sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Pinóquio da vida real.

Então ela perguntou, cheia de insegurança.
-Dize-me, mesmo depois de todo esse tempo, depois de todo mal que te fiz, ainda me amas?
-Não. Não te amo mais, e fico triste ao pensar que posso nunca mais te amar, que posso nunca mais amar a ninguém. - respondeu o garoto, estoico para a maioria, mas ela sabia muito bem que por dentro ele chorava.
-Jura? Não ama-me mesmo? - perguntou mais uma vez a garota, mais insegura do que no primeiro questionamento.
-Juro. Eu perdi todo esse amor. Toda aquela alegria que tomava conta de mim quando eu te via foi embora, e a culpada é você.
-Não, não podes estar dizendo a verdade, tens de estar mentindo! - a garota já estava praticamente a gritar, tamanho o desespero de estar perdendo-o - Éramos tão apaixonados, dizias coisas tão lindas para mim, escrevias poemas tão belos tendo a mim como musa. Não! Não podes estar dizendo a verdade, estás mentindo, não vás, por favor, amor...
Essas últimas palavras foram pronunciadas com a garota já em prantos enquanto se ia debruçando-se e caindo aos pés do amado, tentando segurá-lo ali, tentando evitar a já iminente partida de seu amor.
Mesmo com todo o esforço da menina o garoto foi embora, mas aquelas últimas palavras ecoavam em sua cabeça "estás mentindo".
Seu nariz não havia crescido, mas ela sentiu que ele mentia. De fato, aquela garota o conhecia melhor que qualquer outra, mas ele tinha de ir embora...

Pinóquio da vida real.

Eu conheço um garoto que é chamado de Pinóquio. E, sim, é porque ele mente. Ele vive mentindo, ele mente sempre, com tudo. Mas ele mente tão bem, mas tão bem, que muitos não sabem a verdade que ele guarda.
Pinóquio não é feito de madeira, mas é oco, vazio por dentro. E isso as pessoas não sabem. "Eu estou bem", "não foi nada", "estou feliz", essas são as maiores mentiras que ele conta, mas ninguém nota. Quando Pinóquio mente, seu nariz não cresce, pois não estamos n'um conto de fadas. O que cresce em Pinóquio sempre que ele falta com a verdade é a dor e o sofrimento em seu coração. Seu sorriso? Uma mentira. Seus dias felizes? Falsos. Sua confiança? Inverossímil.
Como eu disse, não estamos n'um conta de fadas, é a vida real. E Pinóquio sabe muito bem que não há uma fada que o ajudará a se tornar um garoto de verdade - ou alguém feliz de verdade, no caso dele-, sabe que não há um grilo falante para o ajudar, e sabe que quando Gepeto foi engolido pela baleia, - ou levou um tiro - ele não sobreviveu para ser salvo por Pinóquio.
Enfim, essa é a história - e não estória - de nosso Pinóquio. Não é nenhuma fábula, não preciso de palavras rebuscadas e tramas bem construídas, pois a vida real é assim, nua e crua. Não estamos n'um conto de fadas, e sim n'um conto de farsas.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Memorial de memórias vivíssimas.

Um coração partido.
Um coração decidido.
Uma má primeira impressão
Contramão,
implicância e insistência.
Segunda chance.
Carência.
Uma pitada de indecência.
Você xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx eu.
Implicância.
"Julieta" --------------------------------------------------------------- "Romeu".
Amor à distância.
Briga, amor, briga, amor, briga, briga, amor, amor, amor, amor, brigamor, brigamor, amor.
Você me liga. _________ Amor. ___________________ Briga.
Confusão e poema sem rima.
Cartas não enviadas.
História interminada.
Nem eu sei o que nós temos,
talvez só compartilhemos
de vivíssimas memórias.
Fragmentos de vitórias.

Memorial de memórias vivíssimas.

Éramos tão jovens e também tão orgulhosos de nós mesmos
Nos achávamos tão superiores aos outros, e talvez fôssemos.
Eras tão bela e também tão sábia, minha querida
Não exatamente com números e figuras de linguagem, mas com a vida.
Não gostavas muito das ciências
Mas meu coração tu ouvias.

Não era fã das pieguices românticas que todo mundo dizia
Mas com meus versos teu coração se derretia.
Foste a maior musicista que já existiu em meu mundo
Quando eu ouvia teus acordes, o universo parava por um segundo.
Quem te via passar sabia que tinhas algo de diferente
Tinhas a mim, o que bastava para ficares contente.

Mas hoje já não me tem mais
O que basta para acabar minha paz.
Acabamos, minha flor, eu bem sei
Já tu, não sabes quantas lágrimas derramei.
Partiste, ó flor, e deixaste apenas tristeza e algumas vivíssimas memórias
Que em minhas obras contarei, disfarçadas de ficcionais histórias.

Ó, minha flor, por certo foste diferente
Me amaste, coisa inédita em minha vida
Adeus, ó flor.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Na chuva.

Se alguém estivesse naquela rua paulistana uma hora antes, jamais imaginaria o que viria a acontecer um tempo depois. Estava ensolarado, fazia um calor que para alguns seria até irritante. Todos estavam alegres, embora o calor enchesse-os de fadiga ainda havia espaço para diversão.
Passou-se finalmente a tal hora e chegou um rapaz extremamente melancólico. Tinha o semblante soturno, era claramente uma pessoa miserável e parecia ser circundado por tempestades, por uma chuva.
E ficava aí o garoto na chuva (ou sob a chuva, dependerá apenas do linguista), ninguém se importava com ele, ele não se importava com ninguém. Mas ele teimava em não sair dali, o garoto da chuva (ou o garoto que estava na chuva, dessa vez depende de qual preferires), uns diziam que ele devia esperar por alguém, por uma tal garota que deixou-o daquele jeito, por uma garota que deixou sua vida chuvosa, outros diziam que ele não tinha para onde ir. Não sei com qual das duas opções fico, visto que não sou um daqueles narradores oniscientes.
Semanas depois da chegada do chuvoso mancebo as pessoas do bairro resolveram que alguém deveria falar com ele, os comerciantes reclamavam que o constante aguaceiro repelia a freguesia, as mães temiam que suas crianças pegassem um resfriado se brincassem na rua e as crianças queriam apenas brincar na chuva. Depois de longas discussões elegeram um representante para ir falar com o pluvial moço, ou melhor, uma representante. Era uma garota de apenas 16 anos, de pele, cabelos e olhos de um lindo moreno mate, não parecia de muita liderança, todavia, ela sentia que havia algo nele, que ela poderia ajudá-lo.
-Oi. - disse a mocinha sem muita segurança - Oi? Moço? - e esperava o imóvel rapaz responder - Moço? Estás a me ouvir?
O rapaz reagiu, ficou com um semblante de dúvida e disse:
-"Estás"? Como assim um tratamento em segunda pessoa? Ninguém fala assim aqui. - enquanto ele falava era perceptível um sotaque lusitano.
-Ah, é que eu gosto destes modos mais rebuscados de falar e adoro Portugal. Falando nisso, notei em ti um sotaque lisbonense, és português?
-Sou sim.
-E outra coisa, por que choras?
-Sinto falta de algo.
-De uma rapariga?
-Não, de Lisboa, choro porque vim para essa cidade procurar uma outra vida e só encontrei tristeza. Mas logo logo eu paro de chorar, estarei de partida em um mês.
-Posso ir contigo? - disse a jovem cheia de esperança.
O resto eu não ouvi, só os vi indo embora, mas sem a chuva. Um amigo meu disse que os viu em Lisboa, às margens do Tejo. E o dia era belíssimo.

Na chuva.

Enquanto caminhava rumo ao trem, embaixo desse sol escaldante, é que ela veio. Forte e rápida a chuva caiu torrencial do céu. Um grupo se escondeu embaixo do guarda-chuva de um deles. Alguns outros protegeram-se com suas blusas ou com jornais. Boa parte correu da água. Um grupo que não tinha pressa se escondeu embaixo do viaduto, para esperar a chuva passar. Alguns praguejavam, outros calavam. Mas não vi ninguém, nem aqui nem ali, nem quem vinha nem quem ia, nem homens nem mulheres, adultos ou crianças; ninguém, além de mim, parou e sorriu para o céu. De braços abertos e olhos cerrados, sentindo a água me purificar, sentindo a paz me encharcar.
Na chuva, lá estava eu, sorrindo em paz, saboreando a calma.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Suicídio.

Pule do alto de um prédio,
não há melhor remédio.
Abra o gás e feche a janela,
passe seus últimos momentos pensando nela.
Prenda uma corda no pescoço e se enforque,
não que alguém se importe.
O quê? Quer um fim pior?
Sei d'uma morte lenta e dolorosa.
Você sofrerá muito mais.
Aceita? Quer saber?
O pior tipo de suicídio que pode fazer
é continuar vivendo.