sexta-feira, 1 de abril de 2011

All-stares.

Calçados. Calçados por todos os lados. Eis o que se podia ver. Sandálias, tênis, sapatos, pantufas, e outros muitos. Era uma reunião de calçados ou algo parecido.
E nesse mundo dos calçados, havia calçados de todos os tipos, Oxfords cheios de classe, confortáveis sandálias, pantufas que aqueciam a todos, e All-Stares.
Sim, All-Stares, e de todos os tipos. Com canos longos e curtos, com ou sem cadarços, de todas as cores que você pode imaginar. De todos os tamanhos e condizentes com todos estilos. Cada All-Star com sua singularidade, todos diferentes, alguns mais tradicionais, outros, uma completa vanguarda.
Todos eles eram diferentes, uns não gostavam de outros, mas isso é normal, com tanta diversidade como a que existe entre os All-Stares. Mas, apesar das diferenças, todos queriam apenas uma coisa: um par para que fossem completos.

All-stares.

Eu caminhava de cabeça baixa, como sempre. Era guiado pelos meus all-stares que me levavam para todos os lugares. Um, depois o outro, um, depois o outro. Seguindo pelo corredor, via outros tênises, sapatos e calçados em geral. Um par de sapatos apressados aqui. Um casal de quatro tênises da nike acolá. Alguns crocs por aí - é. Eu era ultrapassado e ultrapassava, de acordo com a vontade dos meus all-stares negros. Geralmente eles eram muitos quietos e não gostavam muito daquelas sandálias, rasteirinhas, salto-altos ou tênises da moda. Eles, na realidade, eram bem conservadores, um pouco racistas, admito, e só davam bola para outros all-stares. Um pouco mais à frente, paramos numa escada rolante. Os meus all-stares não são apressados e evitam esforço, não são daqueles que andam na escada-rolante, pois sabem que todos chegarão ao outro lado. Estamos na escada e podemos ter uma vsão mais privilegiada dos calçados alheios. Mais alguns sapatos sociais. Um par de sapatos sociais de frente com um par de saltos finos. Dois pequenos e pulantes chinelos do ben 10 que acompanhavam um par de havaianas brancas e cansadas. Uma turma de tênises da nike, adidas e reebok, grandes e chamativos e com molas até o cadarço. Mas entre toda essa sapataria, meus all-stares avistaram uma pretendente. Eram dois belos all-stares vermelhos, eram pequenos e deicados, escarlates e tranquilos. Cada um estava num degrau da escada, e o de cima subia e descia como se dançasse. Ao chegar ao topo da escada, os all-stares vermelhos calmamente caminharam pela passarela que dá até a plataforma do trem. E, chegando ao topo da escada-rolante, meus all-stares pretos seguiram aquele atraente par. Andando com certa pressa, notei que seguiam aquele outro par de all-stares. Naturalmente, por pura curiosidade, levantei-me para ver quem seria a dona dos calçados. Só pude vê-la de costas, porém parecia graciosa: era baixa, seu cabelo era curto e louro, tinha um corpo delicado que combinava com o tamanho dos all-stares. Andava com um ar de despreocupação e no ritmo da música que ouvia em seu headphone azul. Encontramos outra escada rolante. Descendo a escada, meus all-stares não podiam ver o atraente par que seguiam e, por isso, ficaram inquietos no degrau que rolava. Finalmente na plataforma, meus all-stares queriam encontrar o outro par. Para lá, sapatos; saltos; sandálias; tênises com molas; tênises com três listras; chinelos; sapatos correndo; saltos fofocando; sandálias sentadas. Para cá, sapatos; tênises; saltos; pequenos tênises rosas perseguindo pequenos tênises azuis; all-stares; saltos; all-stares! Mas... não... all-stares brancos, daqueles sem gosto ou personalidade, não eram os que procuravam. Continuaram a procurar e, quase no fim da plataforma, encontraram seus all-stares vermelhos. Eles estavam lá, o da direita um pouco levantado, quase flutuando de alegria. De frente para eles, um par de all-stares azuis. E olhando para cima, vi a menina entrelaçando seus braços num rapaz que eu não observei muito para descrever, só sei que usava all-stares azuis. Então fui esperar pelo trem. Pois bem, não me importei para o fim da caçada, mas os meus all-stares ficaram um pouco chateados, o mais triste que um calçado poderia ficar. Com os cadarços frouxos e a língua de fora.