sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O ator.

Em seu camarim ele se escondia. Olhando naquele espelho, cheio de adornos e luzes, ele não se encontrava. Ao olhar para aquele homem, aquele homem que lhe encarara por toda a vida, ele não o reconhecia.
Após alguns minutos, ouviu um barulho. Batiam em sua porta, era a hora de se arrumar. Disse que já ia enquanto vestia aquele figurino e começava  a se entender. Abriu a porta e se dirigiu à sala da maquiadora. Nos corredores via pessoas, atores, atrizes, cenógrafos, figurinistas e artistas. Sentia-se intimidado por eles, embora todos o admirassem ainda mais.
Chegando à maquiagem, entrou timidamente, acenando a todos com a cabeça. Todos surpreendiam-se com sua maneira de ser. Sentou-se em frente ao espelho, a maquiadora lhe fazia perguntas sobre qual tom ele preferia, mas ele sempre ia se mostrando indeciso, deixando a decisão por conta dela. E assim ela ia prosseguindo, pintando-lhe a cara e deixando-o ainda menos ele mesmo. Quanto mais ela se aproximava do final, mais ele se mostrava insatisfeito e ranzinza. Reclamava dos tons que ela escolhia, resmungava que ela não sabia o que estava fazendo e que ela estava machucando seu rosto. Quando terminou a maquiagem, todos que haviam adorado sua simplicidade e timidez estavam assustados com o que ele se tornou. Não por culpa da maquiagem, - a qual estava hollywoodiana, daquelas que faz os jovens entristecerem-se por não serem como o ator, e as jovens entristecerem por jamais terem alguém como o ator - mas por culpa de quem ele havia se tornado, ou quem ele realmente era.
Depois ele tinha de fazer o cabelo, sorte da moça que lhe ia arrumar o cabelo que ele tinha um cabelo levemente curto. Ainda assim as reclamações foram muitas.
Pronto, ele estava pronto. Agora era só subir no palco e impressionar a todos. Merda para ele. Apenas mais uma olhada no espelho, estava perfeito, era outra pessoa, mas agora sim ele reconhecia a si mesmo.
Subiu no palco e foi brilhante, embora não fosse ele mesmo.

O ator.

Quando ela estava prestes a ir, ele a segurou firme pela mão.
Ela estava nervosa, seu coração acelerado. Tinha medo, medo de se entregar, de se perder, de se apaixonar.
- Espere, eu preciso te dizer algo.
Ela o olhava fundo nos olhos, via aquele brilho, aquela sinceridade. Apenas meneou a cabeça, apreensiva pelo que ele diria.
- Na verdade, não é muito, eu não consigo colocar em palavras... esse tempo que passamos juntos, por menor que seja, me mudou muito, e eu já não posso imaginar um futuro, uma vida, sem você.
Pôs a mão sobre a boca, escondeu seu sorriso, não podia ceder tão fácil assim. Emburrou a face, mas se via a alegria em seus olhos.
- Eu já errei tanto, tanto em minha vida! Mas não mais, eu não cometerei esse erro, não te deixarei partir sem lhe dizer. Eu te amo, não se vá, por favor.
Uma lágrima escorreu, um sorriso aflorou. "Eu também te amo" disse ela, enquanto via o homem por quem era apaixonada beijar outra.

Os créditos subiram, e ela desligou a TV, agora que o filme acabara.