terça-feira, 16 de novembro de 2010

No funeral.

A chuva cai do céu.
E dos olhos dos meus amigos.

O frio está no vento.
E no meu peito já sem vida.

A oração não consola.
O silêncio ensurdece.

Se eu pudesse dizer uma última coisa.
Vejo agora que não seria:
"Não chorem, eu quero que sorriam."
Pois, a realidade, a morte, é diferente.
"Chorem, mas não por me perderem,
chorem porque eu os perdi.
E estou sozinho aqui,
para sempre.
Sem vocês.
Sem deuses.
Sem paz."

No funeral

Então, eu abri meus olhos
Meu corpo estava frio
Todos choravam
Todos estavam de luto
Eu ouvia uma marcha fúnebre
Mas não, eu não havia morrido.

Eu toquei teu corpo
Estava fria, com pele marfínea
Segurei triste tua mão de neve
E chorei ao ver teu rosto tão fraco
Rico em ossatura, pobre em vida.
Mas não, tu não havias morrido.

Perguntei-me então de quem era aquele funeral
Por quem tanta gente choraria?
Resolvi olhar em volta
E foi aí que reparei em uma ausência
Eu estava ali, você também, mas faltava alguém
E sim, o amor havia morrido.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

"Como você mudou."

Você me dirá palavras "sábias" sobre como eu mudei e sou um tolo agora, pois é, você me dirá palavras do tipo:
"Como você mudou. Você não era assim, Lucas. Se lembra de quando você ia atrás de seus sonhos? Nossa, você era demais, eu te admirava tanto, você era alguém que tantos queriam ser, você era tão inteligente (ou melhor, ainda é), era tão simpático e bem-humorado e nos esportes não ficava muito atrás. Você já tinha esse espírito artístico, me lembro quando você me mostrou seu primeiro poema, o qual tinha logo eu como musa, imagino quem será sua musa hoje em dia… me lembro também de quando mentiu pra mim, fingindo que um poema de alguém famoso (não me lembro quem era o autor) era seu, e eu logo descobri sua farsa.
Você era tão sorridente, você me fazia sorrir, nossa, como você me cativava, bem, você cativava a todos. Você tinha um gosto musical excelente, me lembro das tardes que passamos um com o outro, ouvindo aquelas músicas que só nós pensávamos que gostávamos, éramos tão 'especiais', não é, Lucas? Éramos tão 'superiores', ah bons tempos aqueles…
Mas hoje você é diferente, ah, como você mudou. Você não segue mais seus sonhos, você não é mais tão admirado, só sua inteligência, que só serve para fazê-lo arrogante, achando que é o maior sábio do mundo, continua. Não há mais simpatia em você, virou um casmurro. Seus poemas são claramente vazios.
Você não sorri mais, você entristece aqueles em sua volta. Parte das músicas que ouve se tornaram ordinárias, mas também, você se tornou ordinário.
Como você mudou, Lucas, como você mudou."
E eu, bem, eu diria:
"É, eu mudei, mudei tentando te agradar. O único sonho que eu ainda tenho, é te ter. Se não sou mais simpático, é porque eu tentei me adaptar a você e deixei tudo o que eu realmente era pra trás. Ah é, você se perguntou sobre quem seria minha musa de hoje em dia, bom… ela é você, ou melhor, ela é o que você costumava ser, eu me inspiro naquela garota por quem me apaixonei anos atrás.
E pois é, não sorrio mais, mas há um motivo pra isso, você se foi embora, você não está mais ao meu lado. E, por fim, as músicas. Elas não são ordinárias, a não ser que você se considere ordinária, porque todas elas me lembram de você, todas elas se relacionam conosco.
Como você mudou, querida, como você mudou."
Isso é o que eu diria, mas não terei a chance de dizer-lhe isso. Então deixemos tudo calado.

"Como você mudou."

-Como você mudou.
-Como eu mudei? É claro que eu mudei. Se não mudasse, nunca estaríamos aqui. Nunca teríamos nada, nem essa conversa. É claro que eu mudei, mudei p'ra ser alguém bom p'ra ti, p'ra você gostar de mim, se interessar, p'ra podermos ser amigos e, quem sabe, algo mais. E quer saber a verdade? Deu certo, aproximamo-nos muito, viramos amigos e, não sei, algo mais. E menos! Mas daí, eu mudei, de novo. Eu ficava tão feliz contigo, tão bem, eu acho que passei a precisar de você. E quando estavamos juntos, eu não conseguia conter os meus sentimentos... nem os bons... nem os ruins. Ciúmes, o medo de te perder, a tristeza de te ver partir. Isso fazia mal a mim, a nós! E eu precisei mudar, precisei esconder o que eu sentia, precisei "pegar leve", eu não sei "pegar leve". E, agora, mudei de novo... afastamo-nos, você pediu um tempo, precisava do seu espaço. Eu disse "eu entendo, é melhor assim", não! Não é melhor assim. Nunca poderia ser melhor eu sem você! Então, sem você, eu mudei, minha alegria parece que gostava tanto de ti que, quando você me deixou, foi junto. Meu sorriso combinava tanto com o seu riso, que sua ausência parecia recriminá-lo de estar presente. Eu mudei, fiquei deprimido, triste, destruído. Você me estragou! Me estragou! E agora vem dizer "como você mudou", é claro que eu mudei! Se eu não mudasse, as coisas não mudariam sozinhas, eu me arrisquei e acabei perdendo.
-Suas lágrimas... são a prova de que você não mudou, desculpe-me, fui eu, não fui?
-Minhas lágrimas são a prova. Não a prova de que eu ou você mudou. Mas a prova de que não mudamos quem somos, e sim como somos.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Amor irracional.

O que eu sinto por você
"é algo bem natural"
você vai me dizer.

Mas eu penso d'outra maneira,
é um amor irracional,
não é brincadeira.

"Não se faça de tolo,
nenhum amor é racional,
não sei p'ra que tanto rolo."

Exatamente!
Não é um amor normal,
você não sai da minha mente.

"Vamos, seja sensato,
ao menos, rime bem,
está ficando chato."

Não é culpa minha,
eu não penso em mais ninguém
é impossível ficar na linha.

"Então, é bom corrigir esse seu amor,
que as suas poesias estão péssimas,
não rimarei mais contigo, adeus."

Não me faça essa desfeita,
por favor,
faço-te minha Julieta!
Não se vá.
Não assim!
É o fim...

Amor irracional

Eu diria que tuas efélides são de ímpar beleza
Mas pareceria forçado, ilegítimo
"Acho tuas sardas maravilhosas"
É mais sincero, verdadeiro.

Eu tinha outro poema escrito
Com rimas ricas e versos alexandrinos
Mas não, esse amor é irracional
Nele não cabe a sensatez.

Eu diria "Teu ósculo, quando dar-mo-á?"
Outra vez seguiria a razão
"Então, quando me dará teu beijo?"
Certo, isso sim veio do coração.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Garota do tempo.

Bem, caro leitor, se tiver tempo, contar-lhe-ei uma história.
Ela se passa em um dia, bem... o dia estava tranquilo. Já havia um bom tempo que eu não via um dia com um clima tão agradável. O sol estava no céu, algumas nuvens pairavam sob ele, escondendo-o e mostrando-o, como em uma brincadeira. Não fazia calor, tampouco frio, era um clima agradabilíssimo. Pouco ventava, se bem que aquilo não era muito bem algo que se chame de vento, estava mais para uma brisa, uma doce e suave brisa.
Mas não, a calma não viera para ficar, não, ela nunca fica. Ela se foi no mesmo instante que chegou uma amável senhorita cujo nome prefiro omitir, chamemo-na de Garota do Tempo, eu e ela tínhamos algo já fazia um tempo. A calma foi embora devido ao fato de que essa garota não é uma garota qualquer, ela parece controlar o tempo, mas não o tempo de horas e minutos, o tempo que é sinônimo de clima, o tempo das estações e da temperatura.
Pois deixemos as descrições de lado e utilizemos a narração. Ela chegou e disse-me friamente.
-Como vai, Lucas?
Pronto, essas doze letras intensificaram tudo, apenas de ouvi-la, apenas de estar com ela, tudo mudava. A brisa virou tufão, o clima agradável agora tornou-se calor, calor proveniente do mais tenro amor.
-Bem e você? - respondi fingindo impassibilidade.
O resto da conversa pouco importa, continuou mais do mesmo. Ficamos lá, eu, nervoso, trêmulo, quase causando um terremoto de tanto que meus joelhos se batiam, e ela, fria como uma geada, nada parecia importar para ela.
Depois de aproximadamente três quartos de hora ela introduziu um assunto que tinha importância.
-Bem, Lucas, na verdade eu tenho algo bastante sério para te dizer...
-Pois diga. - meu coração congelou de tanto medo da tal notícia
-É que chegamos ao fim.- fiquei embasbacado - O nosso tempo acabou, a nossa chama se apagou... - ela podia continuar dizendo todas as metáforas que significam que o amor acabou que eu mesmo assim permaneceria, e ainda permaneço, sem conseguir entender.
E agora cá estou, sozinho. O clima sem ela não é mais o mesmo, parece sempre chuvoso, frio e lúgubre. Vez ou outra me lembro dela, sinto que passa um furacão de emoções que destroi tudo que eu construí.
Espero não ter tomado muito tempo do seu dia.