terça-feira, 26 de junho de 2012

O pássaro.

Passeando pela cidade,
vi, ao longe, um pássaro belo, belo, belo
o mais belo que já vira,
nessa selva de concreto.
Aproximei-me cuidadosamente,
mas percebendo algo de diferente,
ele voou, 
voou,

voou,

para bem longe.

O pássaro.


Hoje havia um pássaro morto na varanda.
A janela molhada de vermelho
E o pássaro caído ao chão.


O pássaro era bonito,
Penas azul petróleo,
E um brilho azul cristal.


Fitei-o por mais ou menos dez minutos,
Ao menos foram dez minutos em minha mente.
E tive pena, pena do pássaro da varanda.


Perguntava-me por que o pássaro morrera,
Acidente, suicídio?
Bem, isso se um pássaro tiver consciência ou tristeza.


O pássaro, suicida, jazia.
E eu, sem nada especial, pensava.
Por que se matara o pássaro suicida
Se sair batendo asas soltas ele poderia?
Se ir de São Paulo a São Francisco
Era só seguir o vento forte?
Mas se o céu era simples,
Que para os mares fosse.
Ou para quaisquer paisagens
Com as quais sonhasse.
Mas não o suicídio, ó pássaro.
Seus sofrimentos e aflições sempre passam


Por que, pássaro?
Por que desistiu de tudo?
Eu não consegui entendê-lo.


Foi aí que, decepcionado, o deixei.
Retornei para minha vida,
E nada mais de suicidas.


Em meio aos livros, uma luz.
Era mais uma vez o pássaro,
E mostrava-me.


Que eu tinha tudo e não fazia nada.
Era simples assim, eu sou pássaro
De minha própria vida.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Marinheira.






Toda vez que vou à costa eu lembro disso, não há uma só vez que o mar não me traga estas recordações, ou um só dia em que notícias sobre acidentes em alto mar não me façam pensar nisso.
Eu passava uma tarde do verão bastante comum no litoral e estava acompanhado por uma amiga marinheira, seu nome era Marina, – completamente propício para a vida que levava – tinha cabelos dourados como os raios de sol que nos iluminava e olhos cor de oceano. Marina era a única mulher em toda a frota – a propósito, esqueci de falar que sua frota estava apenas de passagem por Lucca, onde passo o verão em uma tentativa de fuga de Florença – e, além disso, tinha apenas vinte e um anos, o que fazia dela o segundo tripulante mais jovem da frota, sendo mais velha apenas que Giorgio, um rapazinho desengonçado de dezoito anos que fugira de casa e fora acolhido pelo almirante. Apesar disso e do fato de ser a única mulher de sua frota, Marina 
Lembro-me até hoje de quando a conheci, estava encostado nas grades do porto vendo os navios a partir e chegar enquanto esperava por uma luz para um romance que havia começado no verão anterior, foi quando vi uma moça radiante, fardada com o uniforme da marinha italiana, e eu juro, amigos, juro que naquele momento seu brilho era tão grande que poderiam apagar o sol e eu jamais repararia, ela conversava com Giorgio e dava risadinhas, por Deus, como eu queria ser ele para poder sua doce fala escutar e ser o causador de tua risada atraente. Minutos depois Giorgio subia as escadas que ligavam o porto à praia, foi quando eu o abordei e perguntei quem era aquela moça que com ele conversava, já sabem a resposta, mas o que vem a seguir não podem prever. 
Foi no dia seguinte, no restaurante que ficava em frente ao porto, eu estava sentado em uma mesa ao canto  lendo um livro e esperando por ideias para aquele romance que havia começado mas nada me ocorria, foi quando Marina entrou no restaurante, eu a admirava enquanto aquele presente dos mares se dirigia a uma mesa, mas é nesse momento que tudo acontecerá, então prestem atenção. Nossos olhares se cruzaram, eu deveria ter voltado-me para os poemas de Safo, eu deveria ter-me ruborizado completamente, eu sempre fui assim, mas não, eu continuei olhando-a e fui além, sorri-lhe. Mas a minha estranheza não acaba aqui,  eu pensava que Vênus finalmente me sorrira e me dava um empurrão na direção ao amor, Marina sorriu de volta e se dirigiu a uma mesa, minutos depois levantei-me e dirigi-me a sua mesa, puxei assunto com uma frase famosa qualquer, depois a deixei constrangida com uns versos de Dante, mas eu sabia que no fundo ela gostava. Sentei-me à sua mesa e foi aí que nos tornamos amigos.
Continuamos a nos encontrar naquele restaurante, em quatro ou cinco dias já éramos íntimos, descobri que Marina tinha medo do mar, mas servia à marinha porque seu pai queria um filho homem para servir a pátria, mas como só tiveram Marina, ela foi forçada a isso, mesmo assim ela gostava de conhecer toda a Europa. Ela também descobriu coisas sobre mim, principalmente que eu não era Dante, no momento da descoberta se enfureceu, mas depois mostrei-lhe versos verdadeiramente meus e perdoou-me, até porque ela era superior a Beatriz. E é agora que chegamos àquela tarde comum no litoral, estávamos deitados na areia e eu olhava aquela flor, eu agradecia a Vênus e eis que curvei-me a Marina para beijá-la, mas ela virou seu rosto para o outro lado e disse-me que amava a outro. Pela primeira vez alegrei-me em pensar que ela partiria em três dias.
Despedi-me dela no porto onde a vi pela primeira vez, ela anotou meu endereço para continuarmos com nossa amizade, dizia que eu era o melhor amigo que poderia encontrar. Na última carta que recebi ela dizia que estavam prestes a entrar em combate com navios ingleses, Marina está morta para mim.
É por isso que eu não acredito no amor, meus amigos. E quanto àquele romance, estou prestes a terminá-lo, se chamará "A Marinheira", e será sobre um aspirante a escritor que conhece uma marinheira que muda sua vida mas que jamais poderá saber isso, e será muito mais bonito.


A Marinheira.

Aqui do píer eu observava aquela bela garota no cais, com seu corpo delgado, o escuro cabelo ao vento. Aqui do píer eu observava aquela bela garota no cais, com seu uniforme branco, como o daqueles rapazes, ajudando-os, descarregando o barco, ou o arrumando para uma nova viagem. Eu observava aquela bela Marinheira, tão obtusa, tão decidida. Quase como uma santa, intocável. Ninguém se atrevia a dirigir-se a ela com intenções oblíquas, eram sempre cordiais. E levantaram âncora.
Algumas semanas depois, lá estava a embarcação novamente, e a marinheira descia com um sorriso no rosto, a pele agora côr de bronze, e uma delicadeza virginal ao pular no cais, que eu observava aqui do píer.


E minha rotina era essa, observar - de longe - do píer, aquela bela Marinheira, distante, inalcançável. Para que eu tentaria uma aproximação? Para que eu iria querer saber se seu nome é Sandra, Rosa ou Madalena? Era mais do que óbvio que seria rejeitado, seu olhar emanava independência, ela não precisava de nada disso, de ninguém, de alguém. Estava muito ocupada com seu barco, com o mar, para amar. E zarpou.


Até que um dia, vi - aqui do píer - um rapaz no cais, não muito diferente de mim, esperando alguém há algum tempo. Quando o côncavo barco chegou, a Marinheira parecia ainda mais sorridente, desceu num salto e deu um longo beijo no moço que a aguardava. Eu realmente não entendia o que ele tinha que eu não tinha, éramos tão parecidos. Mas depois percebi que ele içou vela, enquanto eu apenas esperei pela maré.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Poema sobre amor.

Quer coisa mais clichê que um poema sobre amor?
Um poema sobre amor numa data dessas,
onde todos precisam ser românticos, 
por mais que não sejam.

Afinal, ser romântico, é diferente de amar,
pois ser romântico é ser romântico,
mas o amor vem de diversas maneiras,
então, por favor, sem regras.

Quer coisa mais clichê que um poema sobre amor?
Dizer que seus olhos são poças reluzentes,
que seu sorriso é como a aurora de dedos róseos,
seu beijo é um sopro de vida em meu coração?
Quer coisa mais clichê que tudo isso?

Mais clichê, seria dizer que,
É a pura verdade.

Poema sobre amor.

Você não a ama
Ela não te ama.
Romeu nunca amou Julieta,
Nem Julieta amou Romeu.

João não amava Teresa,
Que não amava Raimundo
Que não amava Maria
Que por sua vez também não amava Joaquim
Que não amava Lili.
E J. Pinto Fernandes, apesar do casamento,
Não amava Lili.

Seu pai não ama sua mãe,
Sua mãe não ama seu pai.

Ó, Lídia, não me ames agora,
Nem me ame depois.
Apenas porque não me amas.

Eu não amo Marina Firenze,
Nem ela nunca me amou,
Embora ninguém nunca tenha pensado isso.

Não te amo,
Não me ama.
E está tudo bem.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Olhos.

Tudo bem, eu admito. Admito que os tenho para você e ninguém mais, ou melhor, eu os tenho somente para os seus, que, tão azuis, são como o mar mais profundo e quente. É por eles que os meus, duas piscinas de lama perto dos seus, diluviam-se ao ver-te longe deles, longe do coração.
Pois foi assim, em um piscar deles que sumiste da minha vida. Em uma hora só os tinha para mim, na outra eu não a tinha mais. E foi nesse piscar que já estava com aquele outro rapaz que, convenhamos, não te merece. Aquele outro rapaz que, segundo me disseram, você já desejava ainda antes de ser minha. Aquele rapaz que você comia com os dois luares que enfeitam o seu também lindo rosto enquanto me beijava, mas mesmo assim eu não acharia problema que o amasse se apenas continuasse comigo, se as minhas pedras pretas sem graça não vissem, o meu coração não sentiria.
Mas não atendeu a essas minhas súplicas, você fechou suas cintilantes pérolas aos meus suplícios, e embora eu te desse tudo que pedia, não importando se custariam minhas duas jaboticabas amargas, pouco importaria, se eu apenas pudesse tê-la.
Agora está longe, e eu só posso escrever essas frases que você nunca lerá. E, honestamente, não importa, pois eu sei que você nunca conseguiria olhar nos meus olhos e dizer que um dia me amou.

Olhos.

Meus olhos estranharam ao rever aquele lugar nostálgico, tão igual e diferente. Eles não paravam no lugar, a procurar por você, em todos os cantos, a ignorar tudo que não te fosse, que não fossem teus olhos. Ansiosos, corriam mais que minhas pernas, de um lado pro outro, até que te encontraram, e sorriram tímidos.
Seus olhos evitaram encontrar com os meus, apesar do sorriso na boca e do menear da mão, eles fugiram e foram para qualquer lugar que os meus não estivessem. 
Meus olhos ficaram irrequietos, meu coração turbulento. O chão era tudo que eles olhavam, com medo, com anseio. 
Seus olhos estavam frágeis, por mais que olhasse para cima, não conseguiam se manter confiantes, sabiam o que estava por vir.
Nossos olhos se encontraram. Não sei o que você disse, não ouvi uma palavra sequer, mas seus olhos, oh, seus olhos, quanta dor, quanta tristeza. E meus olhos, apenas lágrimas, e para sempre a sua imagem indo embora, com aqueles pequenos olhos, cheios de água, cheios de melancolia.
Nunca esquecerei, aqueles pequenos olhos.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Especial.

Longe de mim ser especial,
alguém importante que as pessoas precisem,
algum gênio a quem aspirem.

Imaginem só, ser especial,
ser tratado diferente, 
sendo que ninguém é igual à gente.

Prefiro ser normal,
nunca quis ser o primeiro, 
nem o primeiro a não querer.

Posso até ser anormal, esquisito
estranho!
A ser um especial de merda.

Especial.

Aquela menina disse-me que sou especial.
Só podia estar chamando-me de estranho
Com seus eufemismos e caprichos.
Mas ela dizia que falava sério,
Eu realmente era especial.

Ao chegar em casa tinha de confirmar,
Olhei no espelho, procurei em vão.
O mesmo sorriso tedioso,
O olhar sem expressão.
Nada de mais, honestamente,
Se algo era especial,
Era especialmente sem graça.

Aquela menina disse-me que sou especial.
Eu duvido, ela está a falar loucuras,
Especial não, nada disso.
Aquela menina disse-me que sou especial,
Na dúvida, é melhor não acreditar.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Coração de pelúcia.

Se lembra de quando seu aniversário passou e pensou que esqueci do presente? Não comentou por educação, mas no fundo estava a remoer-se porque não te dei algo tão caro quanto aquele rapaz, ou algo que te faria lembrar de mim, como fez uma amiga sua qualquer. Mas estava enganada, querida, completamente enganada, pois dei-te algo que você nem sequer sabia que era teu, e que é mais caro que qualquer presente que aquele rapaz poderia esquecer e mais identificável que o presente da tua amiga, dei-te meu coração e aposto que nem imaginavas isto. E eu o dei a você mesmo antes de chegar seu aniversário, eu o entreguei antes até de saber quando era o seu aniversário, foi questão de segundos, foi só questão de te entender.
E assim como todos os presentes que recebeu, você brincou com ele, você o aproveitou ao máximo, você abusou dele, você o usou sempre que pode, você dormia com ele, você dava-lhe tanto valor. Mas como todos os presentes que recebemos, cada vez mais você se importava menos com ele, cada vez mais você o deixava de lado e se interessava por coisas que não tinha, até ganhar o que não tinha e começar a querer outra coisa. 
Ainda assim se lembrou dele vez ou outra e o estimava de alguma maneira, até o dia em que ele rasgou, foi esse o fim de mais um dos seus brinquedos, o fim de um brinquedo teu que agora está no fundo da prateleira, escondido, pois não se mostra algo quebrado às visitas. Agora só me resta torcer para que doe esse brinquedo a alguém que precise dele mais do que você.

Coração de pelúcia.

Você passa a semana a divertir-se com seus bonequinhos, perfeitos e plásticos. Com seus brinquedinhos brilhantes e chamativos. Sempre nas melhores festas, com outros bonecos e bonecas, perfeitos e plásticos. Sem nenhum defeito, afinal, sempre estar sorriso é uma qualidade, que vocês, perfeitos e plásticos, sempre prezam.
Dia após dia, compra alegria, você e seus brinquedos, exibem fotografias. Como são perfeitos - mas plásticos.
Sua vida, repleta de novas pessoas, novos bonecos, novas brincadeiras, cada vez mais perigosas, cada vez mais divertidas.
Perfeitos e plásticos, perfeitamente plásticos, corpos moldados sem o menor defeito. Sorrisos vazios sem o menor sentimento. Plásticos mas perfeitos. Perfeitos mas plásticos. Como você vê? O que você vê? Através desses olhos acrílicos, brilhantes e vívidos - mas não vivos.
Como está linda, como são lindos, lindos e lindos. Perfeitos um para o outro.
Mas cá entre nós, quando o plástico está frio demais para ti, quando a perfeição te é perfeita demais, procuras aquele pedaço da tua vida que tentas esconder de todos, aquela ilha imperfeita nesse mar de ilusão, quando a verdade vem à tona, e teu sorriso derrete, precisa dormir abraçada com meu coração de pelúcia, de pelúcia e imperfeito.