sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Rotina do trabalho.

Acorde. Levante. Arrume-se. Pense. Coma. Despeça-se. Saia. Pense. Vá. Sofra. Chegue. Obedeça. Pense. Trabalhe. Sorria. Pense. Siga. Seja. Procure. Ache. Termine. Pense. Volte. Vá. Chegue. Resmungue. Descanse. Pense. Assista. Jante. Pense. Durma.
Acorde cedo. Levante agora. Arrume-se rápido. Não pense. Coma o café da manhã. Despeça-se de sua esposa. Saia para a rua. Não pense. Vá ao trabalho. Sofra no ônibus. Chegue atrasado. Obedeça seu superior. Não pense. Trabalhe intensamente. Sorria para o chefe. Não pense. Siga as ordens. Seja solícito. Procure o relatório que ele pediu. Ache o tal relatório. Termine o trabalho. Não pense. Volte para casa. Vá num ônibus lotado. Retorne tarde. Resmungue para sua mulher fazer a janta. Descanse na poltrona. Não pense. Assista os gols da rodada. Jante o que sempre janta. Não pense. Durma sem pensar.
Acorde tarde. Levante mais tarde. Arrume-se para ela. Pense nela. Coma qualquer coisa. Despeça-se de mamãe. Saia com ela. Pense nela. Vá encontrá-la. Sofra por ela. Chegue no encontro. Obedeça a razão. Pense nela. Trabalhe em prol da felicidade. Sorria com ela. Pense nela. Siga a emoção. Seja feliz. Procure o amor. Ache o amor. Termine com ela. Pense nela. Volte para casa. Vá em lágrimas. Retorne cabisbaixo. Resmungue sobre como odeia o amor. Descanse seus sentimentos. Pense nela. Assista vídeos da banda preferida dela. Jante sushi, que ela adora. Pense nela. Durma pensando nela.
Acorde para a vida. Levante seu queixo. Arrume-se de qualquer jeito. Pense na sociedade. Coma algo restaurador. Despeça-se do passado. Saia dos clichês. Pense na sociedade. Vá atrás de aliados. Sofra pela atual situação. Chegue a qualquer lugar. Obedeça a ninguém. Pense na sociedade. Trabalhe na mudança. Sorria ao imaginar o futuro. Pense na sociedade. Siga ideias revolucionárias. Seja um idealista. Procure igualdade. Ache o contrário. Termine sua lista de reivindicações. Pense na sociedade. Volte para casa. Vá confiante. Retorne alegre. Resmungue sobre como odeia o sistema. Descanse um pouco. Pense na sociedade. Assista discursos de revolucionários. Jante nada demais. Pense na sociedade. Durma esperançoso.

Rotina do trabalho.

Acorda com os olhos vendados pelo sono. Levanta-se com o peso das correntes que querem o prender na cama. Banha-se apressado pelos guardas da consciência. "Come" correndo e se queima com o café amargo. Aperta o passo para chegar ao transporte público. Enfia-se d'alguma maneira no mar de pessoas. Espera horas no mesmo lugar, cada vez mais quente, cada vez mais gente. É transportado como um animal até o local do trabalho. Chega um minuto atrasado e tem o "salário" cortado. Ouve reclamações e broncas o dia todo. Engole a refeição fria, igual a de ontem e de amanhã. Continua trabalhando. Vai embora n'um transporte ainda mais cheio que o da ida. Caminha para casa arrastado pelo sono como se fosse grilhões presos em suas pernas. Dorme mas não descansa. Sonha e acorda. Acorda com os olhos vendados pelo sono. Levanta-se com o peso das correntes que querem o prender na cama. Banha-se apressado pelos guardas da consciência.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Confissões

A luz estava forte na sua cara.
"Vamos, já sabemos de tudo, confesse!"
"Se eu confessar, você para?
por favor, não se estresse..."

"Eu confesso... tentei roubar um coração.
Mas eu juro que não foi por maldade.
Eu fui coagido por uma dama chamada paixão,
por favor, tenhas piedade."

"Já era tempo de uma confissão!
Muito bem, veremos sua punição:
por ter tentado roubar o amor,
sempre que a ver, sentirá muita dor.
Quando ela passar, seu coração partirá,
ao ouvir uma música de amor, sozinho chorará."

E ao confessar esse tolo crime,
ao pior castigo fora sentenciado,
o castigo de sempre estar apaixonado.

Confissões

Certo, eu confesso.
Não sou nada do que pensam
Para ser sincero, odeio vocês
Pois é, cansei-me dessa falsidade.

Muito bem, confessarei.
Não aguento mais esse lugar
Ele sequer chega a ser suficiente
Se pudesse, estava a léguas daqui.

Se deixar, eu posso confessar
Sofro em seu lugar por seu erros
Você não é mais nada do que era
Com ideias que não refletem aquela que amei.

Então eu confesso.
Sou completamente infeliz
Nem sei mais o que quero
Mas sei que não quero mais mentir.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A decepção do pajem altruísta.

O sol estava no céu. Pássaros passavam sobre o reinado de Oh. Haviam colinas até onde se podia ver, eram campos verdejantes contrastados por produtivas plantações dos camponeses e delicados jardins nos quais eram plantadas flores destinadas à nobreza de Oh.
Frente à paisagem o castelo não fazia feio. Possuia uma imponente e, ao mesmo tempo, arquitetura de aparência frágil, típico de uma história de conto de fadas que veríamos muito facilmente num livro infantil. Por dentro não deixava a desejar. Possuía diversos quartos, salas de jantar, jogos e tudo o mais que você possa imaginar. Destacando-se o salão principal. Onde ocorriam todas as festas da corte, encontros da nobreza e todas as condecorações do reino.
Já a nossa história não começa no castelo, tampouco na nobreza. O nosso herói é um garoto simples, nascido em meio aos camponeses. O seu nome eu não me lembro muito bem, mas tenho certeza que rima com Sim. Com Sim também rimavam suas ações, era um garoto correto e bastante otimista. Sonhava em ser um dia da família real para ajudar o reino e seus amigos camponeses, mas todos lhe diziam que isso era impossível pois apenas parentes do Rei podiam fazer parte dela. Isso não era problema para ele. O plebeu era imensamente apaixonado por princesas e, para ele, casar-se com uma não era nenhum sacrifício.
Passaram-se vários anos, o outrora pequeno garoto já é hoje um rapagão de aproximadamente vinte anos. Durante esses anos ele se tornou respeitado no vilarejo em que nascera e fez muitos amigos. Dentre eles se destacava um homem com uma cara que lembrava a de um cachorro, era mais velho e mais sábio que o nosso amigo plebeu.
Eis então que nosso herói conseguiu viver em meio à nobreza. Se pensa que ele acabou descobrindo que era o filho perdido do rei ou acabou por casar-se com a adorável princesa, bem, você errou. Ele conseguiu uma vaga como pajem do diabrete do príncipezinho. Ele então ficou excessivamente feliz. Achou que com isso poderia conhecer a vida da realeza e até, quem sabe, virar conselheiro ou algo assim do Rei.
Então ele vivia no castelo, sempre com os membros da corte. Mas algo lhe parecia errado, a Rainha só queria saber de peças de ouro, colares e vaidade. A Princesa só queria ter casos com duques, barões e até baronesas, mas nunca pensava em um bom marido para ser um possível sucessor ao trono de Oh. O Príncipe só sabia bater em animais e irritar os príncipes de reinos vizinhos, nada altruísta como deveria ser o príncipe que Oh merecia. Já o Rei, esse era um caso a parte, só gastava com coisas inúteis e mandava atacar vilarejos pacíficos, apenas pela diversão.
Foi aí que nosso amigo pajem descobriu que nem tudo é perfeito, e foi aí que ele teve sua maior decepção. Ele percebeu que, infelizmente, levaria um bom tempos para Oh ter governantes a altura de seu batalhador e caloroso povo.

A decepção do pajem altruísta.

Era um belo jovem, de feição generosa e pacífica, enfeitado com um sorriso inocente e recatado, de estatura média e cabelos espiralados cor-de-palha. Estava em seu último ano de serventia para a família dos Liverotto e discutia com o Sr. e Sra. Liverotto sobre seu futuro.
- Paolo, tu deves graduar-te e seguir em frente. O trabalho que executara sempre fora com carinho e dedicação, e temos certeza que serás muito feliz, tu mereces.
-Mas, Sr. Liverotto, eu preciso cuidar de Alexandre, ele ainda precisa de minha ajuda, eu não posso abandoná-lo agora!
-Basta, Paolo. Onde já se viu? Prolongar seus serviços... Tu e Alexandre poderão continuar se falando, mas não precisas mais servir-nos. Agora vá.
Paolo, com seus olhos principiando a se afogar, correra para seu quarto e trancou-se.
-É tão bom o jovem Paolo, bom demais... - disse a Sra. Liverotto.
-Sim, é uma pena que não perceba como o mundo é cruel, e toda essa generosidade só trará frustrações em sua vida, se não for bem dosada.
-Concordo, mas agora vamos que o jantar já está sendo servido.
-Vamos.

Algumas semanas depois, Alexandre encontra Paolo, por acaso.
-Alexandre, amo Alexandre! Há quanto tempo! Como estás? Por que não damos uma volta, sim?
-Paolo, já dissemos, não sou mais teu amo, não és mais meu pajem, somos apenas amigos iguais.
-Perdoe-me, amo Ale-digo, Alexandre, acho que acostumei-me, mas diga-me, o que fazes aqui?
-Ah, Paolo só vim entregar uma carta para o D. Tomasso Strozzi. Não digas que te contei, mas as coisas ficaram um pouco bagunçadas sem ti lá em casa...
-Alexandre, amo Alexandre! Queres que eu volte? Digas que sim que eu volto. Não, não recuses, então, sua carta, deixe-me entregá-la. Obrigado amo Alexandre, vou e já volto. Por favor, amo Alexandre, sinta-te livre para ir à minha casa, estamos tendo um banquete especial, vá lá que logo vou atrás. Quero apresentar-te à Giulianna, verás como ela é linda. Tem os olhos de céu e cabelos de sol. Verás como é um anjo entre nós mortais. Como estou apaixonado, amo Alexandre, mas agora tenho de entregar essa carta, adianta-te lá, conhece Giulanna que já vou.

Chegando à casa de Paolo, Alexandre vê que não era a paixão que abrumara a visão do jovem pajem, tua amante era realmente linda. Seu rosto parecia ter sido esculpido em marfim. Teus olhos realmente eram tão cerúleos que só de vê-los, ficávamos em paz. Entretanto, Paolo não mencionara outros detalhes de Giulianna, provavelmente porque não importava-se, ao contrário de Alexandre, que achava essêncial. A beleza de Giulianna não limitava-se somente à sua face, e seu corpo parecia moldado, de tão belas e perfeitas que suas curvas eram. Alexandre tinha de tê-la, precisava tê-la. E não adiaria essa guerra, travá-la-ia agora. Ao ataque Alexandre foi.

Passado algum tempo, sem muita relutância, Giulianna já estava em seus braços, na realidade, Alexandre achara muito fácil, pouco divertido. Contudo, o proibido, o adúltero, faziam-no enlouquecer. Ele queria mais. E ela também, toda a santidade que ela vestia foi despida. A força, com prazer, por Alexandre. Os dois traíram a mesma pessoa, os dois pecaram. Os dois concordaram:
-Pobre Paolo, sua generosidade será tua ruína. É tua ruína.
Em sua própria casa, sob seu próprio teto, em sua própria cama. Os dois mostravam a ele como ser bom nunca é bom. A porta se abriu. Do outro lado, um pálido Paolo surgia. Sua boca escancarou-se, mas nada conseguia dizer. Uma cólera apossou-se dele. Toda a ira que evitara em sua vida. Todos os sentimentos ruins que negara e trancara. Tudo subiu-lhe à cabeça. Sempre o fizeram de tonto, de tolo. Sempre aproveitaram-se de seu altruísmo. Sempre disseram que tamanha generosidade era burrice. Mas ele sempre acreditou que se fosse bom, a vida seria boa com ele. Porém, a vida estava se desfazendo à sua frente, fora traído em dobro. Por duas das pessoas que ele mais estimava, com quem mais fora bom. Não mais! Nunca mais o fariam de bobo! Embebido em loucura, pegara um punhal e erguera como se fosse a lua no céu. Era a última bela noite que os dois veriam.
-Eu não aguento mais tanta desonra, não aguento mais ser o bonzinho da história!
Giulianna chorava de medo, Alexandre sorria de excitação.
-Então, venhas, mate-me! Quero ver do que és feito, Paolo!
Cortando o vento, Paolo atacou. O sangue jorrou, sua mão banhou-se de escarlate, o chão criou uma poça de lágrimas vermelhas. De joelhos, o jovem pajem chorava. Acabara de cometer um pecado mortal. Acabar de acabar com uma vida com suas próprias mãos. A culpa doía, doía muito mais que o punhal que estava cravado em teu próprio peito.
-Não aguento mais tanta desonra, não aguento mais ser o bonzinho da história, não aguento mais essa vida sofrida...
E caiu.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Adverbial

Querida, você é tão adverbial
Trazendo consigo circunstâncias
As quais mudam demais meu amor.

Causa sempre a minha eterna dor
Sofro porque deixou-me sozinho
E encheu de dores meu coração.

É a condição para meu viver
Sofro tanto se não lhe vejo
Minhas saudades me derrubam.

O fim de todas minhas ações
É para que eu faça-lhe feliz
Para ver aquele seu sorriso.

Admito que posso te perder
Amar-lhe-ei, embora nunca me ame
Te aceito então, eterna solidão.

Eis a relação entre nossas vidas
O sofrimento aumenta demais
À medida que o tempo se vai.

Ninguém comparar-se-á contigo
E eu nunca serei como ele foi
Nunca satisfarei seus desejos.

Não a valorizei o suficiente
Perdi sua mão para outra mão
Conforme era esperado de mim.

Por quanto tempo hei de sofrer?
Me diz quando vai voltar aqui
Que é menos tempo que o que sofri.

Vivo por influência de ti
E por ti derramei tantas lágrimas
Que enferrujei meu coração.

Adverbial

O que você me sentir é mais que normal,
por completo, você me modifica.
Deixa meu sorriso diferente
e meu coração passa a bater acelerado.
Apaixonei-me, desse modo, em perso e vrosa,
pois brilhas mais que um raio-de-sol,
és graciosa como um rouxinol
e tens a delicadeza d'uma pétala-de-rosa.
Transformas em certo o que era errado
e, de repente, me faz viver mais contente.
Dar-te-ei, simplesmente, uma dica:
Você é, de fato, mais que adverbial.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Casulo

Era uma tarde de primavera. Todos animais, insetos e demais coisas da natureza seguiam sua ordem natural. As abelhas saíam por aí cozinhando mel e conversando com as flores enquanto as polinizavam. Bem-te-vis cantavam alegremente uns para os outros sobre coisas que diziam ter visto mas as cobras-cegas teimavam em discordar. Tudo ia otimamente bem, a fauna e a flora andavam calmamente.
Mas foi aí que a senhora Capivara ouviu alguns gemidos vindos do topo de um Jequitibá. Chamou então seu amigo Pintassilgo e pediu que ele fosse lá em cima procurar descobrir de quem vinha aquele choro.
A esse ponto, roedores, aves e insetos já se aglomeravam em torno da frondosa árvore, tamanho o volume do choro que vinha lá de cima. Corujas e Morcegos vinham reclamar com a Capivara para que parassem com a bagunça, Grilos e Sapos amplificavam a barulheira enquanto D. Capivara se desesperava pelo animal que estava a chorar.
Nesse momento, voltou o Pintassilgo. Era uma jovem Lagarta que chorava. Reclamava que não podia sair daquele casulo e integrar-se com todos, ela disse a ele que queria mais que tudo brincar todas as tardes com os Patinhos que banhavam-se no rio e que adoraria ir a uma missa com a família Louva-a-Deus e, por isso, ficava triste.
Mas por mais que o pássaro tentasse prender a atenção dos ouvintes sempre aparecia um Morcego para praguejar sobre um Grilo que não parava de fazer barulho com seu bater de asas ou um Sapo que, repentinamente, coaxava bem alto apenas para incomodar uma Coruja que tentava dormir.
Em meio a toda essa confusão ouviu-se um grito estridente vindo da árvore, mais precisamente do galho onde estava a triste Lagarta. Todos então foram tomados por uma forte preocupação, e, por esse motivo, gritavam ainda mais, alguns torciam pelo bem da Lagarta, outros falavam que era muito sentimentalismo por parte dela, que ela apenas estava fazendo aquilo para aparecer. Neste momento começou mais uma discussão devido a essas opiniões conflitantes, mas antes que a coisa tomasse outras proporções chegou a Lagarta, ou melhor, Borboleta e tomou a atenção de todos. Zangões apaixonaram-se naquele instante e, também naquele instante, foram reprimidos por suas esposas Abelhas.
Ao ver todo esse alvoroço a Borboleta assustou-se e percebeu que a vida lá fora não era tão boa quanto ela pensava e, às vezes, é melhor ficar só em seu casulo.

Casulo

Sempre fora uma larva cinza e sem graça. Uma lagartinha que foi menosprezada toda tua vida, embora pensasse grande, embora tentasse ser alguém. Cinza sempre era a cor de tuas vestes. Cinza cor de paisagem - numa cidade grande, a paisagem sempre é cinza. Pensara por muito tempo que era uma superficialidade importar-se com o exterior, supora por muito tempo que o interior era só o que tinha valor. Dia após dia, ela tentava ser valorizada, ser alguém nessa selva. Dia após dia, ela falhava, não era ninguém na floresta.
Até que um dia, caminhando sem rumo, pensando em como ser ouvida, viu a crisálida mais linda de sua vida. Era completamente dourada, cheia de adornos, no mínimo, excêntricos. Com babados jogados aqui e ali. Exageradamente belo, cada detalhe tinha um diferencial, era cravada de rubis flamejantes. O brilho que a crisálida emanava chamava, convidava, implorava pela lagarta. "Venha até mim, dócil larva, venha ser feliz, venha ser alguém", entoava ela. Caminhou até a bela pupa com passos angelicais, todo e qualquer movimento era coberto d'uma graciosidade ímpar. Entrara, enfim no belo casulo. A metamorfose tivera início. Começara a mudar.
Duas semanas depois, crescendo e amadurecendo dentro da aurélia dourada. Pensando e planejando dentro da pupa d'ouro. Ela julgava-se pronta para sair, para aparecer para o mundo. E mais que julgar a si mesma, julgava o mundo pronto para ela, ou melhor, o mundo precisava dela. Com a doçura d'uma mãe que descobre um filho n'uma manhã ensolarada para o desjejum, ela tirou a fina seda que a protegia. Como uma noiva que caminha para o altar, ela deu um passo para fora do casulo côr-de-sol. Olhara em volta, como quem acaba de acordar tentando entendenr onde está e sacudiu-se graciosamente para o sangue correr vivo em suas veias. A inocente e desprotegida larva tinha mudado. Deixara de ser alguém sem cor, desinteressante. Agora não, agora tornara-se uma linda e imponente borboleta. Com enormes asas verdes com detalhes púrpuras. Adornadas com pequenas esferas prateadas em cada ponta. Seu corpo era lânguido e comprido, dividido em quatro por horizontais faixas negras que constratavam sua pele creme. Carregava um sorriso sublime e amável, completo por um olhar sedutor e penetrante. Tinha duas antenas compridas e comportadas com um pequeno enfeite anil na ponta.
Saiu da crisálida para o mundo. Da sarjeta para os holofotes. Estava preparada para a fama, para os paparazzi. Alguns podiam acha-la um monstro, outros não conseguiam ler seu rosto. Ela era tudo isso e muito mais, mudaria o mundo, abalaria o mundo. Era esse teu destino. Ela nascera assim.