sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Nós somos feios, nós estamos salvos.

Do alto de nossa baixeza, do topo do fundo do poço, os víamos.
Imponentes, altaneiros, sempre o centro das atenções.

Eles são lindos, são fortes, são perfeitos.
Somos feios, somos fracos, somos defeituosos.

Veja só aquele, como é incrível, voa tão alto, brilha como o Sol, corre como o vento. É magnífico, até cair. E cai. cai. cai. Uma queda tão horrível, que não posso evitar de fechar os olhos - outrora focados apenas e sempre nas fantásticas criaturas -, ouço um som de ossos a se espatifar.
Veja só você, não, não veja, não ligo, não ligamos.

Voam, com graça, depressa, para o alto, para frente. Mas uma hora caem, se pararmos para pensar, sempre caem. A maioria, sempre cai, raros são os que planam para sempre, encontrar um lugar ao sol, no topo do Olimpo.

Cai, cai, cai. Caiu lá embaixo, na fenda que nem mesmo nós temos a coragem de entrar, onde criaturas abomináveis residem, gritam, choram. E quando cai, não levanta, mas se levanta, levanta com semblante tão grotesco, que empurramos, enxotamos, chutamos, xingamos, cuspimos de volta. Sai daqui, monstruosidade, não és digna nem de nós. Se cai - ou quando -, é melhor esquecer.

Voo breve, voo curto, se comparado à eternidade no abismo, no infinito da humilhação.
Que bom que não voamos.

Nós somos feios, nós estamos salvos.

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