sexta-feira, 8 de julho de 2011

A Partida de Futebol.

Me parecia uma coisa qualquer, só um entretenimento para as pessoas, sem nada de especial ou profundo. Eu, que sou tão acostumado à arte, à literatura e à música, não via nada de especial ou tocante naquilo.
Era um bando de homens crescidos agindo como crianças, basicamente isso. Um bando de homens correndo atrás daquela esfera e tentando empurrá-la dentro de uma das metas, e um outro bando gritando para que o primeiro bando desempenhasse bem sua função.
Mas não era exactamente isso, embora o primeiro bando ganhasse milhões para fazer aquela função quase troglodita, havia um sentimento envolvido em todo esse processo. O segundo bando amava isso, alguns de maneira irracional e exacerbada, mas amavam. E, mais do que isso, o processo também promovia o bem. Ao conhecer mais o assunto pude ver que não era apenas uma coisa qualquer, era muito mais do que isso. Fiquei sabendo que havia gente que morria por aquilo, não apenas no sentido figurado, um integrante do primeiro bando que fora assassinado devido a um erro que cometera em sua função. Soube também que havia gente que vivia apenas por aquilo, uma equipe pertencente ao primeiro grupo que, mesmo em meio a uma guerra, usou deste suporte para mostrar no que ainda acreditava.
Podia até parecer coisa pouca, uma mera partida de futebol, mas ia além.

A Partida de Futebol.

Meu pai era um homem sério. De trejeitos pitorescos, e modos semi-rudes. Era seu jeito de ser, sua natureza, naturalmente parrudo. Na verdade, ele era muito fechado, eu não sabia muito sobre ele, nem ele sobre mim. O que eu posso falar sobre ele? Ele é forte - não somente fisicamente -, trabalhador, e ama futebol. O último item é o que eu estou mais certo de ser verdade.
Era 13 de Julho de 2014, todos estavam reunidos em casa para o grande evento do século. O bairro inteiro vestido de amarelo em frente a TV da sala. Meu pai lado a lado com o nosso vizinho que ele tanto odiava, o engraçado é que eu sempre os achei muito parecidos, e imagino que seriam grande amigos, caso um não torcesse para um time verde-e-branco e o outro para um branco-e-preto.
Era 13 de Julho de 2014, mais precisamente às 17:48 e o time de Amarelo estufou a rede to time azul. O país foi a loucura, festa, fogos, muita gritaria e ofensas - chacotas - jogadas ao ar. Fogos, festa, alegria - muita alegria - por uma bola que foi chutada por cima de uma linha.
Eu não entendia muito bem por que tudo isso, mas eles estavam felizes. Eu ainda não entendo hoje, mas lembro da seguinte cena: O homem de preto pegou a bola, levantou o braço direito, apitou. Os amarelos festejaram, os azuis lamentaram. Meu pai abraçou o vizinho e, pasmém!, chorou. Meu pai chorou.
Eu ainda não entendo o futebol hoje, mas aquela partida de futebol me mostrou que não é para ser compreendido com a cabeça, e sim sentido com o coração.