terça-feira, 4 de setembro de 2012

Copo d'água.

E cá estou eu,
sedento,
há dias perdido.

Sem saber para onde ir,
num deserto de solidão.

Sob o sol escaldante
completamente exposto
desprotegido.

Sem rumo,
Sem norte,
Sem ninguém.

Encontrei outros, também perdidos.
Já encontrei quem dizia saber onde ia.
Encontrei e desencontrei.

Sedento, perdido.

Te vi ao longe mas não quis crer
Depois de tantas ilusões, miragens
fica difícil definir o real.

Abriu-me um sorriso,
estendeu-me a mão,
senti-me, afinal, vivo.
O calor não importava,
a sede eu esqueci.
Podia sobreviver só do seu olhar,
me esconder em teu sorriso.

"Você não parece bem, tome"
E, pasmem, me entregou um copo d'água.
Cristalina, até a boca, fria (frívola?)
Tomei num só gole,
não sei se foi a água,
se foi você.
Mas algo dentro de mim estava diferente.

"Onde achou essa água?"
"Estava em cima do piano."
Fui feliz.

Copo d'água.

Um copo d'água
Sobre a mesa
A esperar.

Mas que valor tem
Um copo d'água
Frente a tantas outras bebidas?

Se tiveres uma taça de vinho
Por que escolherias a água,
Minha querida?
Tão lascivo,
Tão doce,
Libertador.
É claro que sim,
O vinho venceria.

Talvez um suco de laranja
Deixaria o copo d'água para trás,
Mais saboroso, é verdade,
Além de deixá-la saudável.

A água ou chá?
Evidente que o teu chá,
Meu bem.
O teu chá, caloroso,
O teu chá e o seu aroma,
O teu chá, minha querida.

Acredito que até mesmo
Um copo de veneno
Seria o teu preferido.
Ao menos ele faz sentir,
Ao menos ele pode tocar-te.

E o copo d'água,
Ainda espera?
Mas não será escolhido.
O que é que tem de mais?
Que gosto tem a água?
Que gosto tenho eu?