sexta-feira, 29 de julho de 2011

Ovelha Negra.

Em uma casa campesina havia um jovem, esse jovem era um pastor, ele queria ser um bom pastor e impressionar a todos os outros pastores da região.
Em um certo dia comum saiu de casa o jovem, ia pastorar como em todos os dias, saiu com seu cajado à mão, levou as ovelhas ao pasto, elas pastaram como sempre iguais, durante o retorno reparou em uma ovelha em particular.
Em outra manhã saiu novamente, foi pastorar como sempre, mas com uma sensação diferente, atentava para a ovelha diferente, para como ela era diferente, e como ela gostava de ser diferente, ela não se importava para o que pensavam dela e seguia sua vida assim.
Então o pastor mudou, nunca mais seria o mesmo, não procuraria mais tentar agradar ou impressionar os outros, ele seria diferente, e não se importaria com isso.

Ovelha Negra.

Seis, seis, seis, sete, seis, seis.
"Eu preciso só de um seis pra passar de ano." Ele dizia.
"Mas seu irmão não tirou nota menor que oito." Seus pais respondiam. "E quando sua irmã estudava também tirava no mínimo nove."
Mas ele não se importava, tinha coisas mais importantes a fazer. Andar de skate, ficar com seus amigos, tocar violão, coisas importantes.
"Por que você não vai praticar algum esporte? Seu irmão ganhou medalha de ouro no último torneio de futebol interescolar, e sua irmã é ótima no xadrez."
"Eu já sou foda no videogame, e xadrez nem é esporte."
Mas ele não se importava. Ele vivia sua vida tranquilamente, sem querer superar seus irmãos, sem competir.
Ele era a ovelha negra da família, mas não ligava.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Laranja.

Acima de mim laranja
mas não pode ser, o céu é azul não laranja.
Ela me disse que algo amanheceu fora do lugar,
eu não sabia se era em mim ou no mundo, e preferi não perguntar.

Continuei meu dia, ligeiramente diferente,
mais laranja.
Abri a torneira e, novamente, surpresa.
A água que escorria - ao invés de incolor -, sim, laranja.

Eu não sabia como reagir. Era tudo
tudo tão estranho e normal.
Era laranja, mas não fazia bem nem mal.
Só era laranja.

Na dúvida eu corri,
ri.
As árvores, os cães, a rua e as nuvens.
Laranja, laranja, laranja, laranja.

O cinza da cidade agora era laranja,
os táxis amarelos, laranjas e laranjas.
Mas as folhas outonais das árvores marginais, como estariam?
E para minha surpresa, laranja também eram.

Cansado desse enigma sem sentido,
na beira do lago me vi refletido.
Na água laranja eu vi algo ainda mais espantoso,
um sorriso flagrante no meu rosto!

Acordei.
Então era um sonho, nada mais que isso.
Fui tentar me levantar mas estava preso,
você ainda me segurava,
e eu dei um beijo de bom dia nos seus lábios laranjas.

Laranja.

Eu sempre fui diferente,
Um garoto laranja entre gente normal.
E ser laranja, convenhamos
Nunca foi coisa legal.

Num mundo de gente doce ou azeda,
Eu era ambos.
Mas não me encaixava, eu não fazia parte,
Era odiado por todos.

Sou laranja, e gosto de laranja,
Mesmo que nunca venha a ser como o vermelho,
Uma cor quente e tocante,
Gosto do que vejo no espelho.

Eu amo laranja, e sempre amarei,
Sou assim dos pés à franja.
Eu amo laranja, mas os outros não,
Porque, acima de tudo, ninguém fica bem de laranja.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A Fuga.

Em outro dia pedi ao destino que me deixasse te encontrar para fugir de minha vida, mas agora pergunto-me “E se a encontrasse?” Ao primeiro momento eu faria uma piada infantil, como sempre fiz. “Ainda está viva?” Você riria, diria que eu também tenho andado sumido. Eu comentaria seu visual. Estaria linda, sempre está. Você perguntaria “O que está ouvindo?”. Eu tiraria o fone do ouvido oferecendo-o a você e diria “Você vai gostar, me lembra você.” não importando o que fosse, mas me lembraria, tudo me lembra. Você acharia divertido, sorriria tímida, nunca soube reagir bem a meus elogios. Emudeceríamos então, ficaríamos parados um em frente ao outro, meio incómodos. Eu não teria nenhuma atitude, nunca tive mesmo, apenas a olharia, apenas a admiraria. Eu seguiria em frente, diria que “Temos de fazer isso outras vezes.” Você concordaria, mesmo que não achasse o mesmo, apenas por educação. Ou talvez eu congelasse ao vê-la e você fugiria de mim e de seu passado.
Ou mais do que isso, dizem que se deve fugir do amor, eu devo então deixar de pensar você. Nada de músicas que você me mostrou, nada desenhos que você fez, nada de querer te encontrar. Seguir em frente, escapar do que fomos, nunca mais olhar para trás, sem arrependimentos. Ser como você sempre foi, inconsequente, mas da melhor maneira possível.
Como você é... pronto, já me encontro pensando em você de novo, como eu sempre fui... apaixonado por você. E é natural que eu pense, é possível que eu te amassa inatamente, antes mesmo de te conhecer. E mais, não haveria como não pensar na garota que me fez me sentir vivo, na primeira garota que me tratou como alguém, na única garota que disse que me amava, - mesmo que não fosse verdade, e não era, nada é verdade quando se é jovem - na garota da minha vida, apenas isso. Não haveria como não pensar em você, não haveria como fugir de você sem fugir de mim mesmo.
Não, não há como fugir do amor.

A Fuga.

Os passos espalhavam água por toda a rua encharcada. O cheiro era de verão, com gosto de chuva rápida. O sol caía do céu lentamente, em câmera lenta, repleto de dramas. Os passos eram nervosos, confusos, indecisos. Ela sofria e, por isso, corria; fugia; abandonava.

Tudo parece calmo, sem surpresas, sem novidades. Era morno, habitualmente morno. Todos tinham aquele sorriso sem graça, de quem já não sonha mais. "Estamos arrasados? Não temos motivos para sermos felizes? Desistimos?" Pensara antes de correr.

Correu, correu, ninguém percebeu. "Não sou como eles. Sou melhor que isso. Melhor que eles. Eu serei feliz, sozinha!"

Era sua fuga. Só sua. Mas o que era esse gosto de vazio? Essa sensação de derrota? A pior colocação no primeiro lugar do pódio.

Ela corria e deu de cara com um beco sem saída. Deu meia volta. Quanto mais andava, maior ficava o buraco em seu peito. Um passo a mais, uma pá a menos. Não aguentou mais, cedeu. Ofegava, seu coração apertado e gelado.

Percebeu afinal, tentava fugir da dôr e da tristeza. Mas a causadora perseguira-lhe até lá.

Sua fuga foi completamente em vão. É impossível fugir de si mesmo para ser feliz. Somente enfrentar-se.

No beco sem saída, ela seguiu em frente.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Anedota.

Aprendi uma nova piada, a vocês vou contar.
Toc-Toc! Quem é?
Ninguém! Ninguém quem?
Ninguém nunca vem me visitar.

Anedota.

Nunca soube contar anedotas,
Nunca fui engraçado.

Sempre quis ser cómico,
Fazer você sorrir.

Eu seria cómico,
Se utilizasse da auto depreciação?

Talvez devesse rir de mim mesmo e de meus defeitos,
Fazer piadas sobre minhas decepções.

Eu a animaria, seria cómico,
Se não fosse irremediavelmente trágico.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O bobo da corte.

Era uma vez um bobo da corte que vivia a entreter o rei e toda a realeza de sua nação. Ele era adorado em seu pequeno país, fazia com que todos sorrissem e rissem sem parar. Vivia causando uma constante alegria e uma vida de felicidade no reino.
Com o tempo sua fama foi aumentando, pessoas vinham de todo o mundo ver o tal bufão, apenas para dar boas risadas às suas custas. O bobo da corte fazia rir quem apenas chorava, resolvia problemas e acabava com guerras.
Foi depois dessa imensa fama que ele obtivera que veio um convite do rei do maior império do mundo para que o bobo fosse trabalhar em seu império. Todos da pátria do bobo ficaram orgulhosos, incentivaram-no para que ele fosse aproveitar tal glória mas ele recusou, queria apenas ficar em sua casa, queria sorrir novamente, pois desde que se tornara bobo da corte nunca mais conseguira resolver seus próprios problemas muito menos ser feliz mais uma vez.

O bobo da corte.

Há muito tempo existiu um rapaz brincalhão que adorava brincar de rir. Fazia piada com todos ao seu redor, que também se divertiam sem ligar quando eram o foco das brincadeiras, afinal ele também fazia consigo mesmo e todos levavam com bom humor.
Se perguntassem uma característica dele, diriam que ele era engraçado, e é isso que era. Era um gênio, todos gostavam dele, todos riam com ele, chegavam até a admirá-lo.
O tempo passou e sua fama cresceu, era tão engraçado, tão bem humorado, tão divertido. Claro que em alguns momentos ele ficava triste; preocupado; desanimado, ele era humano, afinal, mas encarava descontraidamente.

Até que um dia o rei o chamou ao castelo.
- Meu jovem, ouvi dizer que és o mais engraçado de todos, é verdade?
- Olha, Seu Rei, eu até podia fazer uma piada sobre isso pra provar que sou, mas a piada aqui é eu manter a seriedade e não chocar ninguém fazendo uma anedota diante de vossa majestade. A reviravolta é não ter reviravolta, sabe?
- Hahaha, você é bom, garoto. Doravante será o bobo da corte do reino, e ganhará a vida fazendo os outros rirem, que achas!?
O bobo da corte não respondeu, apenas abriu um grande e belo sorriso. O primeiro sorriso falso que já dera, que marcava o fim dos verdadeiros.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Menino-poeta.

Mas na verdade eu ainda sou menino.
Só quero brincar, me divertir.
Não quero trabalho e compromisso.

E por outro lado, quando penso em você.
Quando penso e sinto, é só o que quero.
Seu amor, eternamente.
Essa chama ardente, que aquece meu peito.

De um lado a diversão inconsequente,
do outro o coração carente.

Eu sou um pouco dos dois,
por você e por mim.
Não há uma escolha correta
sou mais um menino-poeta.

Menino-poeta.

Em um citadino ónibus,
Uma garota adentrou.
Era alta, tinha cabelos loiros,
Belos olhos e um sorriso sem cor
Vestia um suéter verde,
E tinha beleza que às outras excede.

Ao adentrar, um garoto ela avistou.
De camisa negra, cabelo desgrenhado,
Sorriso murcho e olhar desinteressado.
Ele também a notou,
Sentiu algo diferente até ela desembarcar.
Depois retornou à sua vida, esqueceu-a sem hesitar.

Partiram, cada um em sua direcção,
Ele nunca mais viu aquela moça que tocou seu coração.
E ela nunca saberá o quanto ele a amou
Que ele era a personificação de seus sonhos,
Que ao chegar em casa sobre ela versejou,
Que ele era apenas um menino-poeta.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A Partida de Futebol.

Me parecia uma coisa qualquer, só um entretenimento para as pessoas, sem nada de especial ou profundo. Eu, que sou tão acostumado à arte, à literatura e à música, não via nada de especial ou tocante naquilo.
Era um bando de homens crescidos agindo como crianças, basicamente isso. Um bando de homens correndo atrás daquela esfera e tentando empurrá-la dentro de uma das metas, e um outro bando gritando para que o primeiro bando desempenhasse bem sua função.
Mas não era exactamente isso, embora o primeiro bando ganhasse milhões para fazer aquela função quase troglodita, havia um sentimento envolvido em todo esse processo. O segundo bando amava isso, alguns de maneira irracional e exacerbada, mas amavam. E, mais do que isso, o processo também promovia o bem. Ao conhecer mais o assunto pude ver que não era apenas uma coisa qualquer, era muito mais do que isso. Fiquei sabendo que havia gente que morria por aquilo, não apenas no sentido figurado, um integrante do primeiro bando que fora assassinado devido a um erro que cometera em sua função. Soube também que havia gente que vivia apenas por aquilo, uma equipe pertencente ao primeiro grupo que, mesmo em meio a uma guerra, usou deste suporte para mostrar no que ainda acreditava.
Podia até parecer coisa pouca, uma mera partida de futebol, mas ia além.

A Partida de Futebol.

Meu pai era um homem sério. De trejeitos pitorescos, e modos semi-rudes. Era seu jeito de ser, sua natureza, naturalmente parrudo. Na verdade, ele era muito fechado, eu não sabia muito sobre ele, nem ele sobre mim. O que eu posso falar sobre ele? Ele é forte - não somente fisicamente -, trabalhador, e ama futebol. O último item é o que eu estou mais certo de ser verdade.
Era 13 de Julho de 2014, todos estavam reunidos em casa para o grande evento do século. O bairro inteiro vestido de amarelo em frente a TV da sala. Meu pai lado a lado com o nosso vizinho que ele tanto odiava, o engraçado é que eu sempre os achei muito parecidos, e imagino que seriam grande amigos, caso um não torcesse para um time verde-e-branco e o outro para um branco-e-preto.
Era 13 de Julho de 2014, mais precisamente às 17:48 e o time de Amarelo estufou a rede to time azul. O país foi a loucura, festa, fogos, muita gritaria e ofensas - chacotas - jogadas ao ar. Fogos, festa, alegria - muita alegria - por uma bola que foi chutada por cima de uma linha.
Eu não entendia muito bem por que tudo isso, mas eles estavam felizes. Eu ainda não entendo hoje, mas lembro da seguinte cena: O homem de preto pegou a bola, levantou o braço direito, apitou. Os amarelos festejaram, os azuis lamentaram. Meu pai abraçou o vizinho e, pasmém!, chorou. Meu pai chorou.
Eu ainda não entendo o futebol hoje, mas aquela partida de futebol me mostrou que não é para ser compreendido com a cabeça, e sim sentido com o coração.