sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O Violinista.

A corda vibrava melancolicamente. Aquela longa nota aguda que anunciava o início duma nova canção.
Nunca ensaiava, a música era sua expressão, a janela para sua alma, e não existe ensaio para nossos sentimentos. O reflexo de seu coração, era isso que o violino significava-lhe. Ele só queria ser ouvido, queria que alguém - qualquer um - parasse e lhe desse atenção - apenas um segundo! -, só não queria ficar sozinho.
E, em verdade, sozinho não estava, era mui talentoso, com habilidade a sobrar-lhe, indubitavelmente um ás, e cada vez mais aglomeravam-se fãs seus, admiradores da fina e aristocrática música clássica. Mas solitário sim, sempre esteve e tinha plena certeza de que sempre estaria. Rodeado ou não, com um ou cem pessoas a escutá-lo, era solitário, sem alguém para dedicar suas canções.

Um som de piano podia ser ouvido onde sempre estivera o violinista. O violinista podia ser visto onde normalmente algum fã estaria a ver sua performance, geralmente uma bela garota a qual o violinista nunca notara, mas dia após dia estava lá, a sonhar, a criar coragem. A bela garota podia ser observada a tocar a mais bela e melancólica canção que o violinista ou qualquer outro já ouvira.
Agora ele a notava, mas por ser um músico, a conhecia pelo ouvido. Cada nota era um fragmento de sua história, um pedaço condensado de seus sentimentos.
Tirou seu arco, pegou seu violino e tocou uma música semi-alegre, uma tristeza com gosto de esperança. Ela parou por um segundo, fitou-o, sorriu-lhe. Acompanhou o ritmo da música, que cada vez mais alegrava-se. Acelerava, e contagiava - não os espectadores, mas um ao outro.
Alta, barulhenta, ruidosa. Foram perdendo o ritmo, a graciosidade, estavam a gargalhar sem se importar com partituras ou melodias. Pouco a pouco, aqueles que pontualmente reuniam-se para ouvi-lo partiam. Resmungando, praguejando, incomodados com a felicidade e o verdadeiro amor.

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