domingo, 7 de julho de 2013

Perdão.

João sempre achou que, quando fosse chegada a indesejada das horas e ele tivesse de se encontrar com aquele senhor lá que manda em tudo, ele teria de responder muita coisa, explicar-se por outras, apenas pedir desculpas por outras inexplicáveis, mas não foi bem assim que tudo se passou.
Foi há umas duas semanas, era quarta-feira, João tinha saído cedo pro trabalho, beijou a esposa que ainda estava na cama, a Joaninha que ainda dormia porque já entrara de férias e foi junto com o Fernando (o danado tinha ficado de recuperação em português) para o carro, deixou o Fernandinho na escola com um beijo na testa e um sorriso, seguiu dali para o escritório. O escritório o aporrinhava, bons-dias amargos de café, o mesmo barulho o tempo todo do toque dos teclados de todos os trabalhadores em seus teclados repetidos o dia todo o tempo todo, o Sr. Albuquerque a encher-lhe o saco com solicitações pendentes dos nossos colaboradores em Denver para amanhã e um dossiê de tantas páginas que, ei, eles querem que você o refaça. Maldito Sr. Albuquerque. Passou a manhã vendo o relógio tiquetaquear e empoladamente tentando escrever o dossiê dos nossos colaboradores até que a mais desejada das horas chegou, 12h.
Horário de almoço cheio de sorrisos mais verdadeiros e mais largos que de menino de catorze anos quando pensa que está amando, afinal era quarta feira, dia de feijoada. Ia com os amigos do escritório para o restaurante que ficava a duas quadras abaixo. Ia, quando ia atravessar a avenida o Otávio da contabilidade gritou pra ele alguma coisa sobre o jogo da seleção, quando ouviu, parou e virou pra dizer que aquela copa era nossa, um ônibus que João achou lindo, imenso e laranja (logo logo laranja e vermelho), maior que os sonhos, as vidas de sua família ou qualquer outra coisa passou por cima dele, os que estavam lá dizem que a cena foi feia.
Chegando lá em cima, um velhinho bem barbudo lhe sorriu. João o reconheceu na hora, sabia que era chegado o momento, pensou que precisaria justificar tanta coisa, traíra sua esposa com a Lurdes, quando mais jovem fizera tanta coisa errada, era chegada a hora e ele não fazia ideia de como se justificaria. Ia abrir a boca quando, tal como o ônibus, o velho interrompeu seus pensamentos e tomou a dianteira, dizendo a ele que tudo que queria era o seu perdão.

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