sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Ano novo.

E o ano acabou. Mas vem aí um ano novo, ou nem tão novo assim. Digo isso porque se pararmos para pensar, embora os consideremos "novos", eles tem diversas repetições.
Nos termos esportivos, o Campeonato Paulista será vencido por um dos quatro grandes, o Carioca provavelmente terá uma final entre os grandes e, obviamente, vencida por um também. O Gaúcho será vencido por um time da dupla Gre-Nal e o Mineiro também será vencido por um grande (isso apenas se você considerar o Atlético grande). E o Campeonato Brasileiro será "um dos campeonatos mais disputados do mundo", mas não por causa de um altíssimo nível técnico, e sim porque os candidatos ao título perderão muitos pontos bobos em jogos considerados fáceis. A seleção masculina de Vôlei vencerá tudo. Já a feminina, elas irão bem, mas perderão um título no Tie-Break ou algo parecido. Todos acreditarão na volta daquele Basquetebol da época de Oscar, Hortência e outros, mas perderemos novamente. Já as seleções de Handebol ganharão tudo na América e perderão tudo fora dela.
Quanto ao entretenimento, teremos mais do mesmo. As pessoas assistirão o Big Brother, embora ele seja completamente repetitivo. Big Brother esse que baterá os recordes de ligações nas votações. As pessoas falarão que o humor brasileiro está uma droga, que apenas um ou dois programas salvam-se, apesar de continuarem assistindo todos os programas. Na música surgirá outra moda adolescente que será criticada por muitas pessoas e adorada por mais pessoas ainda. As novelas da tão repudiada e, ainda assim, líder de audiência Globo serão repetitivas. A das 6 será uma novela de época totalmente piegas, a das 7 tentará ser engraçada, mas ficará apenas na tentativa, já a das 8 buscará, de um modo falho, abordar assuntos sociais. Na novela das 8 também haverá um assassinato, e todos perguntar-se-ão "Quem matou fulano?".
Agora: as notícias. São Paulo baterá recordes e mais recordes de congestionamento. Haverão problemas com o crime no Rio de Janeiro. Ocorrerão tragédias do tipo "Caso 'nome da pessoa' ", aquelas em que todos ficam abalados e não conseguem acreditar nem imaginar como um pai/marido consegue fazer tal atrocidade com o próprio filho/esposa e vice-versa. Mas também tem os desastres naturais como: desabamentos, enchentes, ciclones, tsunamis, terremotos, epidemias, pandemias etc. A economia mundial terá lá seus probleminhas, assim como a política, com alguns atritos entre alguns países.
A China apenas crescerá, já as Coreias continuarão a se odiar. A política interna brasileira não terá mudanças drásticas, com mais casos de corrupção, tráfico de influência e nepotismo.
Por fim, um Feliz Ano "Novo", mesmo eu nem lembrando de que ano que estou a falar.

Ano novo.

O ano estava acabando, e enquanto ele partia, um novo chegava. "Ano novo, vida nova" ele dizia assim como todos. O ano novo sempre trazia essa sensação, essa renovação. "Esse será o meu ano" ele pensava, todo ano. Mal podia esperar, o ano estava para chegar, o ano novo vinha mudar tudo de novo.
10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1!
E assim que o relógio acusou 00:00, assim que a última página do calendário caiu, assim que o ano velho ficou p'ra trás e do horizonte distante o ano novo surgiu, sua vida começou a mudar: os problemas que tinha com seus pais foram se resolvendo, suas notas na faculdade passaram a melhorar, conseguiu arranjar uma namorada, começou a trabalhar n'um lugar melhor. Sua vida melhorou no instante que o primeiro segundo do novo ano passou, ele não fez nada, não precisou fazer nada. Só por ser um novo ano, sua vida já melhorou, só porque o ano passado ficou p'ra trás, os problemas foram junto.
Ano novo, vida nova.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Existência.

Não penso, logo existo.
Penso, logo faço tudo, menos existir.
Penso, logo sou tudo, menos natural.
Afinal, o que mais natural
Que simplesmente existir?
Sem pensar em mim,
Ou na existência.
As flôres e as árvores existem,
Mas não pensam.
Elas são uma com a Natureza,
Que também não pensa.
Elas existem e eis tudo.

Pois só vivo e existo.
Não penso ou filosófo.
Só vivo a vida,
Existo a existência.
E deixo os pensamentos,
As reflexões,
Para quem insiste em pensar
E se preocupar
E esquece de existir.

Existência.

Eu sei que existo.
Eu sei o que sou...
Sei que sou tudo que fiz.
Não sei se lembrarão de mim
Mas lembrarão do que escrevi
Lembrarão do que sonhei.

Talvez eu não exista
Talvez exista só em sua imaginação
Mas sei o que sou...
Sou feito de decepção, choro e agonia
Sou feito de êxito, sorriso e alegria
Sou feito de tudo que posso ter vivido.

É, de fato eu não existo.
Meus poemas não foram reais
Meus amores foram platónicos
Meus sonhos inalcançáveis.
Minha única certeza foi minha inexistência
Porém, eu poderia ter sido...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Véspera de Natal

E, bem, já é Natal de novo. Eu sempre fui bastante infantiloide, mesmo quando descobri que muita gente não acredita no Papai Noel continuei a semear essa ideia em mim. Sempre adorei o Natal, sempre fui bastante adorador das crenças e dos sentimentos dessa época do ano.
Seguindo a ideia de crer em Papai Noel, busquei sempre ser um bom menino para que o velhinho não me desse carvão no lugar do que pedi.
Mas tudo isso mudou um dia, toda essa minha veneração pelo Papai Noel sofreu um abalo certo dia. Era véspera de Natal, eu já tinha por volta de uns quinze anos, já devia até ter deixado essa crença para trás, mas ainda a cultivava. Pois bem, estavam todos felizes, luzes brilhavam por todos lados, pessoas vestiam-se tal como o bom velhinho, sempre com o característico gorro vermelho no topo da cabeça. Veio então a ceia, todos comendo o de sempre, aquelas piadas típicas sendo lançadas, mas eu não me importava, o que mais esperava era a meia-noite, eu só queria ouvir o relógio bater para abrir meu presente. Estava crente de que seria o que pedi, não havia como não ser, eu não tinha sido um bom menino, eu havia sido um excelente menino, tirei notas azuis o ano todo, fui sempre educado e respeitei a todos como iguais, é claro que não fiz tudo isso pensando apenas em ser um bom garoto, eu o fiz focado em apenas uma coisa, no que tanto pedi para Noel em minha carta. Atravessei portanto a noite toda, pouco me importando se era Chester, Peru ou qualquer outra coisa, pouco me importando com a sobremesa ou com a entrada, tudo que eu ansiava era por aquilo que eu pedi.
Depois de toda aquela sofrida espera, soaram as doze badaladas, era, enfim, meia-noite. Todos correram para abrir os embrulhos e as caixas. Fui como um predador que ataca a sua presa àquele que continha o papel escrito "Para: Lucas". Peguei o embrulho, à primeira vista podia muito bem ser o que eu pedira. Era uma pequenina caixa azul com um laço vermelho em cima. Abri-a finalmente, mas para minha tristeza, não era o que eu tanto queria. Não, não era teu coração. Mesmo tendo implorado para o Papai Noel por teu amor, hoje não és minha.

Véspera de Natal.

Eu sei que já é véspera de Natal, e que eu estou te escrevendo um pouco tarde... mas eu só notei que queria isso agora. Espero que eu possa ser atendido. O que eu quero esse Natal não é nada caro ou grandioso, só queria que as pessoas acreditassem mais em mim. Queria que as pessoas confiassem em mim. Precisassem de mim. Ao decorrer dos anos, sinto que ninguém mais sente a minha falta, dizem que tudo que eu digo é mentira, e até fingem que eu não existo mais. Eu não entendo isso, antes as pessoas gostavam de mim, eu não mudei, mas elas sim. É fácil colocar a culpa nos outros, mas não é esse o caso, eu continuo o mesmo... estou aqui p'ra quem precisar, porém não sei se alguém realmente precisa. Eles falam que não, falam para seus amigos que não sou necessário, que sou falso, como eu disse, que não existo. É tão estranho alguém que esperava tanto para me ver até alguns anos atrás, hoje nem liga para a minha vinda. É tão triste saber que não trago mais alegria às casas que vou, aos lugares que frequento. Claro que eu não estou sozinho, ainda tenho minha amada e alguns amigos que me ajudam sempre, também há quem acredite em mim, confia em mim... só que eu sinto que a cada ano que passa as pessoas não me querem mais aqui, talvez sejam os tempos, seja a idade, mas é isso.
Nesse Natal, eu só queria que acreditassem mais em mim, que minha alegria contagiasse os outros. Queria poder fazer todo mundo sorrir como já fiz uma vez.

Obrigado, Mundo.

Ass: Papai Noel.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Poema da flor.

N'um triste e cinza jardim,
vejo uma flôr manhosa.
"Nunca vi uma flôr assim!
É mais bela que uma rosa."
Digo surpreso.
"E tão perfumada quanto uma violeta.
Será que posso levá-la para casa?"
"Por que não tentas?"
"Oh! Você fala! Não me diga."
"Falo sim, mas são só palavras...
sou frágil como uma margarida."

E todos os dias encontravamo-nos lá,
e perdiamos horas a conversar.
Com seu brilho ela me fez seu girassol.
Só queria saber dela, esqueci dos amigos e do futebol.

Um dia eu finalmente fiz a pergunta que tanto me atiçou:
"Responda-me algo, que flôr tu és, pequenina?"
"Oh! Que flôr sou?
Oras, flôr nenhuma... sou apenas uma menina."

Poema da flor.

Querida, acaba com essa dor
Volta para encher minha vida de alegria
.
Mas não voltarás, não és mais minha
Foste brotar em outro jardim.
Vai então, minha flor
Florescer em outro coração.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Meio-dia.

Badalaram as doze batidas no meu coração. Porém, dessa vez eu não precisava correr. Dessa vez eu fiquei, fiquei e contemplei tua beleza. Contemplei você, você que era meu meio-dia, que era tão calorosa comigo, que trazia tanta luz, tal como o meio-dia.
É, querida, você era o meio-dia, e o dia era minha vida. Aquele dia que era até então pacato e um pouco frio ganhou luz, ganhou calor que aqueceria meu coração a partir daquela hora. Você foi meu meio-dia, a hora divisora entre meu dia e minha tarde, entre aquele Lucas infante, inocente e ingénuo e esse outro Lucas, quase-adulto, maduro e mais sábio.
E é por isso que eu tinha medo do escuro, por isso que não queria mais o frio, desejava apenas o calor do sol das doze horas, queria a tua luz, querida.
Mas mesmo assim anoiteceu.

Meio-dia.

Bateu meio-dia e eu ainda não comecei escrever. Faz meia-hora que olho para a folha em branco. Estamos no meio da semana e nem comecei a arrumar meu quarto. Chegou o meio do mês e não continuei a dieta. Já é o meio do semestree não iniciei os estudos. É o meio do ano e ainda não arrumei um emprego. No meio da década! Não saí do lugar. Estou no meio da minha vida... e não comecei a viver.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Meia-noite

00:00 acusa o relógio.
E eu poderia fazer um desejo,
dizer o que quero...
Para ser bem sincero,
só peço tranquilidade.
Paz, na verdade.
Pois meia-noite é hora de descanso,
eu estou cansado, mas o mundo não fica manso.
Então eu aproveito o ensejo e danço.
Com isso, meu pedido eu alcanço.
Afinal, à luz do luar,
quando começo a dançar,
não sobra espaço para o ódio.

Meia-noite

Badalaram as doze batidas
Eu não era Cinderela
Mas era chegada a hora da partida
Era chegada a meia-noite, hora de mazela.

Passei apenas meia noite contigo
Que tirou meu sono por mais outras mil
Teu amor tornou-se meu castigo
E aquela noite, tão inverossímil.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Pinóquio da vida real.

Então ela perguntou, cheia de insegurança.
-Dize-me, mesmo depois de todo esse tempo, depois de todo mal que te fiz, ainda me amas?
-Não. Não te amo mais, e fico triste ao pensar que posso nunca mais te amar, que posso nunca mais amar a ninguém. - respondeu o garoto, estoico para a maioria, mas ela sabia muito bem que por dentro ele chorava.
-Jura? Não ama-me mesmo? - perguntou mais uma vez a garota, mais insegura do que no primeiro questionamento.
-Juro. Eu perdi todo esse amor. Toda aquela alegria que tomava conta de mim quando eu te via foi embora, e a culpada é você.
-Não, não podes estar dizendo a verdade, tens de estar mentindo! - a garota já estava praticamente a gritar, tamanho o desespero de estar perdendo-o - Éramos tão apaixonados, dizias coisas tão lindas para mim, escrevias poemas tão belos tendo a mim como musa. Não! Não podes estar dizendo a verdade, estás mentindo, não vás, por favor, amor...
Essas últimas palavras foram pronunciadas com a garota já em prantos enquanto se ia debruçando-se e caindo aos pés do amado, tentando segurá-lo ali, tentando evitar a já iminente partida de seu amor.
Mesmo com todo o esforço da menina o garoto foi embora, mas aquelas últimas palavras ecoavam em sua cabeça "estás mentindo".
Seu nariz não havia crescido, mas ela sentiu que ele mentia. De fato, aquela garota o conhecia melhor que qualquer outra, mas ele tinha de ir embora...

Pinóquio da vida real.

Eu conheço um garoto que é chamado de Pinóquio. E, sim, é porque ele mente. Ele vive mentindo, ele mente sempre, com tudo. Mas ele mente tão bem, mas tão bem, que muitos não sabem a verdade que ele guarda.
Pinóquio não é feito de madeira, mas é oco, vazio por dentro. E isso as pessoas não sabem. "Eu estou bem", "não foi nada", "estou feliz", essas são as maiores mentiras que ele conta, mas ninguém nota. Quando Pinóquio mente, seu nariz não cresce, pois não estamos n'um conto de fadas. O que cresce em Pinóquio sempre que ele falta com a verdade é a dor e o sofrimento em seu coração. Seu sorriso? Uma mentira. Seus dias felizes? Falsos. Sua confiança? Inverossímil.
Como eu disse, não estamos n'um conta de fadas, é a vida real. E Pinóquio sabe muito bem que não há uma fada que o ajudará a se tornar um garoto de verdade - ou alguém feliz de verdade, no caso dele-, sabe que não há um grilo falante para o ajudar, e sabe que quando Gepeto foi engolido pela baleia, - ou levou um tiro - ele não sobreviveu para ser salvo por Pinóquio.
Enfim, essa é a história - e não estória - de nosso Pinóquio. Não é nenhuma fábula, não preciso de palavras rebuscadas e tramas bem construídas, pois a vida real é assim, nua e crua. Não estamos n'um conto de fadas, e sim n'um conto de farsas.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Memorial de memórias vivíssimas.

Um coração partido.
Um coração decidido.
Uma má primeira impressão
Contramão,
implicância e insistência.
Segunda chance.
Carência.
Uma pitada de indecência.
Você xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx eu.
Implicância.
"Julieta" --------------------------------------------------------------- "Romeu".
Amor à distância.
Briga, amor, briga, amor, briga, briga, amor, amor, amor, amor, brigamor, brigamor, amor.
Você me liga. _________ Amor. ___________________ Briga.
Confusão e poema sem rima.
Cartas não enviadas.
História interminada.
Nem eu sei o que nós temos,
talvez só compartilhemos
de vivíssimas memórias.
Fragmentos de vitórias.

Memorial de memórias vivíssimas.

Éramos tão jovens e também tão orgulhosos de nós mesmos
Nos achávamos tão superiores aos outros, e talvez fôssemos.
Eras tão bela e também tão sábia, minha querida
Não exatamente com números e figuras de linguagem, mas com a vida.
Não gostavas muito das ciências
Mas meu coração tu ouvias.

Não era fã das pieguices românticas que todo mundo dizia
Mas com meus versos teu coração se derretia.
Foste a maior musicista que já existiu em meu mundo
Quando eu ouvia teus acordes, o universo parava por um segundo.
Quem te via passar sabia que tinhas algo de diferente
Tinhas a mim, o que bastava para ficares contente.

Mas hoje já não me tem mais
O que basta para acabar minha paz.
Acabamos, minha flor, eu bem sei
Já tu, não sabes quantas lágrimas derramei.
Partiste, ó flor, e deixaste apenas tristeza e algumas vivíssimas memórias
Que em minhas obras contarei, disfarçadas de ficcionais histórias.

Ó, minha flor, por certo foste diferente
Me amaste, coisa inédita em minha vida
Adeus, ó flor.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Na chuva.

Se alguém estivesse naquela rua paulistana uma hora antes, jamais imaginaria o que viria a acontecer um tempo depois. Estava ensolarado, fazia um calor que para alguns seria até irritante. Todos estavam alegres, embora o calor enchesse-os de fadiga ainda havia espaço para diversão.
Passou-se finalmente a tal hora e chegou um rapaz extremamente melancólico. Tinha o semblante soturno, era claramente uma pessoa miserável e parecia ser circundado por tempestades, por uma chuva.
E ficava aí o garoto na chuva (ou sob a chuva, dependerá apenas do linguista), ninguém se importava com ele, ele não se importava com ninguém. Mas ele teimava em não sair dali, o garoto da chuva (ou o garoto que estava na chuva, dessa vez depende de qual preferires), uns diziam que ele devia esperar por alguém, por uma tal garota que deixou-o daquele jeito, por uma garota que deixou sua vida chuvosa, outros diziam que ele não tinha para onde ir. Não sei com qual das duas opções fico, visto que não sou um daqueles narradores oniscientes.
Semanas depois da chegada do chuvoso mancebo as pessoas do bairro resolveram que alguém deveria falar com ele, os comerciantes reclamavam que o constante aguaceiro repelia a freguesia, as mães temiam que suas crianças pegassem um resfriado se brincassem na rua e as crianças queriam apenas brincar na chuva. Depois de longas discussões elegeram um representante para ir falar com o pluvial moço, ou melhor, uma representante. Era uma garota de apenas 16 anos, de pele, cabelos e olhos de um lindo moreno mate, não parecia de muita liderança, todavia, ela sentia que havia algo nele, que ela poderia ajudá-lo.
-Oi. - disse a mocinha sem muita segurança - Oi? Moço? - e esperava o imóvel rapaz responder - Moço? Estás a me ouvir?
O rapaz reagiu, ficou com um semblante de dúvida e disse:
-"Estás"? Como assim um tratamento em segunda pessoa? Ninguém fala assim aqui. - enquanto ele falava era perceptível um sotaque lusitano.
-Ah, é que eu gosto destes modos mais rebuscados de falar e adoro Portugal. Falando nisso, notei em ti um sotaque lisbonense, és português?
-Sou sim.
-E outra coisa, por que choras?
-Sinto falta de algo.
-De uma rapariga?
-Não, de Lisboa, choro porque vim para essa cidade procurar uma outra vida e só encontrei tristeza. Mas logo logo eu paro de chorar, estarei de partida em um mês.
-Posso ir contigo? - disse a jovem cheia de esperança.
O resto eu não ouvi, só os vi indo embora, mas sem a chuva. Um amigo meu disse que os viu em Lisboa, às margens do Tejo. E o dia era belíssimo.

Na chuva.

Enquanto caminhava rumo ao trem, embaixo desse sol escaldante, é que ela veio. Forte e rápida a chuva caiu torrencial do céu. Um grupo se escondeu embaixo do guarda-chuva de um deles. Alguns outros protegeram-se com suas blusas ou com jornais. Boa parte correu da água. Um grupo que não tinha pressa se escondeu embaixo do viaduto, para esperar a chuva passar. Alguns praguejavam, outros calavam. Mas não vi ninguém, nem aqui nem ali, nem quem vinha nem quem ia, nem homens nem mulheres, adultos ou crianças; ninguém, além de mim, parou e sorriu para o céu. De braços abertos e olhos cerrados, sentindo a água me purificar, sentindo a paz me encharcar.
Na chuva, lá estava eu, sorrindo em paz, saboreando a calma.