sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Casulo

Sempre fora uma larva cinza e sem graça. Uma lagartinha que foi menosprezada toda tua vida, embora pensasse grande, embora tentasse ser alguém. Cinza sempre era a cor de tuas vestes. Cinza cor de paisagem - numa cidade grande, a paisagem sempre é cinza. Pensara por muito tempo que era uma superficialidade importar-se com o exterior, supora por muito tempo que o interior era só o que tinha valor. Dia após dia, ela tentava ser valorizada, ser alguém nessa selva. Dia após dia, ela falhava, não era ninguém na floresta.
Até que um dia, caminhando sem rumo, pensando em como ser ouvida, viu a crisálida mais linda de sua vida. Era completamente dourada, cheia de adornos, no mínimo, excêntricos. Com babados jogados aqui e ali. Exageradamente belo, cada detalhe tinha um diferencial, era cravada de rubis flamejantes. O brilho que a crisálida emanava chamava, convidava, implorava pela lagarta. "Venha até mim, dócil larva, venha ser feliz, venha ser alguém", entoava ela. Caminhou até a bela pupa com passos angelicais, todo e qualquer movimento era coberto d'uma graciosidade ímpar. Entrara, enfim no belo casulo. A metamorfose tivera início. Começara a mudar.
Duas semanas depois, crescendo e amadurecendo dentro da aurélia dourada. Pensando e planejando dentro da pupa d'ouro. Ela julgava-se pronta para sair, para aparecer para o mundo. E mais que julgar a si mesma, julgava o mundo pronto para ela, ou melhor, o mundo precisava dela. Com a doçura d'uma mãe que descobre um filho n'uma manhã ensolarada para o desjejum, ela tirou a fina seda que a protegia. Como uma noiva que caminha para o altar, ela deu um passo para fora do casulo côr-de-sol. Olhara em volta, como quem acaba de acordar tentando entendenr onde está e sacudiu-se graciosamente para o sangue correr vivo em suas veias. A inocente e desprotegida larva tinha mudado. Deixara de ser alguém sem cor, desinteressante. Agora não, agora tornara-se uma linda e imponente borboleta. Com enormes asas verdes com detalhes púrpuras. Adornadas com pequenas esferas prateadas em cada ponta. Seu corpo era lânguido e comprido, dividido em quatro por horizontais faixas negras que constratavam sua pele creme. Carregava um sorriso sublime e amável, completo por um olhar sedutor e penetrante. Tinha duas antenas compridas e comportadas com um pequeno enfeite anil na ponta.
Saiu da crisálida para o mundo. Da sarjeta para os holofotes. Estava preparada para a fama, para os paparazzi. Alguns podiam acha-la um monstro, outros não conseguiam ler seu rosto. Ela era tudo isso e muito mais, mudaria o mundo, abalaria o mundo. Era esse teu destino. Ela nascera assim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário