sexta-feira, 25 de março de 2011

Figurantes.

-Ah, sinto-me tão só. Preciso de alguém, verdadeiramente. Ok, tenho amigos, um bocado até. Tenho minha família, é bem verdade. Minha mãe me ama e coisa e tal, mas, por Deus, não é esse tipo de amor que preciso. 
Pensou o rapaz enquanto passava directo por uma garota que também estava pensativa.
-Poxa, todas essas pessoas amontoadas aqui nessa cidade e eu não encontro nenhuma que me faça feliz? De facto, não tenho par mesmo, ninguém nunca irá querer-me.
E prosseguiram sem saber que tinham tudo em comum, que poderiam protagonizar um amor inesquecível. Seguiram sendo apenas figurantes da vida um do outro.

Figurantes.

A cena estava montada. Todos em seus devidos lugares, esperando a acção. Luzes preparadas, câmeras em posição.

O mocinho irá correr atrás da donzeladeclarar-se-á antes dela partir. Ela ficará com ele e viverão felizes até o divórcio.

"Acção!" Grita o diretor.

O rapaz corre, tromba com a multidão, salta no bonde, pula no meio do caminho, desce até o porto, fura a faixa de segurança, avista sua amada a conversar com suas amigas subindo no navio e aclama: Victória... não vá, eu te amo.


"Corta, corta, corta. Queiroz, Queiroz... o seu personagem finalmente irá revelar o amor que cultiva desde sua infância. Ele precisa estar nervoso, precisa berrar seu amor, tirar o sentimento de seu peito. Mas você... Queiroz, você só está a falar palavras decoradas."


"Desculpe-me, Carlos, atuar é falar palavras decoradas. Estou a fazer meu trabalho."


"Mas você está falando palavras mal-decoradas, Queiroz. E isso não é seu trabalho, pelo contrário."


"Quando a peça é ruim, o papel é fraco, as falas são mal-decoradas, Carlos. E eu me recuso a continuar n'uma peça tão ruim como essa. É o pior papel que já desempenhei, eu vou embora!"


E o actor desilidudo retirou-se do palco.


- Faltou alguma coisa?
- Fala pra eles que eu era uma das amigas que a Victória tava conversando!
- Aé, a Lúcia era uma das amigas que a Victória tava conversando, e eu fui um dos caras que o Pedro trombou enquanto corria.
- Foi o melhor papel que nós já fiiiizemos! Eu vi o Queiroz tão de perto, até pegamos um autógrafo.


Contaram os figurantes ao chegar em casa pois peça não haveria mais.

terça-feira, 22 de março de 2011

Normal.

Meus poemas não são de amor,
meus versos não são rimados.

Minhas estrofes não tem padrão,
minha métrica é inexistente.
Minhas musas são amores,
são horrores.
São flôres, riachos.

Não recito meus poemas para ninguém,
não escrevo para ninguém ler,
nem eu.

Gosto da dor,
aprendo mais com ela,
que com a alegria.
Mas gosto da paz.
Não precisaria aprender nada,
se o mundo todo
fosse paz.

Eu sou como qualquer rapaz.

Normal.

Eu era um bom menino.
Um menino qualquer, aliás.
Era ingénuo, estudioso, bom garoto e educado,
Respeitoso, sempre muito respeitoso.
Era um garoto anormal, talvez até anormal demais.
Eu, normal e naturalmente, era um deslocado,
Visto que gostava de coisas alternativas, vestia-me diferente
E escrevia poesia.
Mas deixava estar, vivia minha vida com amigos diferentes como eu
E assim seguia minha vida, normalmente.

Eu não gostava de ser um deslocado
E, normalmente, tive minhas tentativas de enturmamento, admito.
Não nego que gostaria de ser alguém,
Alguém importante.
Gostaria que soubessem meu nome, adoraria ser notado...
Notado por um bom motivo, obviamente,
E não como "aquele garoto estranho".
Seria amável que gostassem de mim.

De uns tempos pra cá, mudei.
Virei um pouco mais normal - não que eu saiba o que ser
Normal significa - e fui mais aceito.
Tornei-me algo parecido com um descolado,
Critique se quiser,
Tinha muitos amigos, - mas não sei quantos eram verdadeiros - eu
Era aceito por outros - mas não por mim mesmo - e, a cada dia
Me tornava uma contradição ainda maior.

Hoje nem sei mais o que sou.
Se sou normal ou não, - mesmo continuando sem saber
O que normal significa - de que grupo faço parte, ou qualquer
Outra coisa.
Mas acho que estou melhor assim. Sem preocupações,
Sem tentar me adaptar, sendo só eu.
Fazendo tudo que é normal e natural,
Ao menos para mim,
Mas se eu não agradasse a mim mesmo,
A quem agradaria?

sexta-feira, 18 de março de 2011

A valsa.

Contigo eu até valsaria, certo que eu o faria. É claro que nunca fui um dançarino, não, de modo algum. Tenho dois pés esquerdos e isso não é segredo nenhum. Mas contigo eu dançaria, certo que não te negaria.
Dancemos então, minha querida, dancemos por toda nossa vida. Eu, tolo e sem jeito. Tu, a bailar de modo perfeito. Mas dancemos, dancemos e os deixemos. Deixemos o mundo, deixemos a todos. Por apenas um segundo, sejamos só nós dois.
Tu em meus braços. Eu sou teu. Sigo teus passos, sinto-me no céu. O mundo gira, (ou somos nós que giramos?) e és minha. Nós continuamos, e a esse ponto eu sequer sei se há mundo a nossa volta. Mas tens de ir e o meu corpo do teu se solta.
Contigo eu até valsaria. Por ti tudo eu faria.

A valsa.

O sol estava se apagando, as janelas eram invadidas por uma luz alaranjada, ele a olhava, ela disfarçava. Ele a tomou nos braços, e o mundo de repente parecia um sonho, fruto de sua imaginação. A música começou. Ele a puxou mais para perto e a conduziu. Seus passos eram ritmados, seus corpos colados. Ele a carregava, ela praticamente não precisava fazer nada, era como se somente um estivesse dançando, como se fossem um. A música continuava, cada vez mais devagar. O sol se escondia, cada vez mais crepuscular. A noite já começava a aparecer, o céu começava a se enfeitar de estrelas. A única luz agora vinha da lua altaneira, e ela assistia ao casal. Os dois valsavam. ele não podia estar mais feliz por poder dançar n'uma bela noite como essa. Não havia mais ninguém lá, todos partiram, somente os dois restavam. A luz lunar brilhava de acordo com a música, nunca os perdendo de vista. A noite foi aumentando, a música agora tinha o ritmo do bater de seus corações. Ele sentia como se dançasse nas nuvens, sentia como nunca que só podia estar sonhando. Até que alguém chamou seu nome. Mas ele não ouviu, estava muito distante, não podia acabar com esse momento. - Carlos! - A voz insistiu. Carlos saiu então de sua transe, a música parou, o salão mudou. - Carlos! Quantas vezes eu vou falar pra você parar com sua dancinha, largar de ficar enrolando e terminar logo de varrer tudo por aqui?! Ele colocou sua parceira no chão e continuou a varrer. Mas por uns bons minutos ele foi feliz.

terça-feira, 15 de março de 2011

Mentiras

"Eu te amo, não te trocaria por ninguém.
Estamos bem, eu te amo.
É pra sempre,
sem você não sigo em frente.
Eu não vivo sem você,
e nunca irei te esquecer."
"Eu preciso pensar bem.
Estou confusa.
Eu quero um tempo.
O problema sou eu,
de verdade."
"Eu ainda quero sua amizade."