatura mas repleta de amores, e a entregou ao mensageiro.
- Quero que mande essa carta no primeiro pombo que vá para Restinga! - Pediu o apaixonado cavaleiro.
A pomba bateu asas e foi entregar as palavras de amor para uma princesa gelada.


Na semana seguinte a pomba voltava para a torre do mensageiro. Ao avistar a ave o cavaleiro correu ansioso para ver se tinha recebido uma resposta.
"Para o cavaleiro sem nome." era assim que começava a carta. Ela dizia como era triste, como odiava seu reino e que precisava de alguém para salvá-la. Mas ninguém via isso, achavam que só porque ela sorria a toda hora ela era feliz; que por ser uma princesa devia ser falsa. Ela estava sempre sozinha, não tinha ninguém. E só precisava disso, de um abraço, de alguém para fazer com que se sentisse viva. "De sua princesa Névoa." ela terminava.
O coração do cavaleiro batia tão forte que quase rasgava seu gibão. Ele se decidira, iria à Restinga para ver a princesa. Não importando o que dissessem.
Escreveu uma carta avisando seus planos e partiu assim que a pomba mergulhou no horizonte, comprara a pomba com as moedas de ouro que lhe restavam, para que pudesse falar com ela enquanto não chegava até lá, pois a viagem era longa e árdua.
"Você não conseguirá. Deixe de loucura. Ela não merece isso. É só uma garota. Você ainda é fraco para tal viagem." Disseram-lhe, mas ele precisava fazer isso, ele via a dor no sorriso da princesa, era tão forte, tão triste e, também, tão conhecida por ele.


Os dias passavam. Semanas. E o cavaleiro continuava sua jornada. A única companhia que tinha era a das doces palavras da princesa que recebia a cada três ou dois dias. Ela mal podia esperar por sua chegada. Ele mal podia esperar para ver seu sorriso. "Eu não posso te ver, mas me diga seu nome, nobre cavaleiro." Ela sempre dizia isso. Sempre desejava vê-lo, mas teria de aguardar até o encontro. "Não entendo por que sua curiosidade, já lhe disse que decepcionar-se-á. Não sou o que chamam de belo." ele respondia. Mas ela insistia "A Beleza está nos olhos de quem vê, e por isso eu preciso vê-lo."
Depois de mais algumas cartas e mais algum amor ele mandou a última : "Estou chegando aí. Finalmente me verá. Tem certeza de que realmente quer isso?" "É o que mais quero." Foi a resposta.


O Cavaleiro enfim chegou. Todos desejavam ver quem ele era por trás daquele elmo prateado. Todos queriam ver o rosto daquele que fez a Princesa feliz. A Princesa se aproximou lentamente. Com as mãos no elmo, ele preparava-se para se mostrar a sua amada. Mas ela o parou.
- Mas, Princesa, você não quer me ver?
- Eu já o vi. - Respondeu com um sorriso terno.
- Quando? Como?
Pousando sua mão no peito esquerdo do Cavaleiro ela disse. "Eu já te vi. Vi bem aqui. E é lindo."
E se perderam num abraço eterno.