terça-feira, 29 de maio de 2012

Mau gosto.

Disseram-me que tenho
mau gosto.

Absurdo!
É tão bela e graciosa. como poderia ser
mau gosto?

Só porque você é diferente
de todas as outras, de todos
e tem um jeito único no mundo, vêm me dizer que é
mau gosto!

Bom, é claro que seu sorriso não é perfeito
seu cabelo pode ser diferente até demais
e suas roupas são desleixadas, assim como você toda
bom, pensando bem... talvez... fico feliz em ter
você

Mau gosto.

Tenho mau gosto,
Para artes,
Para mulheres,
Para tudo.

Tanto mau gosto
Que se juntarmos meus grandes amores,
Teremos uma garota pálida demais,
Com dois dentes tortos,
Cabelo desgrenhado
E um nariz grande demais,
Isso sem contar sua magreza excessiva.

Mau gosto
Por amar a moça que hoje amo
Ela é feia,
Mas nunca ela
Poderá saber que esse poema é dela.
Ou que dizem que não é sábia o suficiente,
Nem parece ter grande personalidade.

Tanto mau gosto.
O meu maior amor,
Não é das mais belas.
O meu maior amor cheira mal,
Ela é tão barulhenta,
Ela tem trânsito
E ônibus lotados.


Tenho mau gosto.
E nem sei por que
Você poderia gostar
De alguém como eu.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Planos.

Um garoto nasceu em boa família, cresceu sendo educado em português e inglês, deixava a brincadeira de lado para dedicar-se aos estudos, isso desde pequeno. Ao entrar na escola sempre esteve à frente dos demais, sempre foi o orgulho dos pais e um exemplo a ser seguido. Por volta da sexta série, quando os outros garotos se preocupavam com futebol e garotas ele tinha de estudar e já falava duas outras línguas fluentemente. Os anos foram passando e ele mantinha esses índices e acrescentava outros, ele era um garoto tão especial, era o que sempre diziam. Passou o ensino médio entre trabalhos sociais e estudos intensos, era laureado sempre como o melhor estudante que seu colégio já havia tido. Entrou no melhor curso da melhor universidade do país, como era de se esperar. Evidentemente que em primeiro lugar, era para aquilo que todos seus planos haviam sido feitos. Na faculdade tudo se repetiu: primeiro em todas as classes, formado com louvor, mestrado, doutorado e tudo que ele podia conseguir em sua vitoriosa carreira. Casou-se com uma mulher que todos achavam linda, claro que ela também era formada em um ótimo curso de uma excelente faculdade. Tiveram lindos filhos, fizeram planos para eles, e eles também foram educados em português e inglês. Depois de todos esses planos, morreu.
Outro garoto nasceu em uma família qualquer, cresceu bagunçando a vida de seus pais, mas ainda assim ele era o grande amor deles. Na escola era um aluno mediano, nunca deu muito trabalho mas também não chegava a ser um gênio. O resto do ensino fundamental foi mais do mesmo, vez ou outra seus pais tinham de colocá-lo nos eixos, mas nada de mais. Apaixonou-se, teve seu coração partido, sorriu, passou por tudo que os jovens passam, não era um garoto especial, era um garoto como qualquer outro. No ensino médio ele deixou de ser ordinário, ao menos é o que ele pensava apenas por ter descoberto bandas desconhecidas e se vestir diferente, ele até queria ser artista. Namorou duas garotas que também eram diferentes, embora fossem idênticas uma à outra. Veio então a faculdade, ele não sabia muito bem o que fazer, todos o criticavam por não fazer planos, mas, de qualquer modo, ele entrou em um curso não muito bem visto, desse modo ele seria feliz e era esse seu único plano. O problema é que o repreendiam mais agora que tinha um plano de apenas ser feliz que quando ele não tinha plano algum, pouco importa, ele abandonou esse curso e mais dois, acabou se formando em algo que não gostava e parou na graduação mesmo. Entre o abandono do terceiro curso e o ingresso no quarto ele encontrou uma moça que o completava, era pintora, era dois anos mais nova que ele e era suicida até o dia em que o conheceu. Sua família e amigos lhe diziam que ela não era boa para ele, mas ele não queria alguém bom para ele, ele queria alguém para ele e, afinal, conhecê-la estava mais em seus planos que qualquer outra coisa, pois ela o fazia mais feliz que qualquer outra pessoa já havia feito. Foi ela que o fez terminar esse último curso para apenas ter um emprego estável, mas ela também sempre o apoiou em sua arte, ele tentou seguir com sua carreira de escritor, embora não fosse muito bom. Tiveram dois filhos e sempre mostraram a eles o quão importante era simplesmente ser feliz. Depois de toda essa sua felicidade, morreu.

Planos.

Admito que fiquei muito chateado quando nossa viagem deu errado. Eu havia planejado tudo há tanto tempo, todos os mínimos detalhes, o hotel, as passagens, as férias... mas não planejei ter caído as escadas e quebrado os dois joelhos, realmente.
Acho que foi um sinal, devia deixar de fazer tantos planos, viver mais espontaneamente, não pensar no amanhã sem dar atenção para o hoje. Mas ainda sim, planejei como seria quando você entrasse no quarto do hospital, você estaria tão preocupada, com seus pequenos olhinhos semi-marejados, eu faria alguma piada besta, você riria e me daria um beijo apaixonado. Admito que você lacrimejou, e riu, mas não nessa ordem; ao ver meu estado, com as pernas engessadas e suspensas, não pôde segurar uma sonora gargalhada, tanto riu que começou a chorar, ficou vermelha e sem fôlego, no final, como o planejado, me deu um beijo, não logo, tampouco romântico, pois ainda estava rindo e acabou mordendo meu lábio por descuido, e meus planos outra vez deram errado.
E pensar que há alguns meses atrás, não existia um plano sequer de tantos sorrisos, de tanta alegria, de você.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Desencantado.

Nada em minha vida fazia sentido.
Mas assim que a vi,
Tudo mudou, e eu só pude dizer:
"Encantado"

Encantado eu seguia,
E já eras minha vida
E tudo que em ti eu via
Só fazia-me pensar:
"Como podes ser tão encantadora?"

Mas tu também tinhas
Seu lado incompreensível,
E eu, que nunca fui de filosofias,
Nem tentava esforçar-me para entendê-la.
E tu só fazia com que eu me perdesse cada vez mais.
É, tu e teus encantos.

A grande pena é que a vida cansa-me, querida,
E eu acabo entediado,
Mas não se acaba em morte dessa vez,
Não, querida, não sou assim tão grave,
Só desencantado.

Desencantado.

Seu altivo e alvo alazão
é uma bicicleta vermelha para duas pessoas.
Seus belos e brilhantes cabelos
são encaracolados e selvagens.
Sua brava armadura de bronze
é uma camisa xadrez e um jeans surrado.
Sua estonteante espada Excalibur 
é uma Les Paul clássica.
Seu sério e sólido semblante
um sorriso bobo no rosto.

E o seu príncipe dos sonhos,
um príncipe (des)encantado de verdade.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

xXx

Agora mesmo tu deves estar a beijá-lo, a fazer carícias por todo o corpo, e ele está adorando cada segundo disso. Agora mesmo dizes coisas impublicáveis ao pé do ouvido dele, e ele sorri, ele a ama tanto, ele a deseja profundamente. Mas ele não é ingênuo, ele também conhece uma coisa ou duas. Ele te tem nas mãos, não só literalmente, ele a tem, e tu és toda dele. Ele te toca, ele te acaricia, ele beija teu corpo e enlouqueces. E eis que a brincadeira não é só brincadeira, ele tira a tua camisa, aquela que eu tanto adoro. 
Bem, acho melhor parar por aqui, jovens podem estar lendo. Não que eles sejam puros e infantis a ponto de não saberem nada disso, muito pelo contrário, eu simplesmente não pretendo dar esse prazer a eles. De qualquer forma, o que sucede todos sabem, e eu prefiro ignorar, mas ainda assim eu me pergunto, se pensas em mim vez ou outra. Não, não queria dizer durante a relação. Não, entendeu tudo errado, embora isso seja  bastante lisonjeiro, embora eu sonhe que grites meu nome quando te deitas com ele. Ou talvez sim, por que não?
É, quem me dera ser aquele em quem tu pensas ao se tocar, quem me dera ser teu, quem me dera ser aquele que a preenche, e mais uma vez não o digo no sentido figurado, quem me dera estar dentro de ti, amá-la da maneira mais pura e lasciva possível. Para o inferno com os jovens, que eles leiam o queriam ler, eu queria possuí-la, eu queria tocá-la, queria tê-la mesmo que não fosses minha, pouco me importaria que gritasses outro nome, que pensasses em outro homem, isso tudo faz parte, meu bem, queria que me desses prazer como nunca imaginou dar a alguém. Sim, dar. Simples assim, nada de eufemismos, nada de poesia, nada de figuras ou de ambiguidades, nada de "comê-la como se fosse doce", - até porque essa frase nem mesmo é minha - comê-la e só, há como ser mais direto? Eu e tu somente, ou melhor, eu e você - chega de tu, chega de caprichos e de falsa castidade, eu a desejo e ponto - em um quarto a sós, eu e você em uma cama, eu em você, você em mim, é simples.
E na manhã seguinte acordar ao teu lado, sem tanta lascívia, é claro, mas acordar ao teu lado e ver-te angelical a usar minha camisa como vestido, depois de ser impura, depois de ser ardente, depois de ser minha. É, quem me dera acordar ao teu lado e ouvir-te chamar-me de querido, quem me dera ser aquele em quem você pensa ao se tocar.
Mas você não pensa em mim? Nem mesmo de vez em quando, não precisa ser quando se toca, só precisa pensar em mim. Não pensa mesmo? Tudo bem, estou acostumado com isso.
Eu nunca te amei, a propósito.

xXx

Quando, esbaforido, eu parei na frente da sua porta, percebi que cada vez que eu subia as escadas para sua casa, ia ficando mais sem fôlego, larguei o cigarro.

Quando, abandonado, acordei na calçada, com uma dor de cabeça imensurável, percebi que cada vez que brigávamos, eu me estragava mais, larguei a bebida.

Quando, desolado, abri os olhos para a vida, depois de tanto sofrer e mentir para mim, percebi que cada vez que um problema aparecia, eu fugia da verdadeira razão da ruína da minha felicidade, larguei você.